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Cosac Naify chega ao fim

Editor Charles Cosac decide pôr fim ao selo que se tornou sinônimo de sofisticação

Editora não se viabilizou financeiramente. Autores lamentam decisão e anteveem vácuo no mercado de livros de arte

Mariana Peixoto
- Foto: OTAVIO DIAS DE OLIVEIRA/DIVULGAÇÃO
Dezoito anos após o lançamento de seu primeiro livro – Barroco de lírios, de Tunga – e com um catálogo que abrange 1,6 mil títulos, a editora paulistana Cosac Naify vai fechar suas portas. A decisão foi anunciada pelo editor Charles Cosac em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo na tarde de segunda-feira. “Eu vejo a editora se descaracterizando, se afastando daquilo que fez dela tão querida, e prefiro encerrar as atividades a buscar uma solução que possa comprometer seu passado.”

Em comunicado enviado por e-mail aos funcionários na noite de anteontem, Cosac escreveu: “A editora não está falindo, mas encerrando, e esse é um direito que me cabe”. A dificuldade de manutenção dos projetos editoriais da casa – conhecida pela sofisticação na edição dos livros – foi a principal razão para o fechamento da empresa. A crise econômica também afetou a editora, que no primeiro semestre reduziu sua equipe à metade.

Cosac, sócio do norte-americano Michael Naify, ainda afirmou na entrevista que a editora vai conversar com cada um dos autores que publicou. Será um novo livro de Tunga a derradeira publicação da Cosac Naify.

A partir de Barroco de lírios, produzido com mais de dez tipos de papéis e 200 ilustrações, a editora tornou-se referência no mercado com a publicação de volumes de artes plásticas. Foram editados mais de uma centena de títulos sobre o assunto, desde monografias sobre artistas brasileiros, clássicos da crítica de arte e obras de referência.

CLÁSSICOS

Vieram, mais tarde, publicações voltadas para cinema, fotografia, dança, moda e design. A seara infantil foi outro foco da Cosac, que editou desde clássicos até livros de jovens autores.
Na literatura, foram publicados títulos como Anna Kariênina, de Liev Tosltói, na primeira edição brasileira traduzida diretamente do russo.

A Cosac ainda editou Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes e Rodrigo Melo Franco de Andrade, entre os mineiros mais notórios. Autores de Belo Horizonte publicados recentemente pela editora ficaram surpresos com seu fechamento. Em abril, a editora lançou Cao, primeiro livro de Cao Guimarães a tratar do conjunto da obra do artista visual.

“As escolhas (da editora) cobriram muitas lacunas do mercado editorial brasileiro. A Cosac trazia a ideia de um livro como objeto. No mundo da era digital, em que muitas pessoas preferem ler pelo computador, pelo iPad, a Cosac era uma tentativa de sofisticar o objeto livro. Era um prazer para você ter um livro materializado. Acompanho a editora desde muito tempo, pois ela fazia uma trabalho sério na escolha dos títulos”, comentou Guimarães.

O poeta Mário Alex Rosa chamou a atenção para o trabalho da editora voltado para a seara dos infantis. Ele publicou Formigas, com ilustrações de Lílian Teixeira (voltado para crianças), e Via férrea. Ambos saíram em 2013. “Acho que, na história do mercado editorial no Brasil, você tem que pensar antes e pós-Cosac Naify. Quando ela chegou ao mercado, fez um trabalho diferenciado de tudo o que havia nas editoras brasileiras. Ela provocou um outro olhar para um projeto, sobretudo no setor infantil.”

Já a artista plástica Laura Belém, que publicou seu primeiro livro pela editora (uma edição que documenta 21 instalações da mineira, produzidas entre 2002 e 2013, ano da edição), lembrou-se da dedicação do próprio Charles Cosac, que atuou diretamente como editor de seu livro. “Para mim, foi uma experiência de aprendizado e crescimento, e ele me ajudou muito a deixar o trabalho mais enxuto, conciso.” (Com agências)
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