O bailarino paraense Leonardo Gutemberg tinha 15 anos quando visitou Belo Horizonte pela primeira vez. Não sabe explicar direito, mas se sentiu em casa. “Foi uma sensação estranha. Como se eu já conhecesse BH há muito tempo. Eu me encantei pela cidade”, recorda. Quis o destino que Léo fosse morar na capital mineira 12 anos depois, e ‘quem’ o trouxe foi justamente a dança. “Eu me afastei da dança durante um tempo e acabei me formando em biologia, mas continuava dançando amadoramente. Ano passado, minha mãe mudou-se para Juiz de Fora, porque ela conheceu uma pessoa de lá, e é claro que eu fui junto”, conta. BH era questão de tempo.
No começo de 2015, o Corpo Cidadão – organização da sociedade civil sem fins lucrativos mantida pelo Grupo Corpo que está completando 15 anos –, estava promovendo audições para seus grupos experimentais de dança (GED), dança urbana (GDU) e intermediário de música (GIM). O paraense de Belém, então, decidiu fazer o teste. “Acabei passando e me mudei pra Belo Horizonte. Pensei em toda a logística para facilitar minha vida. Moro e trabalho perto do local onde acontece boa parte dos ensaios, no Centro. Não poderia estar mais feliz”, celebra.
Leonardo é apenas um dos atuais 19 alunos do GED, que seleciona anualmente dançarinos de 14 a 25 anos. Hoje, eles apresentam o espetáculo de fim de ano As mais belas diferenças, com trilha formada por oito canções do Pato Fu e interpretadas por Fernanda Takai, na Praça Modestino de Sales Barbosa, no Bairro Flávio Marques Lisboa, na Região do Barreiro, onde funciona uma das unidades do projeto. No próximo domingo, a produção – que tem coreografia de Sandra Santos, bailarina do Corpo por sete anos – será encenada em Lagoa Santa e, no dia 9, no Cine Theatro Brasil Vallourec.
Outra integrante que se mudou de mala e cuia para Minas é Jéssica Vasconcellos, de 21 anos. Natural de Petrópolis, na serra fluminense, ela e a família levaram um susto quando saiu o resultado. “Minha mãe quase caiu para trás, mas depois se acostumou. Neste quase um ano que estou aqui, aprendi muito no campo profissional e pessoal. É muito gratificante fazer parte de tudo isso”, destaca. Walleyson Malaquias, de 18, deixou Muriaé, na Zona da Mata, com o apoio da prefeitura local, que lhe concedeu uma bolsa para se manter na capital. Seu sonho, assim como o dos demais, é integrar alguma companhia de dança e, quem sabe, até o próprio Corpo. “Sem dúvida que aqui é um trampolim, um lugar que abre portas”, opina Malaquias.
Por falar nisso, os olhos dos três colegas brilham quando se fala no grupo criado pela família Pederneiras em 1975. Todos têm verdadeira devoção pelo Grupo Corpo. “A gente brinca que uma das coisas melhores de fazer parte do Corpo Cidadão é quando tem ensaio na sede do Corpo, no Mangabeiras. É uma oportunidade única e uma aula teórica maravilhosa”, comemora Jéssica.
Histórias e valores
Mais do que formar artistas, o foco da iniciativa é, sobretudo, dar oportunidade a crianças e jovens para que eles possam descobrir o próprio talento, seja nas artes ou não, como salienta a coordenadora-geral e fundadora do projeto, Miriam Pederneiras. O Corpo Cidadão atua com 650 crianças e jovens de baixa renda, incluindo os com necessidades especiais, na faixa de 6 a 14 anos, em escolas do Barreiro e de Lagoa Santa que recebem oficinas nas áreas de dança, teatro, música e artes visuais. “Quando eles começam a ficar adolescentes, a gente oferece esse programa de formação e de capacitação com os grupos experimentais. O forte é a dança, claro. Tem gente que se formou aqui e foi dançar em grupos de São Paulo, na Deborah Colker, foi dar aula ou mesmo abriu a própria escola. Há também aqueles que foram atuar em universos completamente distantes do artístico. O importante é que eles tenham prazer naquilo que gostam”, resume Miriam.
