Em 1986, Afonso Borges tinha 24 anos e se considerava um músico que fazia jornalismo. Foi quando teve a ideia de criar um projeto que aliava lançamento de livro com bate-papo. De maneira ainda amadora, convidou Frei Betto para a estreia. O local escolhido foi a antiga sede do La Taberna, na Rua Gonçalves Dias com Paraíba. Era o começo de uma empreitada que, em 2016, vai completar 30 anos e se consolidou como uma das iniciativas mais respeitadas de incentivo ao hábito da leitura do Brasil, promovendo a difusão do livro e seu autor, o Sempre um Papo.
“Era bem precário (no começo), e a gente tinha muita dificuldade de conseguir patrocínio. Os autores ficavam lá em casa, porque a gente não tinha condições de bancar hotel. Várias vezes, quando não tinha dinheiro, ia para o posto público da Telemig e comprava fichas para fazer interurbano, porque era muito caro na época. Nunca imaginaria que aquilo iria virar a minha vida”, diz Borges, que hoje acumula as atividades de produtor cultural, empresário e escritor.
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No La Taberna, onde deu os primeiros passos, o projeto permaneceu apenas por seis meses, migrando em seguida para o extinto Cabaré Mineiro, também na Rua Gonçalves Dias, esquina com Maranhão. “Tivemos encontros memoráveis ali. Lembro-me do Fernando Gabeira, da Ângela Gutierrez, que havia acabado de assumir a Secretaria de Estado de Cultura. Era um momento de abertura política, fim da ditadura e muito propício para a gente promover essas conversas e debates. O Sempre um Papo foi mudando de lugar de acordo com as possibilidades de patrocínio, mas o eixo sempre foi o Palácio das Artes. Nossos principais eventos ocorreram lá, como o de José Saramago, por exemplo”, cita Borges.
EXPANSÃO Além de Belo Horizonte, a iniciativa já esteve em outras 30 cidades e oito estados, além do Distrito Federal, onde teve a maior média de público de todo o projeto. Já houve edições também em Madri, na Espanha. Em Minas, a programação se estendeu a Araxá, Sete Lagoas, Ouro Preto, Ouro Branco, Congonhas, Itabirito, Moeda e Conselheiro Lafaiete.
Grandes nomes da literatura e da intelectualidade estiveram no projeto. Borges cita o Nobel peruano Mario Vargas Llosa, o norueguês Jostein Gaarder, o moçambicano Mia Couto e os brasileiros Darcy Ribeiro (1922-1997), Hélio Pellegrino (1924-1988), Fernando Sabino (1923-2004), Zélia Gattai (1916-2008), Thiago de Mello, Chico Buarque, Paulo Coelho, Fernanda Montenegro, Luis Fernando Verissimo, Zuenir Ventura, Gilberto Gil, Laurentino Gomes, Ruy Castro, Carlos Heitor Cony e Fernando Morais, entre outros.
“Ao longo desse tempo, o projeto foi se profissionalizando, mas até hoje a gente percebe que tem um nicho de mercado que não é devidamente explorado. O Sempre um Papo nunca mudou seu formato, que é alguém conversando com o público sobre sua obra. O que mudou foi a forma de divulgação. As mídias sociais facilitaram muito nesse processo”, avalia.