

Um conjunto de paisagens realizadas nos anos 2000 por Paulo Miranda, mineiro de Uberaba, está em cartaz no Centro Cultural UFMG. São 27 obras. No primeiro espaço, há basicamente abstrações criadas com vários materiais e técnicas evocando cidades e interiores. Nos demais espaços, há séries cujo motivo é o horizonte e tudo o que ele evoca. A proposta da curadoria, assinada pelo historiador Rodrigo Vivas, é a imersão na linguagem do artista a partir de obras que não abandonam inteiramente a associação com a imagem do mundo, voltando-se também para estudos sobre abismos.
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Há cerca de duas décadas, Paulo Miranda trabalha a poética do resíduo, da rasura, do ruído e da aresta. Os trabalhos trazem imagens criadas com colagens, gestos, impressões, materiais e pigmentos, que instauram um jogo de presenças e ausências intensamente físico, fazendo da superfície da tela algo como uma área de trabalho em permanente estado de inconclusão.
Mais que geografia, as paisagens de Paulo Miranda se voltam para descortinar um horizonte. Descrito com o jargão da fenomenologia, esse conceito sintetiza memória, imaginação, lembranças, experiências empíricas, éticas, religiosas, históricas e psíquicas tanto do ofício quanto da representação, implícita ou explícita. Observar as peças do artista é se deixar levar por “acidentes” visuais, vindos do processo de realização da obra, oferecendo-se como experiência que não separa prática e pensamento. Por isso mesmo, não há um tom estético que possa ser generalizado.
Há momentos de beleza e outros que sugerem a aridez do mundo. Às vezes, o detalhe ganha relevância em imagem que trabalha a monumentalidade. Alguma nostalgia sinaliza mais o presente do que a saudade do passado. A fratura traz a antevisão da unidade, a imagem tanto atrai quanto repele observação figurativizante. O que se apresenta, de fato, são oscilações, as muitas pulsações emocionais de um observador. Por isso mesmo, melhor considerar – e curtir – o entrelaçamento de questões do que apenas um aspecto. Até porque, é isso que dá sabor ao trabalho de Paulo Miranda.
PAULO MIRANDA
Exposição Imersão e fúria. Centro Cultural UFMG. Av. Santos Dumont, 174, Centro, (31) 3409-8290. De terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábado e domingo, das 10h às 18h. Até 17 de abril.