Mexida com o fato, foi pesquisando os remetentes para decifrar os hábitos de consumo de arte do filho e passou a adquirir obras que ele gostaria de ter. Outro filho seu, Alexandre Palhano, estudante de Belas-artes, estimulou a empreitada. “Ele sentiu que tomei a formação desta coleção com fé, que a atividade me trazia ímpeto de vida”, conta Lúcia.
O resultado foi a criação de um acervo de cerca de 600 peças, que abarca desde nomes muito famosos até outros poucos conhecidos. “Não conhecia nada de gravura, mas meu filho Alexandre foi me explicando o que era cada técnica. E adorei”, diz. Lúcia decidiu, então, procurar um local para abrigar o acervo e os móveis de André. Assim nasceu a cAsA, galeria voltada para arte sobre papel, no Bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte. A primeira mostra do local, concebida pela família Palhano e com curadoria de Cláudia Renault, é Todos André, que reúne 33 artistas do Brasil e do mundo – todos chamados André.
Na agenda da cAsA para 2016 está uma mostra com trabalhos do paulista Evandro Carlos Jardim, um dos mais importantes gravadores contemporâneos brasileiros, e a recuperação da gráfica do pintor Octávio Araújo.
INTERAÇÃO
“A busca de atmosfera de encontro, informal, vem da nossa convicção de que tal abordagem cria outros níveis de interação com o público, distintos do existente nas galerias comerciais”, diz Tales Bedeschi. “Somos um espaço amador, no sentido de ser movido pelo amor às atividades de compartilhamento de um conhecimento”, acrescenta Paulo Rocha.
Os envolvidos no projeto gostariam que a consideração pela arte sobre papel fosse compreendida de forma expandida, isto é, alcançando também consideração pela tipografia, pela encadernação, fotografia etc. Um motivo de satisfação é o fato de que, desde a inauguração do local, em outubro de 2015, o público tem apoiado a empreitada.
Bedeschi enxerga no circuito de arte de Belo Horizonte um paradoxo. “Vivemos uma situação curiosa, engraçada. Temos a maior galeria da América Latina, a Celma Albuquerque, e outros locais com atuação importante, e mineiros indo comprar arte em São Paulo”, observa. “Há, ainda, um buraco entre a produção e a venda”, acrescenta, contando que vende o que faz em São Paulo.
“Belo Horizonte tem artistas relevantes, mas sem inserção no contexto de arte, sem recepção crítica adequada”, analisa Paulo Rocha. “Não temos um mercado de arte, uma vez que o hábito da compra não é disseminado. Nem incentivo ou investimento, não só financeiro, mas afetivo, emocional, político e cultural”, afirma o filósofo.
TODOS ANDRÉ
Gravuras de 33 artistas nacionais e estrangeiros, todos de prenome André, na cAsA – Obras Sobre Papel (Avenida Brasil, 75, Santa Efigênia, (31) 2534-0899). Terças, quintas e sextas, das 10 às 19h; quartas, das 10 às 22h. Sábados, das 10 às 14h. Até a próxima sexta (15/1). Entrada franca.