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Nova biografia

'Elis - Uma biografia musical' prima pela fluência e acuidade

Obra do gaúcho Arthur de Faria é fruto de 30 anos de pesquisa

Kiko Ferreira
Uma dica para quem gosta de música popular e terá, nos próximos dias, umas férias, um feriado, um fim de semana com tempo para leitura.
Elis – Uma biografia musical (Arquipélago), do gaúcho Arthur de Faria, tem 272 páginas e merece ser lido de um fôlego. Se possível, ouvindo os discos da Pimentinha.


Mais recente publicação sobre a cantora, que a maioria dos críticos e pesquisadores considera a maior voz da música brasileira contemporânea, o livro é resultado de três décadas de trabalho. Compositor e músico brilhante, Arthur exerce aqui talentos complementares. O de radialista, pela fluência, linguagem fácil e visão musical. O de jornalista, por ter realizado boas entrevistas, procurado muitas e boas fontes e ter exercitado os talentos de repórter. E de pesquisador, responsável por um amplo estudo sobre a música popular do Rio Grande do Sul, que vem sendo disponibilizado pela internet e deve virar livro(s) um dia.


Qual a principal vantagem do trabalho, além da consulta a dezenas de fotos e documentos, de trechos de entrevistas reveladoras e esclarecimento de controvérsias históricas? A de que Arthur, como bom gaúcho, conhece bem sua terra e seus personagens. E oferece uma visão única da formação da cantora e de sua trajetória, principalmente até os 19 anos, quando deixou Porto Alegre para morar no Rio, em 1964 (e aí já desmente o folclore de que ela chegou à Guanabara exatamente em 31 de março, quando o golpe militar se tornava real).

Com boas imagens, descrições de casos, lugares e fatos que surgiram após entrevistas com personagens encontrados pelo olhar de um gaúcho de Porto Alegre, o autor revela afeto e faro jornalístico. Apresenta bom equilíbrio entre a narração de acontecimentos, a especulação sobre sentimentos e emoções e as relações de causas e efeitos na trajetória da conterrânea.


Elis – Uma biografia musical vem se juntar a outros três trabalhos de configurações diferentes (que ele cita eventualmente): o primeiro foi a biografia lançada pela Editora Tchê, em 1984, na série Esses gaúchos, escrita por Zeca Kiechaloski e que não ultrapassou as fronteiras do Rio Grande do Sul de maneira mais efetiva; o segundo, Furacão Elis, de Regina Echeverria, já está em sua quarta versão ampliada (a primeira edição é de 1985, três anos após a morte da cantora); e Elis Regina – Nada será como antes, que Júlio Maria lançou em março de 2015. Regina era amiga e fez um trabalho de fôlego, afetuoso e cuidadoso. Júlio foi técnico, e fez um trabalho cheio de minúcias, descrições detalhadas e que alguns consideram a biografia mais completa e autorizada pela família. A versão de Arthur não é a mais emocionada, não é mais detalhada, não é oficial. Mas acrescenta muito ao que já se sabia, aponta coincidências e incongruências (inclusive, contrapondo declarações divergentes da própria cantora e dos personagens que lidaram com ela) e garante ao leitor um texto fluente, saboroso e informativo. Se puder, leia os quatro.

 

 

Elis – Uma biografia musical
l De Arhur de Faria
l Arquipélago, 272 páginas, R$ 46

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