Beltrão é escritor e publicou no ano passado o livro A festa do adeus. O projeto dos lambe-lambes é de abril deste ano e foi impulsionado por uma oficina que o idealizador fez, em março, com Laura Guimarães, que desenvolve o projeto Microrroteiros da Cidade, em São Paulo. “Eu já era vidrado com essa coisa do lambe-lambe de colorir a cidade, deixá-la mais poética. Fui pegando uns textos meus e comecei despretensioso. Os amigos incentivaram”, diz Beltrão.
Na vida real, a proposta também faz sucesso. “Estava pregando um lambe no poste no Bairro Serra e passou um carro de polícia. Eles pararam, olharam, deram uma volta no quarteirão e voltaram. Aí, o policial me perguntou: ‘Tem do signo de Gêmeos para dar para minha filha?’”, conta Beltrão, entre risos.
Para a mostra na Casa Una, o artista encarou o desafio de levar o universo da rua para um centro cultural. “Tive que repaginar o lambe-lambe usando outras manifestações artísticas. Explorei suportes em diálogo”, diz. Uma das salas traz faixas do teto ao chão, com serigrafia dos poemas. Em outra, há o áudio das poesias, que são projetadas no teto. O público é convidado a se aconchegar nos puffs. Na última sala, chamada Pequenos Voos, balões preenchem o espaço com adesivos dependurados – “Disponíveis ao roubo”.
Desde o ínicio do projeto, Leonardo Beltrão já pregou 2 mil lambes no Centro e nos bairros Santa Tereza e Serra.
ESTRANHAMENTO
A reação afetuosa do público ao projeto Um Lambe Por Dia não é o que buscava o Culundria Armada, coletivo criado em 2005 por João Perdigão e Luiz Navarro. “Sempre fizemos nossos lambes com a intenção de causar estranhamento, uma reação. Eles são provocativos. A pessoa está no fluxo do cotidiano, monótono, saindo de casa para o trabalho… Aquela mesmice.
Ele observa que há 10 anos havia um boom de produção de stickers e lambes em BH. Krol, Comum e Desali eram seus contemporâneos. “Começamos a fazer depois que vimos um do Xerel. Ele é um dos pioneiros.” Em 2016, Navarro deve lançar livro sobre a trajetória do lambe-lambe na capital mineira. Ele e Perdigão editam atualmente o zine A Zica.
Hoje, uma técnica que ele utiliza muito é a de aplicar no papel o estêncil de diversas camadas. Depois, ele vira lambe-lambe. “É uma forma de colocar nas ruas as minhas produções. Desenvolvo o estêncil como técnica de gravura”, explica.
CURRÍCULO
A professora Adelaine Scalco se inspirou na proposta do Um Lambe Por Dia para realizar projeto com estudantes das escolas estaduais Sagrada Família 1, no Nova Vista, e Laura das Chagas Ferreira, no Aglomerado da Serra.
UM LAMBE POR DIA
Exposição de cartazes do projeto. Na Casa Una (Rua Aimorés, 1.451, Lourdes, (31) 3235-7314. Das 14h às 18h. Entrada franca. Até 27/11. .