Noviello conta que, para a mostra do Museu Mineiro, escolheu com a filha Maria o que acha representativo da carreira. O material vem de acervo de família e abarca diversas séries. “E, por isso, é mostra que traz meu olhar pessoal sobre o que fiz”, acrescenta. Vai estar na mostra material inédito, dos primeiros tempos de artista.
Décio Noviello é autodidata. “Comecei desenhando em canto de caderno de escola, o que meu pai censurava, porque achava que eu tinha de estudar e não ficar desenhando”, recorda. Aos 20 anos, encantou-se com a pintura a óleo, tanto que uma tia lhe deu de presente uma caixa de tintas, “de boa qualidade”. Os primeiros trabalhos, segundo definição do artista, são obras acadêmicas, clássicas. “Queria ser o Edgar Walter, fazer retratos perfeitos como a Mona Lisa, mas não consegui”, explica. Vê, então, em salão da prefeitura, obras com linguagens pop. “E pensei: isso eu consigo fazer. E ganhei um prêmio com uma mulher verde entre sinais de trânsito, que está na exposição”, observa.
“Na verdade, fiz o que estava dentro de mim. E aconteceu de ser época em que a linguagem era de pinceladas coloridas. Simplifiquei o que estava por aí e disseram que eu era pop. Mas nem sabia o que era isso. Continuei com essa linguagem porque era o meu jeito, não por escolha”, conta Noviello.
O mineiro foi um dos participantes da exposição Do corpo a terra, curadoria de Frederico Moraes, de 1970, concebida para a inauguração do Palácio das Artes e, atualmente, um marco histórico da vanguarda brasileira. “Sem saber o que fazer, em momento em que só se ouvia falar em vanguarda, abri granadas de sinalização coloridas no parque municipal. Não era bem protesto, mas mais uma intervenção na paisagem. Cansado de ver árvores verdes, as pessoas viram, de repente, uma vermelha”, narra. “Sou de temperamento atrevido. Em todos os momentos da arte, meti o bedelho. Só agora vejo que fiz trabalhos que marcaram época”, observa, contando que nada foi feito com essa intenção.
O artista, falando dos desenhos, explica que vão ser mostrados croquis dos trabalhos, sejam pinturas ou feitos para teatro.
Noviello conta que o andamento da produção foi no sentido de ir “sintetizando, purificando, deixando de lado, cada vez mais, o desnecessário. Acho, inclusive, que tal caminho é natural em qualquer artista”. Está sempre fazendo “algum servicinho”, no momento algumas aquarelas. “É um prazer que não me recuso”, observa. “Quem quer fazer arte, deve procurar fazer com o coração. Se ficar acompanhando modismo não acontece nada. Arte é algo que vem do íntimo da pessoa, feito com sensibilidade e que consegue transmitir emoções pessoais. Se quem faz poesia usa as palavras, quem faz arte usa cores, formas”, defende Décio Noviello, avisando que se considera pintor mais do que artista.
Décio Noviello: Acontecimentos
Exposição com desenhos, pinturas e objetos. No Museu Mineiro, Av. João Pinheiro, 342, Funcionários, (31) 3269-1103. Terça, quarta e sexta-feira, das 10h às 19h; quinta, das 12 às 21h; sábado e domingo, das 12h às 19h. Até 3 de abril. Entrada franca..