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Elas por elas

Artistas contam o que há para se comemorar no Dia Internacional da Mulher

Walter Sebastião

Clichês, incompreensão e uma multiplicidade de questões complexas fizeram com que as artistas ouvidas nesta reportagem tivessem prudência na hora de responder a uma pergunta: o que há para comemorar no Dia Internacional da Mulher?.

Mas, passada a desconfiança, todas responderam que há, sim, motivos para celebrar a data.

Sejam as conquistas históricas de direitos – vindas de um século de reivindicações que mudou a face da cultura e da sociedade – seja a proliferação de filmes, livros, peças de teatro e outras manifestações que enfrentam hábitos, distorções e crimes que precisam ser combatidos, entre eles a violência de gênero, o assédio sexual, os desequilíbrios no acesso a postos profissionais e remuneração em vários setores, o fato de as tarefas domésticas recaírem quase exclusivamente sobre meninas e mulheres e os julgamentos a partir de aparências. Ainda há muito a percorrer, avisam, mas questões importantes têm sido colocadas para debate e reflexão – e não só entre mulheres. - Foto: Sundance Film Festival/Divulgação


ANNA MUYLAERT
cineasta


O ano de 2015 foi produtivo no sentido de uma maior consciência do papel e da posição das mulheres na sociedade. Movimentos como Meu amigo secreto, Primeiro assédio, Agora é que são elas, entre outros, deram visibilidade à discussão sobre os mecanismos sutis, invisíveis do machismo, o que é importante para desarmá-los. A mulher, e não só no Brasil, já não está suportando mais o sexismo.
Ter experiência, capacidade e não ganhar um cargo de chefia por ser mulher é humilhante. Discute-se o fato de a maioria dos protagonistas dos filmes e dos diretores ser homens. Não queremos só acesso ao mercado, mas o crédito, o reconhecimento pelo que fazemos.

 

 

 

NOEMI JAFFE
escritora


Nada revolucionário, mas pequenas mudanças no bom sentido, vários avanços. As propostas de Eduardo Cunha no sentido de proibir as mulheres estupradas de recorrer ao SUS e contra o aborto fizeram com que se criasse coalizão de mulheres com vários perfis.

Saíram às ruas, fizeram manifestações, o que fez avançar outros temas, como a questão do assédio. E isso foi muito positivo. Muitos homens, de várias classes sociais, e mesmo as mulheres estão se conscientizando do que o assédio significa e do quanto ele é invasivo. Então, temos o que comemorar. O caminho a percorrer ainda é grande, mas avançamos.

LAERTE COUTINHO
chargista


Nem toda comemoração é festa e triunfos. Às vezes, é só um dia que celebra a força, a consciência, a luta. Na minha modesta opinião, o Dia Internacional da Mulher não é um tesouro só das mulheres, mas da humanidade. A luta feminista, que é pela libertação de uma cultura que é opressiva também para os homens, produziu muitos resultados e conquistas para a humanidade inteira.Acho, inclusive, que os homens deveriam pensar sobre isso, colher frutos disso. O dia 8 de março é festa da consciência crítica, de reflexão sobre vitórias, derrotas, dificuldades para avançar. Para mim, tem sentido amplo.
A cantora carioca radicada em Minas Aline Calixto diz que tem muito a se celebrar neste 8 de março - Foto: Henrique Falci/Divulgação

ALINE CALIXTO
cantora


Temos muita coisa para comemorar, sim. Uma delas é a força que tem tomado a voz das mulheres. O coro engrossou e não está passando mais despercebido, mais mulheres estão tendo consciência do seu papel na sociedade. Estamos conseguindo colocar nossas pautas.
Como a igualdade de direitos e isso é ouvido. Nas rádios, o número de artistas homens que toca ainda é maior. Ainda podemos conseguir mais espaço nas rodas de samba. Muitas coisas ainda precisam ser mudadas. Muita pedra ainda está por ser quebrada, mas estamos no caminho.

ANA MARTINS MARQUES
poetisa e doutora em literatura


As conquistas históricas, como o direito ao voto, à igualdade jurídica, à educação, ao divórcio, à licença-maternidade, não foram obtidas sem luta. O sucesso do Bolsa-Família, que elege as mulheres como responsáveis preferenciais do benefício, e do Minha casa, minha vida, em que a titularidade dos imóveis é dada preferencialmente às mulheres, contribuem para promover a emancipação, a dignidade e a cidadania das mulheres.

Acho importante a resposta rápida, assertiva e alegre de mulheres, organizadas ou não em entidades e movimentos sociais, às tentativas capitaneadas pelo deputado Eduardo Cunha de tornar ainda mais restritiva, cruel e ofensiva à autonomia das mulheres a já incrivelmente ultrapassada legislação nacional sobre o aborto. Cada vez mais meninas se reconhecem como feministas a partir de encontros, conversas e a possibilidade de organização aberta pelas redes sociais.

No meio literário, há preocupação com o modo como questões de gênero interferem na visibilidade conferida a um livro ou autor e tentativas de resgatar e promover a literatura escrita por mulheres por movimentos como o Leia Mulheres.

TALITA BRAGA
atriz e fundadora do Cia. Zula de Teatro


Estamos ganhando espaços de expressão para falar da nossa falta de espaço para falar como mulher, profissional, para poder pensar se o nosso destino é mesmo só casar e ser mãe. No cinema, há uma explosão de filmes sobre essas questões. As questões de gênero são muito trabalhadas no teatro, blogueiras ativistas estão formando redes e fazendo a informação circular mais rápido.

Estão se fortalecendo espaços de voz da mulher.
Uma menina de short ser expulsa da escola e isso aparecer nas redes sociais traz a sensação de que não estamos sozinhas no mundo. Ainda é privilégio da classe média, mas a discussão está acontecendo em outros contextos e não é mais conversa de artista.

CLARA LIMA
rapper


A facilidade de ir e vir, poder escolher o que fazer, falar como eu quiser, ir aonde quero ir. Para conseguir isso, para ter acesso a essas coisas, lugares e posições, muitas meninas passaram perrengue, passaram apertado. Unindo, nos fortificamos. Acho importante lembrar que qualquer causa que junta pessoas em torno da ideia do certo pelo certo, como é a luta das mulheres, tem resultados muito positivos. Não podemos dizer que atualmente não há obstáculos, preconceitos, limites, mas hoje as coisas estão mais fáceis. Ou melhor, menos difíceis.

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