Byron O‘Neill, que assina a dramaturgia com Renato Parara, conta que o texto do espetáculo surgiu em 2015, a partir de reunião de amigos que trabalhavam juntos na Cia 5 Cabeças. O Coletivo Hollywood é uma espécie de braço da companhia, que conta com o ator Javier Galindo e o próprio Parara como convidados.
O dramaturgo destaca que a peça está em construção contínua, de forma a sempre incluir elementos atuais. As referências a Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, no vídeo de abertura, por exemplo, são recentes. “O processo de criação do texto foi uma loucura. Dava para fazer três ou quatro espetáculos. Metade da peça foi reescrita inteira 10 dias antes da estreia”, diz Byron.
O desafio como dramaturgo, segundo ele, foi zombar da própria cara. O espetáculo toca no tema delicado de patrocinadores que interferem no trabalho artístico dos grupos e a disputa por um lugar ao sol dentro do “paraíso” das leis de incentivo. “É muito difícil ter o limite do que pode falar e do que não pode. Se a pessoa que vai assistir vai se ofender”, diz. Assim, ele espera que a frase “morte a todos os críticos de teatro” não seja levada a sério.
CAMPANHA X VAC O ator colombiano Javier Galindo diz que a peça “ao mesmo tempo em que é engraçada, é séria”. Segundo O‘Neill, a ideia original do grupo era fazer uma “dessas comédias” de sucesso para integrar a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança. Houve o flerte com o besteirol, mas com o cuidado de inserir críticas ao sistema. “Não tenho nada contra a campanha em si, tenho coisas a favor do VAC. Na campanha, são espetáculos que se repetem ano após ano. Não acho que o besteirol seja pior do que teatro experimental. Mas tem que ter diferentes linguagens para o próprio público poder escolher”, afirma.
Durante o processo de criação do espetáculo, o Coletivo Holywood, formado ainda por Carol Oliveira, Luisa Rosa, Daniel Ducato e Rafael Nelvam, assistiu a filmes diversos. O resultado é que o espetáculo é livremente inspirado em O poderoso chefão (1972), Os 10 mandamentos (1956), O sentido da vida (1983), This is spinal tap (1984), Cães de aluguel (1992), Monty Python’s flying circus (1969), Kill Bill (2003) e Marcelino pão e vinho (1955).
Se uma ou outra referência passa batido, os sabres de luz de Star wars marcam território e são de fácil associação até para quem não é fã da saga.
Já no sarcástico monólogo de abertura, o público poderá conferir referência ao vídeo-hit Use filtro solar, que viralizou na rede em 2003, com narração de Pedro Bial. A versão do espetáculo é mais escrachada e brinca com o mercado de autoajuda. “Tenha cuidado com as pessoas que dão conselho porque, se conselho fosse bom, o fdp não estava te dando, estava cobrando por ele, como eu: R$ 20 a inteira e R$ 10 a meia”, avisa o personagem.
“A gente queria fazer uma peça a que o grande público, aquele que não fosse do meio teatral, pudesse assistir. Tivemos esse cuidado. Mesmo se a pessoa nunca viu O poderoso chefão, vai entender que é uma disputa de poder”, diz o dramaturgo.
O segredo do sucesso
Com o Coletivo Hollywood. Nesta terça e quarta, às 20h, no Teatro Marília (Av. Professor Alfredo Balena, 586, Santa Efigênia). Ingressos a R$ 20 (inteira). (31) 3277-4697.