“Eles não podem me convidar para fazer essa peça. Não tenho histórico.” Por incrível que pareça, foi isso que Tarcísio Meira pensou quando o ator e produtor Kiko Mascarenhas e o diretor Ulysses Cruz o procuraram com a proposta para fazer O camareiro. O espetáculo, indicado a seis categorias no Prêmio Shell (o principal das artes cênicas do país), inclusive melhor ator para Tarcísio, chega a Belo Horizonte hoje.
Não ter histórico é modo de dizer. Como todos os atores de sua geração, o marido de Glória Menezes começou a carreira nos palcos. Fez clássicos, comédias. Quando virou o galã da TV, a intensidade teatral diminuiu. “Fiz pouco e fiz um teatro mais popular, leve, porque achava que tinha esse compromisso”, conta. Levou espetáculos ao país inteiro até que a rotina na televisão se incompatibilizou com a vida mambembe. Vinte anos se passaram.
Por isso, o convite foi uma surpresa. Tarcísio pediu um tempo para ler o texto. Bastou conhecer Sir, o veterano ator à beira de um ataque nervos antes de interpretar Rei Lear, que disse sim ao próprio retorno ao tablado. “Os personagens da nossa peça são muito especiais porque são atores que fazem papéis de Shakespeare. Isso é fascinante”, elogia.
O camareiro tem texto de Ronald Harwood, dramaturgo nascido na África do Sul, radicado na Inglaterra, da mesma geração de Tarcísio Meira, hoje com 80 anos. O autor transita entre cinema e teatro. O texto do espetáculo virou filme protagonizado por Albert Finney, em 1983, quando Harwood recebeu a primeira indicação ao Oscar. Ganhou a estatueta nove anos depois com a adaptação de O pianista (2002). Ambas são tramas que refletem os impactos da Segunda Guerra Mundial nas artes.
No caso da peça, Sir lidera sua companhia teatral com mãos de ferro. Já com a saúde debilitada e senil, conta com a ajuda do camareiro Norman. É ele quem se desdobra para ajudar o patrão a se lembrar das falas de Lear. “Parece que o próprio autor foi o camareiro e estava muito por dentro das problemáticas dos bastidores do teatro. Sir é um ator que tem o compromisso com o teatro e com Shakespeare”, explica Tarcísio.
A opção do diretor Ulysses Cruz foi contar a história sempre do ponto de vista da coxia. “Na nossa montagem, você não consegue ver Rei Lear, só ouve. Vê os personagens quando saem de cena”, conta Kiko Mascarenhas, o intérprete de Norman. Segundo ele, tanto o camareiro como Sir estão a serviço da história do teatro.
Apesar da carga dramática, Mascarenhas diz que o desafio de interpretação da montagem são as viradas de clima. “Meu empenho é fazer com que essa chave do humor e do drama seja virada muito rapidamente. Ao mesmo tempo em que a plateia ri muito, as pessoas se emocionam”, detalha Mascarenhas. Também estão no elenco Lara Córdula, Karen Coelho, Silvio Matos, Ravel Cabral e Analu Prestes.
O intérprete do camareiro se surpreende com a contundência de algumas passagens do texto. Segundo Mascarenhas, há momentos em que o texto parece ter sido escrito pelo próprio Tarcísio Meira. Por exemplo, quando Sir se questiona sobre o que o mantém no palco. Diferentemente dos reis que abdicam de seus tronos – como é o caso de Rei Lear –, ele não consegue fazer o mesmo por amor ao ofício. O cenário do mineiro André Cortez foge da recriação realista da coxia. “São módulos que vão se transformando nos corredores do teatro”, conta Kiko. Os mobiliários de cena remetem aos anos 1920 e 1930.
Mesmo tendo ficado anos afastado da rotina do teatro, Tarcísio Meira afirma que não encontrou tantas mudanças, a não ser evoluções técnicas nos maquinários. “Teatro é teatro. O público sabe que vai participar de um jogo de faz de conta”, afirma. No caso de O camareiro, o ator define a montagem como uma peça convencional. “Mas que chega muito facilmente ao público. É envolvente”, garante.
O camareiro tem 120 minutos de duração, com intervalo de 15 minutos. A peça estreou em março do ano passado. Foi reconhecida com o prêmio Qualidade Brasil 2015 e compete nas categorias direção (Ulysses Cruz), ator (Tarcísio Meira), cenário (André Cortez), figurino (Beth Filipeck e Renaldo Machado), iluminação (Domingos Quintiliano) e música (Rafael Langoni Smith e Laércio Salles) ao Prêmio Shell.
