O homem que há 50 anos modificou a “nona arte” no Brasil mimetizou os traços do americano criador das HQs Flash Gordon e Agente Secreto X-9 na década de 1960. E se arrepende disso. A revelação, honesta, não foi dada a um repórter qualquer. A sentença extraída em conversa com o jornalista Sidney Gusman, faz parte de uma série de entrevistas icônicas que recheiam as páginas de Universo HQ Entrevista — Grandes nomes dos quadrinhos entrevistados por quem entende do assunto.
Lançado há pouco, o livro organizado por Sidney Gusman, que conduz os bate-papos com Marcelo Naranjo, Sérgio Codespoti, Samir Naliato e Marcus Ramone, dá espaço a outros ícones das histórias em quadrinhos. Milo Manara, Neil Gaiman, José Luis Gárcia López e outros 19 artistas contam sobre o início da carreira, parcerias, mercado, obras que os consolidaram e projeções para o futuro. O livro celebra os 15 anos do site Universo HQ, do qual Gusman, que escreve sobre o tema desde a década de 1990, é editor-chefe. A seriedade e credibilidade com que tratam a nona arte, para Sidney, são as razões para a longevidade do portal, criado quando o mundo das tirinhas ainda não era levado tão a sério no Brasil.
Passadas quase duas décadas, o mercado tupiniquim já não é mais o mesmo. Ainda bem. Na época em que o Universo HQ foi ao ar, a Abril (que edita os títulos da Disney, por exemplo) era a maior editora de quadrinhos do país. Reina soberana e quase absoluta. Hoje, o posto é ocupado pelo braço local da italiana Panini Comics, de onde saem títulos como os superheróis Homem-aranha e Batman. A elas, somam-se um sem-número de selos, como o Nemo. Sem citar as publicações independentes e as HQs autorais que só saem do espaço virtual graças a sites de financiamento coletivo.
A diversidade se reflete no mercado, mais aberto ao segmento outrora hostilizado como algo infantil ou de menor valor literário. “Vimos, com muita alegria, os quadrinhos ganharem mais espaço em livrarias, o surgimento dos principais eventos ligados à nona arte no Brasil e, especialmente, um aumento significativo na produção de obras nacionais — e não falo apenas de quantidade, mas sim de qualidade”, recorda Sidney.
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Duas perguntas para... Sidney Gusman
A economia difícil interfere na quantidade/qualidade de títulos novos?
Até este ano, os quadrinhos não sentiram tanto a crise, mas é inevitável que isso acontecerá. Porque algumas editoras já diminuíram os investimentos e os autores independentes já estão encontrando dificuldades com os preços de impressão...
Qual é a importância da edição brasileira de eventos como a Comic Con Experience (realizada em São Paulo, em dezembro) para o cenário brasileiro?
Vital! Estamos aprendendo ainda a lidar com grandes eventos, mas, ainda assim, os resultados para os autores têm sido maravilhosos. E é importante que haja mais e mais eventos do gênero, pois havia, sim, uma demanda reprimida. O público existia e não tinha onde externar essa paixão. Agora tem.
Indispensáveis
Sidney Gusman elenca os 13 lançamentos mais impactantes do ano passado, compilando títulos nacionais e estrangeiros numa lista do que melhor foi produzido nos últimos meses. “Evidentemente, por uma questão ética, não incluo as Graphics MSP que editei”, acrescenta o jornalista, que colabora com a Maurício de Souza Produções (MSP).
A propriedade (WMF Martins Fontes)
Hoje é o último dia do resto da sua vida (WMF Martins Fontes)
O árabe do futuro – Uma juventude no Oriente Médio (1978-1984) (Intrínseca),
Pílulas Azuis (Nemo)
O mundo de Aisha – A revolução silenciosa das mulheres no Iêmen (Nemo)
O muro (Nemo)
Ardalén (Realejo)
Uma metamorfose iraniana (Nemo)
La Dansarina (Quadro a Quadro)
Que Deus te abandone (Sesi-SP/Quanta)
Nada com coisa alguma, de José Aguiar (independente)
Apocalipse, por favor, de Felipe Parucci (independente)
Lavagem (Mino)
SERVIÇO
Universo HQ Entrevista — Grandes nomes dos quadrinhos entrevistados por quem entende do assunto
Organizado por Sidney Gusman. Nemo, 360 páginas. Preço: R$ 78.