O volume traz depoimento do artista, texto sobre sua obra e cronologia. Há mais de três décadas, Gilberto Abreu trabalha com desenho e pintura, criando visualidade de grande singularidade. É dele, por exemplo, a capa do primeiro disco de Beto Guedes, Sol de primavera.
Para Jaqueline Prado, o mineiro é um criador que tem na emoção, no sensível, o fundamento de suas realizações, sem que isso implique deixar de lado a razão e o pensamento. “Ele é um poeta”, afirma. Os trabalhos não se fecham dentro de um espaço histórico ou de momento específico. “Ele fez muita coisa nos anos 1970, explodiu na década de 1980 e continua com obra forte, vibrante, contemporânea”, diz Jacqueline.
Jacqueline Prado explica que Abreu elegeu a pintura como meio para se expressar. Hoje, ele tem como elemento privilegiado de sua obra o diálogo e a interação das cores. “Grande pintor, conhece muito bem as técnicas, tanto que conecta as práticas tradicionais com vários outros elementos. Mas tem no desenho um aspecto fundamental da arte dele”, observa, contando que esta é a surpresa que o leitor que só conhece a pintura do artista terá ao tomar contato com o livro. Em um e outro campo, conta a pesquisadora, está, primeiro, um olhar poético que pode ter tom melancólico ou ser mais sarcástico nos desenhos.
Jacqueline Prado se formou em gravura na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais e especializou-se na área de pesquisa na Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais. Ela foi responsável pelos livros da coleção Circuito Ateliê dedicados a Fabrício Fernandino, George Hardy, João Diniz, e Guignard, em parceria com Marília Andrés.
“Se você vai a uma escola, vê que os alunos conhecem muitos artistas, mas não os mineiros – menos ainda os vivos e em atividade. Isso deixa a sensação de que arte é algo do passado, quando temos autores maravilhosos em atividade”, argumenta a pesquisadora. “A arte feita em Minas Gerais é rica, eclética, não é regional e dialoga com um contexto que vai muito além das montanhas. Mas ela permanece dispersa, cobrando que se fique o tempo todo garimpando. Nosso trabalho como pesquisadora é esse mesmo, mas seria bom ter a produção mais divulgada. Conhecendo melhor, aprendemos a valorizar mais”, conclui Jacqueline Prado.
GILBERTO ABREU
Lançamento do livro da Coleção Circuito Ateliê. Hoje, às 11h. Galeria Manoel Macedo.