Há histórias também de gente que passou pelo Corpo Cidadão e seguiu carreira no grupo principal, como é o caso do bailarino Edmárcio Júnior, de 22 anos. Ele estreou este ano na turnê comemorativa dos 40 anos e é um dos destaques de um dos espetáculos, o Dança sinfônica, em que faz um pas de deux com a bailarina Sílvia Gaspar. “Ao longo destes 15 anos, já passaram cerca de 10 mil crianças e jovens por aqui. Ver que a proposta foi alcançada dá muito orgulho e uma satisfação enorme”, festeja.
Atuando como bailarina no Corpo há 12 anos, Danielle Pavan assumiu em 2012 a coordenadoria do Grupo Experimental de Danças(GED). Foi lá que aprendeu a ensinar e, sobretudo, a ter um novo olhar sobre sua profissão. “O interessante é que o tema do espetáculo deste ano é As mais belas diferenças e foi no GED que eu vi que todo mundo pode dançar. Sempre tive na cabeça aquele estereótipo e até um certo preconceito de que bailarino tem que ser magro, esbelto, mas aqui isso não importa. Você pode até estar acima do peso que consegue. Outros corpos também podem dançar”, comenta.
Danielle acrescenta que os alunos sabem que os grupos experimentais são temporários, mas lembra que muitos valores são constitutivos. “Os dançarinos aprendem a ter disciplina, refinamento, consciência corporal, sem falar que também têm oportunidade de se envolver em outras atividades sem ser a dança, como produção, figurino, cenário. Aqui é um grupo de formação, sendo que dança é o fio condutor desse emaranhado de aprendizagem”, frisa.
AS MAIS BELAS DIFERENÇAS
Espetáculo do Corpo Cidadão. Hoje, às 16h, na Praça Modestino de Sales Barbosa, Bairro Flávio Lisboa. Dia 6 de dezembro, no Auditório José Marcos Sobrinho da Escola Dr. Lund, no Centro de Lagoa Santa. Dia 9 de dezembro, às 20h, no Cine Theatro Brasil Vallourec, Praça Sete, Centro de BH. Entrada franca.
No começo de 2015, o Corpo Cidadão – organização da sociedade civil sem fins lucrativos mantida pelo Grupo Corpo que está completando 15 anos –, estava promovendo audições para seus grupos experimentais de dança (GED), dança urbana (GDU) e intermediário de música (GIM). O paraense de Belém, então, decidiu fazer o teste. “Acabei passando e me mudei pra Belo Horizonte. Pensei em toda a logística para facilitar minha vida. Moro e trabalho perto do local onde acontece boa parte dos ensaios, no Centro. Não poderia estar mais feliz”, celebra.
Leonardo é apenas um dos atuais 19 alunos do GED, que seleciona anualmente dançarinos de 14 a 25 anos. Hoje, eles apresentam o espetáculo de fim de ano As mais belas diferenças, com trilha formada por oito canções do Pato Fu e interpretadas por Fernanda Takai, na Praça Modestino de Sales Barbosa, no Bairro Flávio Marques Lisboa, na Região do Barreiro, onde funciona uma das unidades do projeto. No próximo domingo, a produção – que tem coreografia de Sandra Santos, bailarina do Corpo por sete anos – será encenada em Lagoa Santa e, no dia 9, no Cine Theatro Brasil Vallourec.
