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Narrativa mistura memória e thriller

Mário Alves Coutinho lança hoje 'A explosão e o suspiro'

Primeiro romance do autor é repleto de referências à sua geração

André Di Bernardi Batista Mendes
O mineiro Mário Alves Coutinho acaba de lançar, pela Série Outras Grafias, da Editora Tipografia Musical, seu primeiro romance, A explosão e o suspiro ou um corpo que cai.
Graduado em psicologia, doutor em literatura comparada, com pós-doutorado na UFMG, Coutinho, que nasceu em Campo Belo, faz valer sua formação e utiliza uma extensa erudição para construir um romance correto, repleto de idas e vindas, lacunas, abismos, um romance feito de teias que se cruzam, um romance escrito sem pedantismo, mas com uma linguagem peculiar, cheia de melodia, longe do exagero e da verborragia.

O leitor é fisgado para dentro da história de Eduardo, o personagem-narrador. Em poucas palavras, o livro conta as peripécias de um tradutor literário, nos seus últimos dias de vida, que tem algo de muito importante para revelar à filha, Antônia, sua interlocutora. Mário Alves mostra essa trajetória e monta uma trama muito bem alivanhada desde a infância e a adolescência de nosso “herói” em Minas Gerais até o Rio pós-64, passando pelo contato com grupos de resistência e a luta armada. Ferido num assalto e cuidado por sua companheira Iolanda, ele vai para o Chile e, dali, para a Austrália, pouco antes da queda do presidente socialista Salvador Allende. Ali nasce Antônia.

FRAGMENTOS Juntando fragmentos de frases de vários autores, pleno de colagens e citações, Mário Alves constrói um mosaico repleto de intertextualidade, tendo a imagem como fonte e referência constantes. Não por acaso, o livro é dedicado a Jean-Luc Godard. Vale lembrar: Mário Alves Coutinho também é crítico e ensaísta de cinema.
“Mas o que será exatamente, então, este relato, esta narração? Uma carta? Uma confissão? Um testamento? Um diário? Biografia? Memória? Talvez tudo isso ao mesmo tempo, e tudo isso ao mesmo tempo não seria um romance?”, pondera, num dado momento, o narrador do livro.

Mário Alves também não deixa de lado um tanto de ousadia, tudo na medida certa, quando, ao longo das veredas propostas, inclui ali um toque sutil, apimentando a trama com boas doses e belos momentos de um erotismo forte. “O livro trata de um momento crucial da história brasileira: a luta armada contra a ditadura militar, na década de 1960. Um homem e uma mulher ficam fechados num aparelho, sem comunicação com o mundo. Acontece o que sempre se pode prever numa situação como essa. Eles têm que se exilar em outro país: primeiro é o Chile, depois, a Austrália. Um pouco da história do Brasil e do mundo desfila diante de nossos olhos. Resumindo: trata-se de uma tentativa de releitura, num romance moderno, das Tragédias do ciclo tebano, de Sófocles”, ele explica.

O autor fala também sobre os caminhos dessa história. “O que me levou a escrever esse romance foi um roteiro cinematográfico que escrevi alguns anos atrás. O roteiro havia sido escrito a partir do que os franceses chamam fait divers, isto é, uma notícia de jornal (mãe que havia entrado na guerrilha urbana com dois filhos). Mudei razoavelmente a história original, realmente acontecida, assim como transformei o roteiro extensamente. Desde o momento em que comecei a escrever o roteiro, sabia que faria o romance. Passaram-se muitos anos, mas realmente o escrevi”, finaliza.

A EXPLOSÃO E O SUSPIRO OU UM CORPO QUE CAI
• De Mário Alves Coutinho
• Editora ETM, 280 páginas, R$ 54
• Lançamento: Hoje, a partir das 11h, na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi, 3227-3077)
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