Memória é como poeira, acreditava Sergio Britto (1923-2011), um dos maiores atores brasileiros. A camada mais inferior está assentada e praticamente nada se perde. Já a de cima é solta, facilmente levada pelo vento. Com as lembranças teatrais firmes na cabeça, Britto era imbatível ao puxar recordações do palco - até sofrer uma hemorragia cerebral.
“Paulinho, agora você vai me ajudar a organizar o meu pensamento”, disse ele ao sobrinho, Paulo César Britto, que passou a coletar um precioso relato de uma figura central de boa parte da história do teatro brasileiro a partir da segunda metade do século passado. O resultado é Memória a Dois, diálogo em forma de relato que Britto fez ao sobrinho e agora é editado pela Funarte. O livro será lançado nesta segunda, 7, à noite, na Livraria da Vila.
A obra começou a surgir no período em que o ator estava internado, entre abril e maio de 2011. “Todos os dias, bem cedo, eu levava a bandeja com o café da manhã para seu quarto. Ele já estava me esperando acordado. Como num ritual, eu colocava a bandeja em seu colo, sentava numa cadeira à sua frente e começava a escrever os textos que ele ia ditando. Sempre respeitando as pausas, as reflexões, os silêncios”, observa Paulo César, no texto de apresentação.
Memória a Dois traz reproduções de textos escritos pelo ator em um caderno, exibindo uma caligrafia redonda, caprichada. Exibe ainda rascunhos de desenhos, muitos rostos femininos. “Sergio escreve ao papel e, a fac-símile, expressa de forma emocionante o esforço de ordenação a partir do caos. Palavras soltas, espaços e, por fim: ‘hoje é sábado’. Um início de ordenação temporal”, comenta Walter Boechat, também autor de um texto introdutório.
Paulo lembra que, no início, eram monólogos, que, aos poucos, foram se transformando em pequenos diálogos, algumas “provocações”, como dizia o ator. “Às vezes, eu colocava o caderno em suas mãos. Outras vezes, ele pegava o caderno e escrevia. Importante lembrar que os encontros muitas vezes eram longos, mas outras vezes curtos. O tempo era determinado por seu estado físico. Sergio ainda estava em recuperação.”
O sobrinho se lembra dos esforços mentais do tio para manter coerência. “Ao mesmo tempo em que ditava, ele me pedia que o ouvisse. Que compactuasse com ele aqueles momentos em que jorravam ininterruptamente pensamentos, imagens, reflexões, opiniões. Era doído ouvir suas falas, mas era claro para mim que por meio deste livro, Sergio estava fazendo um caminho de volta à vida.”
No final, o livro traz um maravilhoso álbum de recordações, com momentos marcantes da vida e da arte de Sergio Britto.
“Paulinho, agora você vai me ajudar a organizar o meu pensamento”, disse ele ao sobrinho, Paulo César Britto, que passou a coletar um precioso relato de uma figura central de boa parte da história do teatro brasileiro a partir da segunda metade do século passado. O resultado é Memória a Dois, diálogo em forma de relato que Britto fez ao sobrinho e agora é editado pela Funarte. O livro será lançado nesta segunda, 7, à noite, na Livraria da Vila.
A obra começou a surgir no período em que o ator estava internado, entre abril e maio de 2011. “Todos os dias, bem cedo, eu levava a bandeja com o café da manhã para seu quarto. Ele já estava me esperando acordado. Como num ritual, eu colocava a bandeja em seu colo, sentava numa cadeira à sua frente e começava a escrever os textos que ele ia ditando. Sempre respeitando as pausas, as reflexões, os silêncios”, observa Paulo César, no texto de apresentação.
Memória a Dois traz reproduções de textos escritos pelo ator em um caderno, exibindo uma caligrafia redonda, caprichada. Exibe ainda rascunhos de desenhos, muitos rostos femininos. “Sergio escreve ao papel e, a fac-símile, expressa de forma emocionante o esforço de ordenação a partir do caos. Palavras soltas, espaços e, por fim: ‘hoje é sábado’. Um início de ordenação temporal”, comenta Walter Boechat, também autor de um texto introdutório.
Paulo lembra que, no início, eram monólogos, que, aos poucos, foram se transformando em pequenos diálogos, algumas “provocações”, como dizia o ator. “Às vezes, eu colocava o caderno em suas mãos. Outras vezes, ele pegava o caderno e escrevia. Importante lembrar que os encontros muitas vezes eram longos, mas outras vezes curtos. O tempo era determinado por seu estado físico. Sergio ainda estava em recuperação.”
O sobrinho se lembra dos esforços mentais do tio para manter coerência. “Ao mesmo tempo em que ditava, ele me pedia que o ouvisse. Que compactuasse com ele aqueles momentos em que jorravam ininterruptamente pensamentos, imagens, reflexões, opiniões. Era doído ouvir suas falas, mas era claro para mim que por meio deste livro, Sergio estava fazendo um caminho de volta à vida.”
No final, o livro traz um maravilhoso álbum de recordações, com momentos marcantes da vida e da arte de Sergio Britto.