Com direção de Marina Viana, do grupo Primeira Campainha, a peça foi inspirada no livro Fogo nas entranhas, de Pedro Almodóvar, e vem causando alvoroço na capital mineira. Nas performances, a história do cineasta espanhol sobre cinco mulheres e sua relação com os homens e o sexo se diluiu.
“A gente costuma dizer que a nudez é a grande potência do espetáculo”, afirma Marina. Segundo a diretora, por mais que a ausência de roupas em cena pareça “coisa antiga”, dos anos 1970, ainda provoca incômodo. “A esta altura do campeonato, causa diversas reações.”
Marina conta que os espectadores podem chegar com uma noção equivocada da proposta, no “oba-oba”, mas diz que essa atitude se dissipa no decorrer do espetáculo. “As pessoas vão comprando o discurso e se identificando. Perdem por completo o tabu, o preconceito.
CONSCIENTE
Marina ressalta que a nudez no palco não é gratuita, mas sim uma escolha consciente. “Quanto mais o tempo passa, mais ela ganha significados e justificativas. Tem muita força. Não só para quem está assistindo, mas também para as atrizes.”
Os efeitos dos corpos nus em Calor na bacurinha vieram também de forma negativa, em outubro do ano passado, durante performance na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A ação despertou uma enxurrada de comentários agressivos na internet. “Acho que isso causa um rebuliço porque é potente. Tem um poder que quebra a lógica heteronormativa de objetificar a mulher”, afirma Marina.
Durante a apresentação que desatou a polêmica, as jovens cantaram uma música com o trecho “eu vou cortar sua pica”. Após as reações, o grupo fez uma série de declarações para esclarecer o sentido daquilo que queria expressar. “Não estávamos falando só de um pedaço de carne. ‘Pica’ é seu salário que vale mais, a falta de consciência do seu privilégio”, explica a diretora.
Assim, a presença de Rafael Lucas Bacelar (do coletivo Toda Deseo) no elenco se configura como uma provocação. “Ele traz um discurso sobre as trans e a questão de gênero. Enriquece o trabalho”, diz Marina.
Calor na bacurinha
Nesta sexta-feira, às 19h, no Centro Cultural Banco do Brasil – Sala Multiuso (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Ingressos a R$ 10 (inteira). Mais informações em veraoarte.com.br.
FALE COM ELAS
Tudo começou no Festival de Cenas Curtas, do Galpão Cine Horto, em setembro de 2014. Dirigidas por Guilherme Morais, da Primeira Campanhia, as jovens apresentaram uma cena inspirada na novela Fogo nas entranhas, de Pedro Almodóvar. Com a cena, participaram também do projeto Diálogos Cênicos, no Circuito Cultural Praça da Liberdade. Ainda em 2014, o grupo realizou o evento Bacurinhas em debate, no Teatro Alterosa. Vários artistas da cidade foram convidados para contar como abordavam o feminismo em seus trabalhos. Marina Viana fez parte do projeto e “traçou aí um namoro” com o coletivo.Com a partida de Guilherme Morais para Berlim, Marina assumiu a direção do que viria a ser o espetáculo. Com criação coletiva, ele tomou forma ao longo de 2015 e estreou no Esquyna Espaço Coletivo Teatral. As bacurinhas ainda fizeram intervenções artísticas na Mostra Diversas: Feminismo, Arte e Resistência e outras em parceria com a Associação das Profissionais do Sexo de Minas Gerais.
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Tudo começou no Festival de Cenas Curtas, do Galpão Cine Horto, em setembro de 2014.