É o segundo livro que Moura lança com fotos do tipo, após Pássaros poemas – Aves na Pampulha. Além de compositor conhecido pelo trabalho com o Clube da Esquina e com viola caipira, é entusiasmado observador desses bichos desde 2008, sendo até membro de ONG que reúne outros interessados na atividade. Desta vez, ele se concentrou no vale que dá nome à obra, próximo às cidades de Ipatinga e Belo Oriente, onde é feito trabalho de reintrodução de várias espécies e, infelizmente, também parte do cenário da recente devastação do Rio Doce.
“O sucesso desse projeto foi muito grande, mas agora as aves correm risco, pois bebiam água do Rio Doce. A lama passou por lá e não se sabe como será agora. O lançamento que faria lá foi cancelado”, lamenta.
A propósito, a foto dessa última é uma das poucas que não foram feitas por ele, conta: “Eu e outro observador de aves estávamos numa mata, quando fomos abordados por um policial florestal que estava de cara feia. Perguntou o que fazíamos ali, começamos a conversar e avisou que, se tivéssemos chegado uma hora antes ao local, teríamos encontrado uma onça-parda”. O oficial havia feito foto do felino e a cedeu para publicação.
O melhor período para fotografar as aves é o início da manhã, diz Moura. O ideal é estar no local já às 5h30. “É um horário fantástico, pois é quando os bichos vão se alimentar”, explica. Foi assim que flagrou espécies como gaturamo-verdadeiro, tempera-viola e pica-pau-de-testa-amarela – e num local praticamente ao lado do Centro de Ipatinga. Para atraí-las, às vezes é preciso lançar mão de recursos como playback de cantos de fêmeas.
O fotógrafo evitava o sol forte do início da tarde e aproveitava o momento para almoçar fora da mata. “Muitas vezes levava marmita que dava para uns dois dias. Como bacalhau sem batata, que misturava com macarrão. De noite, sanduíche. No mais, banana e refrigerante. Isso nos locais fora de Ipatinga, onde deixava a comida guardada numa mercearia próxima de onde eu estivesse para almoçar na volta”.
“Observar aves é um negócio que ocupa o tempo verdadeiramente. Tem tudo junto, expectativa de ver melhor, de saber exatamente que espécie está sendo vista. Mas não tem tensão, é expectativa boa. É aquele momento pré-gol, que você driblou os zagueiros e está só com o goleiro pela frente”, compara. De quebra, aprende mais sobre a natureza: quanto mais colorida é a ave, ensina, mais baixo é o seu canto, evitando atrair a atenção de predadores.
Informações como essa são transmitidas por ele nos pequenos textos que acompanham as fotos – todos foram traduzidos para o inglês por outro “sócio” do Clube da Esquina, Márcio Borges. Moura conta ter pesquisado muito em sua biblioteca sobre o tema para evitar cair no lugar-comum na hora de escrever. Há, ainda, algumas aquarelas de Sandra Bianchi, que também contribuiu com seu trabalho no livro anterior dele.
ACERVO
Para esta obra, usou uma câmera semiprofissional e, pela primeira vez, uma profissional. “Com maior velocidade de disparo, consegui fotografar melhor o beija-flor, por exemplo”, justifica. É um lazer trabalhoso, pois, ao término de cada jornada, era preciso descarregar até 300 fotos no computador e catalogar cada uma delas, incluindo não apenas o nome da ave, mas horário e local onde foi feito o registro.
Moura calcula ter entre 600 e 700 espécies de aves fotografadas, levando em conta suas incursões para este livro, pela Pampulha, Norte da Bahia (para encontrar a arara-azul-de-lear) e região amazônica. E o acervo aumenta à medida que novas viagens são feitas, como a desta semana, de apenas um dia e com destino a Sete Lagoas, exclusivamente para ver o que há de novo pelos ares.
LANÇAMENTO
Vale do Mutum – Aves da mata atlântica, de Tavinho Moura.