“Nosso lema nunca foi quantidade, mas qualidade. Que a qualidade leve à quantidade, ótimo. Pensamos na formação de público”, ressalta Ione de Medeiros, diretora do Grupo Oficcina Multimédia, idealizador do evento. Em 2007, o VAC nasceu como um projeto independente. Artistas convidados toparam participar mesmo sem garantia de cachê. Como o público respondeu positivamente, o VAC adotou o formato básico das leis de incentivo à cultura. Até o ano passado, era realizado com R$ 350 mil. Devido ao contingenciamento por parte das empresas patrocinadoras, a edição de 2016 recebeu R$ 169 mil. “É bem menos do que a gente conseguia. A parceria com os artistas voltou a ficar gigante”, explica Jonnatha Horta Fortes, integrante do Oficcina.
Inspirada na ideia do diálogo do contemporâneo com o clássico – aliás, essa é uma parceria necessária –, a abertura do VAC será realizada hoje, para convidados, e amanhã, para o público. O lago do Parque Municipal será tomado por uma barqueata, com desfile de 15 barcos alegóricos. Batizada Ora (direis) ouvir estrelas, em referência a poema de Olavo Bilac, a performance homenageia O lago dos cisnes, obra-prima do compositor Tchaikovsky.
“Os barcos vão desfilar ao som de valsas e música clássica, com todo aquele ambiente sonoro. Depois do desfile, vamos para o Teatro Francisco Nunes”, informa Jonnatha. No palco, o quarteto de cordas Ricercar executará dois contrapontos de Arte da fuga, de Bach, paralelamente à exibição de imagens em vídeo de obras do arquiteto Frank Gehry e do pintor Mark Rothko.
A Cia. Sesc de Dança vai interpretar coreografias revestidas de roupagens neoclássicas ao som de peças de Bach e Prokofiev. “É uma companhia jovem, com qualidade técnica incrível. A gente vê neles a retomada do rigor técnico que o contemporâneo às vezes abandona. É possível dialogar com isso”, afirma Jonnatha, referindo-se ao grupo mineiro.
Embora a programação do VAC não cresça em tamanho, buscou-se aprofundar as propostas de conexão. “A gente pretende brindar a nossa própria continuidade. Cada montagem exige muito esforço, queremos que isso apareça em algum momento”, afirma Ione de Medeiros. Por isso, vários artistas em cartaz – principalmente nas áreas de teatro, dança e música – participaram de outras edições do VAC.
CINEMA Na agenda do VAC, o cinema ganhou reforços do exterior. Voltam ao cartaz, no Cine Belas Artes, longas-metragens que, embora premiados em festivais internacionais, foram desprezados pelo circuito comercial da capital mineira. Entre eles, está Winter sleep, que levou a Palma de Ouro em Cannes em 2014, e Era uma vez na Anatólia, ambos do diretor turco Nuri Bilge Ceylan, além de O clube, de Pablo Larraín, que ganhou o prêmio do júri do Festival de Cinema de Berlim em 2015. As telas do Cine Humberto Mauro e do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) serão ocupadas por curtas e longas-metragens brasileiros. A programação começa dia 25.
Pelo segundo ano consecutivo, foi renovada a parceria do VAC com o projeto Plateia – Rede de Formação Artística, que promoverá debates depois de apresentações de teatro e dança. O público poderá conferir oito peças – entre elas, Ignorância, do Grupo Quatroloscinco; Real, nova montagem do Espanca!; e Rosa choque, do coletivo Os Conectores, que traz oportuna discussão de gênero.
Será em forma de debate a participação de arquitetos e urbanistas no VAC. Natureza Urbana, grupo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), reunirá coletivos que lutam por moradia para todos. O objetivo é integrar pautas para a redação de uma carta-manifesto a ser apresentada na UN-Habitat, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em Quito, Equador, em outubro.
Na música, serão 15 atrações. Destaca-se o encontro do grupo Todos os Caetanos do Mundo, de Belo Horizonte, com a A Banda Mais Bonita da Cidade, de Curitiba, no dia 16, no Sesc Palladium. No setor de moda, haverá minissalão com participação de estilistas que exporão criações mais recentes.
Ser contemporâneo é estar aberto a conviver com as diversas formas de arte. Esse sempre foi o preceito do Verão Arte Contemporânea (VAC). A mostra, que começa hoje, chega à 10ª edição reafirmando sua essência, apesar das dificuldades. Até 5 de fevereiro de 2016, vinte e um espaços de Belo Horizonte receberão 41 atrações nas áreas da dança, teatro, música, artes visuais, cinema, literatura, arquitetura, moda e gastronomia.