Distante das silhuetas esbeltas do balé clássico, um grupo de cubanas repete os movimentos do Lago dos Cisnes.
Desde 1996, Juan fixou-se na ideia de transferir sua experiência artística a corpos "largos" como o seu, explicou à reportagem o dançarino de 50 anos. "Tive a ideia de criar um espaço onde estas pessoas pudessem treinar, se desenvolver e criar danças a partir destes corpos", destacou. Há 20 anos, pelo menos duas vezes por semana, o coreógrafo convoca bailarinas a seu pequeno apartamento, no bairro popular de Marianao, em Havana, para exigentes ensaios.
As bailarinas amadoras às vezes têm dificuldade para manter o equilíbrio com a perna esticada para trás, e chegam a se queixar de dor quando, a pedido do coreógrafo, precisam manter algum movimento por alguns segundos.
"Nossas danças não vão ser iguais às danças das pessoas magras porque temos outro peso, outro estado físico", explica Mas. Nestas duas décadas, ele fez pesquisas sobre corpos volumosos para que se movam "esteticamente melhor", para "fazê-los render a partir destas características".
"Os gordos não dançam balé"
"Conseguimos ganhar um público", comemorou. Rubí Amaro, bailarina de 34 anos, corrobora, orgulhosa, as palavras do seu coreógrafo: "Ninguém mais faz graça. Prestam atenção". No grupo de dança não há limites de peso: cada dançarino pode estar entre os 100 e os 120 quilos.
"Sempre gostei do balé clássico, mas as gordas não dançam balé clássico (...) As pessoas obesas sempre são muito estigmatizadas pela sociedade", lamenta Maylin Daza, uma dona de casa de 36 anos. Longe de se intimidar, Daza, de estatura imponente, buscou, então, pessoas com aparência similar à dela e que compartilhassem os mesmos gostos.
"Perdemos colegas para a obesidade"
No entanto, para o diretor deste incomum grupo de balé, as páginas tristes desta história não desanimam. Pelo contrário.
Na semana passada, a companhia de Mas teve a oportunidade de se apresentar no prestigioso Teatro Nacional de Havana por iniciativa de um grupo de americanos que chegaram ao país como parte de um convênio entre a Universidade de Massachusetts e a União Nacional de Escritores e Artistas de Cuba (Uneac).
Vestindo tutus, com meias elásticas e longas luvas brancas, as bailarinas 'plus size' do grupo interpretaram para alguns poucos privilegiados uma das peças mais famosas do balé mundial, o Lago dos Cisnes, e outras contemporâneas. "Já estou no meu balé clássico!", exclamou Daza, com a testa molhada de suor