Leva o nome de Rapunzel a instalação que Flávia Bertinato, de 35 anos, está apresentando na sala dedicada à arte contemporânea do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro.
Rapunzel é composta por carretéis, presos às paredes, onde estão enroladas tranças, tendo em meio à trama tesouras cirúrgicas, que se ligam de forma arbitrária ou de modo precário umas às outras. Remete à cena do conto dos irmãos Grimm em que a bruxa corta os cabelos da moça presa na torre para que ela não se encontre com o namorado.
Lanternas apontadas para o material criam ritmos visuais ao piscar sobre ele. Ambas as instalações, observa a artista, colocam diante do espectador determinado momento de uma situação. E buscam diálogo com o entorno, discutindo o objeto de arte e interpelando as narrativas.
“O trabalho pode ter várias leituras. Não ofereço ao espectador uma interpretação.
O interesse por pontuar, evidenciar e criar tensões está presente em várias de suas peças, como ela cita. Boa noite, Cinderela (2008-2010), exibida na galeria Celma Albuquerque (BH), tirava a serenidade de fotos de pessoas dormindo com um título que alude à prática criminosa de se dopar pessoas para roubá-las. A intervenção Alarme falso (2004) acionava luz forte sobre escada de acesso a outras dependências de uma instituição, independentemente de haver ou não alguém passando pelo local.
Considera que, de certa forma, as três linguagens estão mescladas no que ela faz. “A distribuição dos elementos no espaço e o uso da cor nas instalações são empréstimos da linguagem da pintura”, observa. “Se um projeto não cabe num meio, migro para outro”, explica.
Ela tem pautado sua trajetória pela busca de experiências nos locais onde faz exposição. “Já fiz trabalhos em galerias que corriam o risco de ser considerados anticomerciais. Mas a minha expectativa é dar vazão ao que o desenvolvimento do trabalho pede. Pode não haver venda do trabalho exposto, mas as mostras acabam atraindo colecionadores, interessados em ver outros trabalhos”, afirma.
A atuação em espaços institucionais, por sua vez, permite acesso a cachês e financiamento do custo de produção das obras, “o que é um retorno diferente da venda do trabalho, mas muito bom”.
Expor em um centro cultural, para Flávia Bertinato, oferece a possibilidade de colocar o trabalho diante de um público grande e heterogêneo.
A artista valoriza o fato de sua obra ser mostrada numa sala do CCBB dedicada à arte contemporânea num contexto marcado pela presença de grandes mostras internacionais e históricas. “É bom que a pessoa tenha oportunidade de ver as duas coisas. Oferecer acesso à produção brasileira contemporânea é fundamental, sob o risco de ela ficar muito esmaecida como referência pública”, afirma.
PAISAGEM CARIOCA
O pintor mineiro Alan Fontes também ganha exposição na Sala A do CCBB/RJ. Poética de uma paisagem – Memória em mutação (2015-2016) vai ser aberta no dia 5 de abril e se estende até 8 de maio. Trata-se de instalação com pinturas e objetos, sendo que uma grande pintura (5m x 3m), vista aérea do Centro Histórico do Rio de Janeiro, pontua uma consideração não habitual sobre a paisagem.
Serão expostos ainda fotos e desenhos da região, feitos pelo artista durante residência no local. Fontes diz que não se trata de documentação, mas uma consideração sobre transformações do mundo urbano e a percepção do entorno que poderia ser representado com imagens de qualquer lugar do mundo. A exposição será apresentada nos CCBBs de Belo Horizonte, São Paulo e Brasília no segundo semestre.
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