O primeiro sinal foi o gosto por contar piada, hábito que herdou do pai e do avô.
Será apenas um dia em cartaz porque Bruno faz temporada da mesma peça no Rio de Janeiro, com casa cheia. Desde 1996, quando estreou o primeiro espetáculo profissional, Céus!, no Teatro da Assembleia, em Belo Horizonte, já venceu concurso de humor na televisão, apareceu em diversas listas como ator revelação e recebeu as bênçãos de veteranos como Chico Anysio e José Vasconcelos. Em resumo, é um dos pioneiros no gênero de stand up comedy no Brasil, uma referência para a geração que hoje bomba na internet.
Talento precoce
“Sou de uma época em que não tínhamos tantos cursos. Se queria fazer, tinha que ir lá e fazer. Assim, fui conhecendo todo mundo de teatro”, conta, lembrando-se de que aos 12 anos já fazia amizade com os bilheteiros dos teatros de BH e assistia ao que podia, e até as atrações que sua idade não permitia entrar.
Bruno Motta se interessou por isso, conquistou fama em festivais dedicados ao estilo. “É muito difícil ser o melhor, mas o que eu fazia era diferente. As pessoas não sabiam se odiavam ou amavam. Foi isso que me deu muito destaque no começo”, avalia. Em 1998, venceu o 1º Prêmio Multishow de Humor e percebeu que Belo Horizonte estava pequena para ele.
“Chegou uma hora em que não dava mais para morar aqui”, continua. “Viajava muito o Brasil inteiro e estar em BH era fora de mão. Às vezes, estava em cartaz em três lugares diferentes na mesma noite. Umas coisas que só ocorrem em São Paulo.” Nesse ritmo, a carreira se multiplicou. Fez participações em programas como Pânico no rádio. Na televisão, estreou no Show do Tom (de Tom Cavalcante), foi redator dos programas Furo, 15 minutos e Comédia na MTV. Tudo isso paralelamente ao teatro.
Espontaneidade
“Para mim não tem diferença.
No ano passado, Bruno era um dos roteiristas contratados da Rede Globo, trabalhando nos programas humorísticos. A partir daquela experiência ele se deu conta de que a televisão demorou a absorver os impactos da internet. “Como uma velha mídia custou a admitir que essas caçulas, tipo stand up e internet, estavam interferindo no jeito como se faz humor para todo mundo. Agora está admitindo e melhorando”, acredita.
A nova fase do Zorra, para Bruno Motta, é um exemplo. “O antigo Zorra total se transformou em um Porta dos fundos na TV.
Com a carreira bem encaminhada, Bruno Motta assume com tranquilidade que a dramaturgia é um ponto forte para ele. “O outro é a espontaneidade. Fui estudar improviso para entender quais são as ferramentas que me permitem conversar com a plateia. Eu me divirto muito fazendo isso”, garante. O encantamento está em encontrar diariamente plateias que são muito diferentes. “Temos que ter muito cuidado com o que fazemos. É uma força muito grande que temos na mão e tocamos diretamente as pessoas”, conclui.
Inspiração veio de Jerry Seinfeld
A peça 1 milhão de anos em 1 hora está em cartaz há pouco mais de um ano no Rio de Janeiro. Em maio do ano passado, ela foi apresentada em Belo Horizonte. Apenas uma sessão. O espetáculo é fruto de um projeto ousado: a adaptação no Brasil do sucesso da Broadway Long story short, dirigido por Jerry Seinfeld. A versão brasileira é assinada por Marcelo Adnet, com direção de Cláudio Torres Gonzaga.
Bruno Motta viu a versão original em Nova York e encarou comprar os direitos para fazer a peça no Brasil. Durante 60 minutos, ele apresenta a história do mundo condensada. Começa no homem das cavernas e suas tribos e chega ao mundo capitalista. São 15 quadros. Uma proposta bem diferente da onda stand up, quando ele necessita apenas de um microfone. “Dou um boa-noite, ligo um relógio e vou terminar uma hora depois. Não posso fazer outra coisa, mas me divirto fazendo isso todos os dias. É muito de verdade”, ressalta.
1 MILHÃO DE ANOS EM 1 HORA
Com Bruno Motta. Hoje, às 19h e às 21h (ingressos esgotados), no Cine Theatro Brasil Vallourec (Rua dos Carijós, 258, Centro). Ingressos a R$ 15 (postos do Sinparc) e R$ 60 (na bilheteria do teatro). Informações: (31) 3201-5211.