Tudo começou com uma depressão, há cinco anos. Para vencê-la, Lucchesi se dedicou a observar trabalhos de Alberto da Veiga Guignard (1896-1962). Xerocou alguns deles, colou o material na parede de seu ateliê e mergulhou na ideia de criar a partir das lições do mestre.
“É um tema que todo artista de ateliê faz”, explica Lucchesi. A série reúne pinturas com pigmentos e tinta acrílica, explorando formas, texturas e “cores caipiras”, segundo ele. Há sete anos, o médico recomendou ao pintor parar de usar tinta a óleo. “Esforço-me para dar prazer e beleza às pessoas”, afirma ele, citando opinião semelhante de Matisse.
O público gosta de flores e elas facilitam as vendas, lembra Lucchesi. Entronizado na história da arte por suas pinturas geométricas, o holandês Piet Mondrian (1872-1944) sobrevivia pintando flores, conta.
Outra obra de Lucchesi, Africanas, obteve o terceiro maior lance no leilão, R$ 4,3 mil. “Está barato. O mais importante é ajudar a melhorar a qualidade de vida das crianças. Sempre gosto de ajudar, talvez para compensar o fato de ter sido pai ausente”, revela o artista, que apoia o projeto social dos Diários Associados há mais de 20 anos.
Atingir tais valores e sobreviver apenas de arte não é simples “Demorou 30 anos”, conta Lucchesi. Desde os 25 anos, ele se dedica à carreira. E lembra que, no início, não existia mercado de arte em Belo Horizonte. “Vendia meus trabalhos a preço de banana, mas BH melhorou 100% em termos de infraestrutura.” Atualmente, Lucchesi cria objetos, instalações, pinturas e desenhos.
Gordinho pensador, escultura do mineiro Diego Rodrigues, foi vendida por R$ 7 mil, o segundo maior preço do leilão da Jornada Solidária. O artista ficou satisfeito, sobretudo pela oportunidade de apoiar um projeto social. “Criança é o futuro. Além disso, o leilão ajuda a divulgar o nosso trabalho”, comenta.
O belo-horizontino Diego Rodrigues, de 30, é fundidor, ofício que aprendeu com o pai. Começou a esculpir aos 15, participou da primeira coletiva aos 17 e vem desenvolvendo a carreira profissional há três anos. “Além das figuras gordas, tenho também as magrelas”, brinca.
Entre os compromissos de Rodrigues para 2016, estão exposições no Palácio da Liberdade e na Orlando Lemos Galeria de Arte, na capital. “Vender escultura é mais complicado, pois esse trabalho pede um local onde possa ser visto de todos os ângulos. Não pode ser uma parede ou um canto”, explica.
Imagens solidárias
Fotografia assinada pelo mineiro Pedro David, As três graças foi arrematada por R$ 4,1 mil no leilão da Jornada. “Fico feliz ao saber que houve interesse por meu trabalho. Isso é importante, sobretudo em um leilão voltado para causas sociais”, afirma ele. O preço é a metade do que Pedro cobra, mas o artista destaca os objetivos da Jornada Solidária. “É louvável o fato de quem tem capacidade de ajudar se decidir a fazê-lo”, comenta.
O artista tem 38 anos e fotografa há duas décadas. David está de partida para Portland, nos Estados Unidos, onde vai abrir individual no Oregon Center for Photography.
O mineiro tem trabalhado com fotos em grandes formatos, ultrapassando um metro.
Chegar aos preços que cobra atualmente e a ser autor requisitado é fruto de sua dedicação exclusiva à fotografia. “Penso 24 horas no trabalho, buscando a melhor forma de realizá-lo. Sem férias nem intervalos”, garante.
Com tiragem de cinco exemplares, As três graças (2007) integra a série Rota raiz, desenvolvida de 2002 a 2008 a partir de viagens de Pedro David ao Vale do Jequitinhonha. O trabalho investiga a vida contemporânea e sua relação com o sertão.
À VENDA
Realizado na terça-feira passada, o Leilão de Arte da Jornada Solidária arrecadou R$ 96,9 mil, que serão destinados a 11 creches e um abrigo infantil da Grande Belo Horizonte. Trinta peças doadas à campanha dos Diários Associados estão à disposição de interessados em adquiri-las, na sede do Estado de Minas (Avenida Getúlio Vargas, 291, Bairro Funcionários)..