Lelis sempre gostou de escrever, mas o tempo é pouco para conciliar encomendas de ilustrações, o dia a dia na redação do Estado de Minas e outros projetos. Hortência nasceu do pedido de um depoimento sobre seu ofício. Em vez de se “autoentrevistar”, ele criou a personagem contadora de histórias.
O ofício do ilustrador ainda é pouco reconhecido no Brasil. Sempre se credita a autoria do livro ao escritor, que recebe direitos autorais. Isso faz diferença, sobretudo no caso de encomendas para escolas e vendas em livrarias, pois quem desenha costuma receber apenas o valor previamente acertado com a editora. Se o trabalho virar best-seller, ele não é recompensado financeiramente.
A situação está mudando, editoras têm aceitado rever esse modelo, mas ainda falta muito para o reconhecimento do ilustrador, diz ele.
Recentemente, Lelis foi bater papo com alunos do Colégio Tiradentes, em BH. Viu-se cercado por 200 crianças na faixa dos 7 anos, encantadas em descobrir que desenhar é atividade “braçal” – e não “mágica” do computador. Ele decidiu deixar seu autógrafo-ilustração em cada exemplar. Claro, não deu tempo de desenhar para todo mundo. Resultado: teve de levar dezenas de livros para casa e, pacientemente, criou uma aquarela para cada garoto. “Hortência não é minha, mas um mote para que esses meninos tomem gosto pela coisa. Quem sabe eles não acabam escrevendo e desenhando as próprias histórias?”, conclui..