O Camareiro
Peça de Ronald Harwood, com direção de Ulysses Cruz. Com Tarcísio Meira, Kiko Mascarenhas e elenco. Hoje, às 20h, e amanhã, às 19h. Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. Primeiro lote: R$ 80 (inteira), R$ 40 (meia). Segundo lote: R$ 90 (inteira) R$ 45 (meia).
. Não ter histórico é modo de dizer. Como todos os atores de sua geração, o marido de Glória Menezes começou a carreira nos palcos. Fez clássicos, comédias. Quando virou o galã da TV, a intensidade teatral diminuiu. “Fiz pouco e fiz um teatro mais popular, leve, porque achava que tinha esse compromisso”, conta. Levou espetáculos ao país inteiro até que a rotina na televisão se incompatibilizou com a vida mambembe.
Por isso, o convite foi uma surpresa. Tarcísio pediu um tempo para ler o texto. Bastou conhecer Sir, o veterano ator à beira de um ataque nervos antes de interpretar Rei Lear, que disse sim ao próprio retorno ao tablado. “Os personagens da nossa peça são muito especiais porque são atores que fazem papéis de Shakespeare. Isso é fascinante”, elogia.
O camareiro tem texto de Ronald Harwood, dramaturgo nascido na África do Sul, radicado na Inglaterra, da mesma geração de Tarcísio Meira, hoje com 80 anos. O autor transita entre cinema e teatro. O texto do espetáculo virou filme protagonizado por Albert Finney, em 1983, quando Harwood recebeu a primeira indicação ao Oscar. Ganhou a estatueta nove anos depois com a adaptação de O pianista (2002). Ambas são tramas que refletem os impactos da Segunda Guerra Mundial nas artes.
No caso da peça, Sir lidera sua companhia teatral com mãos de ferro. Já com a saúde debilitada e senil, conta com a ajuda do camareiro Norman. É ele quem se desdobra para ajudar o patrão a se lembrar das falas de Lear. “Parece que o próprio autor foi o camareiro e estava muito por dentro das problemáticas dos bastidores do teatro. Sir é um ator que tem o compromisso com o teatro e com Shakespeare”, explica Tarcísio.
A opção do diretor Ulysses Cruz foi contar a história sempre do ponto de vista da coxia.
Apesar da carga dramática, Mascarenhas diz que o desafio de interpretação da montagem são as viradas de clima. “Meu empenho é fazer com que essa chave do humor e do drama seja virada muito rapidamente. Ao mesmo tempo em que a plateia ri muito, as pessoas se emocionam”, detalha Mascarenhas. Também estão no elenco Lara Córdula, Karen Coelho, Silvio Matos, Ravel Cabral e Analu Prestes.
O intérprete do camareiro se surpreende com a contundência de algumas passagens do texto. Segundo Mascarenhas, há momentos em que o texto parece ter sido escrito pelo próprio Tarcísio Meira. Por exemplo, quando Sir se questiona sobre o que o mantém no palco. Diferentemente dos reis que abdicam de seus tronos – como é o caso de Rei Lear –, ele não consegue fazer o mesmo por amor ao ofício. O cenário do mineiro André Cortez foge da recriação realista da coxia.
Mesmo tendo ficado anos afastado da rotina do teatro, Tarcísio Meira afirma que não encontrou tantas mudanças, a não ser evoluções técnicas nos maquinários. “Teatro é teatro. O público sabe que vai participar de um jogo de faz de conta”, afirma. No caso de O camareiro, o ator define a montagem como uma peça convencional. “Mas que chega muito facilmente ao público. É envolvente”, garante.
O camareiro tem 120 minutos de duração, com intervalo de 15 minutos. A peça estreou em março do ano passado. Foi reconhecida com o prêmio Qualidade Brasil 2015 e compete nas categorias direção (Ulysses Cruz), ator (Tarcísio Meira), cenário (André Cortez), figurino (Beth Filipeck e Renaldo Machado), iluminação (Domingos Quintiliano) e música (Rafael Langoni Smith e Laércio Salles) ao Prêmio Shell.
O Camareiro
Peça de Ronald Harwood, com direção de Ulysses Cruz. Com Tarcísio Meira, Kiko Mascarenhas e elenco. Hoje, às 20h, e amanhã, às 19h. Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. Primeiro lote: R$ 80 (inteira), R$ 40 (meia). Segundo lote: R$ 90 (inteira) R$ 45 (meia).