Outra integrante que se mudou de mala e cuia para Minas é Jéssica Vasconcellos, de 21 anos. Natural de Petrópolis, na serra fluminense, ela e a família levaram um susto quando saiu o resultado. “Minha mãe quase caiu para trás, mas depois se acostumou. Neste quase um ano que estou aqui, aprendi muito no campo profissional e pessoal. É muito gratificante fazer parte de tudo isso”, destaca. Walleyson Malaquias, de 18, deixou Muriaé, na Zona da Mata, com o apoio da prefeitura local, que lhe concedeu uma bolsa para se manter na capital. Seu sonho, assim como o dos demais, é integrar alguma companhia de dança e, quem sabe, até o próprio Corpo. “Sem dúvida que aqui é um trampolim, um lugar que abre portas”, opina Malaquias.
Por falar nisso, os olhos dos três colegas brilham quando se fala no grupo criado pela família Pederneiras em 1975. Todos têm verdadeira devoção pelo Grupo Corpo. “A gente brinca que uma das coisas melhores de fazer parte do Corpo Cidadão é quando tem ensaio na sede do Corpo, no Mangabeiras. É uma oportunidade única e uma aula teórica maravilhosa”, comemora Jéssica.
Histórias e valores
Mais do que formar artistas, o foco da iniciativa é, sobretudo, dar oportunidade a crianças e jovens para que eles possam descobrir o próprio talento, seja nas artes ou não, como salienta a coordenadora-geral e fundadora do projeto, Miriam Pederneiras. O Corpo Cidadão atua com 650 crianças e jovens de baixa renda, incluindo os com necessidades especiais, na faixa de 6 a 14 anos, em escolas do Barreiro e de Lagoa Santa que recebem oficinas nas áreas de dança, teatro, música e artes visuais. “Quando eles começam a ficar adolescentes, a gente oferece esse programa de formação e de capacitação com os grupos experimentais. O forte é a dança, claro. Tem gente que se formou aqui e foi dançar em grupos de São Paulo, na Deborah Colker, foi dar aula ou mesmo abriu a própria escola. Há também aqueles que foram atuar em universos completamente distantes do artístico. O importante é que eles tenham prazer naquilo que gostam”, resume Miriam.
Há histórias também de gente que passou pelo Corpo Cidadão e seguiu carreira no grupo principal, como é o caso do bailarino Edmárcio Júnior, de 22 anos. Ele estreou este ano na turnê comemorativa dos 40 anos e é um dos destaques de um dos espetáculos, o Dança sinfônica, em que faz um pas de deux com a bailarina Sílvia Gaspar. “Ao longo destes 15 anos, já passaram cerca de 10 mil crianças e jovens por aqui. Ver que a proposta foi alcançada dá muito orgulho e uma satisfação enorme”, festeja.
Atuando como bailarina no Corpo há 12 anos, Danielle Pavan assumiu em 2012 a coordenadoria do Grupo Experimental de Danças(GED). Foi lá que aprendeu a ensinar e, sobretudo, a ter um novo olhar sobre sua profissão. “O interessante é que o tema do espetáculo deste ano é As mais belas diferenças e foi no GED que eu vi que todo mundo pode dançar. Sempre tive na cabeça aquele estereótipo e até um certo preconceito de que bailarino tem que ser magro, esbelto, mas aqui isso não importa. Você pode até estar acima do peso que consegue. Outros corpos também podem dançar”, comenta.
Danielle acrescenta que os alunos sabem que os grupos experimentais são temporários, mas lembra que muitos valores são constitutivos. “Os dançarinos aprendem a ter disciplina, refinamento, consciência corporal, sem falar que também têm oportunidade de se envolver em outras atividades sem ser a dança, como produção, figurino, cenário. Aqui é um grupo de formação, sendo que dança é o fio condutor desse emaranhado de aprendizagem”, frisa.
AS MAIS BELAS DIFERENÇAS
Espetáculo do Corpo Cidadão. Hoje, às 16h, na Praça Modestino de Sales Barbosa, Bairro Flávio Lisboa. Dia 6 de dezembro, no Auditório José Marcos Sobrinho da Escola Dr. Lund, no Centro de Lagoa Santa. Dia 9 de dezembro, às 20h, no Cine Theatro Brasil Vallourec, Praça Sete, Centro de BH. Entrada franca.