Quem chega a Belo Horizonte para lançar o livro Made in Macaíba – A história da criação de uma utopia científico-social no ex-império dos Tapuia (Editora Crítica) é o paulista Miguel Nicolelis.
O novo livro de Nicolelis traz narrativa apaixonada do trabalho voluntário ao qual o cientista vem se dedicando há 13 anos: a implantação do Câmpus do Cérebro em Macaíba, subúrbio de Natal (RGN). O empreendimento reúne, numa mesma área, o Instituto Internacional de Neurociência Edmond e Lily Safra (com todo o suporte para pesquisa), duas escolas para jovens (uma terceira já está em fase de construção) e um hospital. A infraestrutura é voltada para apoio e desenvolvimento de pesquisas, mas também articulam ideais do educador Paulo Freire e do inventor Santos Dumont. Assim, cria, em áreas carentes, contexto que incentiva o cultivo da educação com fundamento científico, a formação de cientistas e a afirmação da importância da cultura de pesquisa.
No Câmpus do Cérebro, o momento atual é de ampliação das atividades.
“Meu livro é mensagem de esperança sobre o potencial humano do Brasil. Conseguimos transformar o que parecia uma utopia em realidade. Estamos mostrando que é possível o empreendedorismo científico no Brasil”, afirma Nicolelis. O livro comemora os feitos realizados, mas também traz os relatos das agruras ao enfrentar burocracias, descrença, tentativas de manipulação, luta por recursos. “Mas, apesar dos problemas, estabelecemos a ideia de que a ciência pode ser agente de transformação social e a educação como alavanca para a melhoria da qualidade de vida e desenvolvimento da região”, conta. O que só foi possível, frisa, pelo engajamento de cientistas de todo o mundo, educadores, população local, agentes públicos e privados na empreitada.
Em 2004, a revista americana Scientific American elegeu Miguel Nicolelis um dos 25 cientistas mais importantes do mundo. Em 2015, a revista Foreign Policy o apontou como um dos seus 100 pensadores globais. Reverências que não impressionam o paulista. “São juízos subjetivos e de certos grupos.
“Recursos são essenciais para o desenvolvimento científico no Brasil, mas o fundamental é que tenhamos, como nação, uma política permanente para o setor”, acrescenta Nicolelis. “Países que não dominam a pesquisa científica vão perder a soberania”, avisa. “A ciência está no nosso cotidiano”, explica, observando que a modernidade só fez acirrar tal presença. “Ela é essencial para a melhoria da qualidade de vida. Pode nos ajudar na cura de doenças, a produzir mais alimentos, a enfrentar os problemas trazidos pelas mudanças climáticas. Ou seja: a ciência pode contribuir para todos os processos essenciais para a sobrevivência da vida no planeta”, argumenta. “Até para enfrentar o zika vírus e o da dengue precisamos de uma base científica”, observa.
NO TOPO
Miguel Nicolelis nasceu em São Paulo, fez medicina e doutorado na Universidade de São Paulo, e pós-doutorado na Hahnemann University da Filadélfia (EUA).
SEMPRE UM PAPO
Lançamento do livro Made in Macaíba – a história da criação de uma utopia científico-social no ex-império dos Tapuia, de Miguel Nicolelis. Hoje, às 19h30, Auditório da Cemig, Avenida Barbacena, 1.200, Santo Agostinho, (31) 3261-1501. Entrada franca.