Pela terceira vez, L’Avar estará em cartaz no evento mineiro. Mas agora é diferente, diante da seca que castiga Minas Gerais e do desastre ecológico provocado pelo desabamento das barragens da Samarco em Bento Rodrigues, em Mariana, envenenando a bacia do Rio Doce.
L’Avar lança mão da técnica chamada teatro de objetos. Torneiras contracenam com canos e bacias – são 25 “coisas” que têm em comum a relação com a água. “Quando começamos a trabalhar o texto de Molière, resolvemos fazer essa metáfora. Mas encontramos muitas dificuldades em trocar o dinheiro pela água”, revela o ator e diretor Olivier Benoit, criador da Tàbola Rassa.
Trechos do original de Molière foram suprimidos. Para adaptar a história ao mundo contemporâneo, Olivier Benoit e Miguel Gallardo se desdobram em 11 personagens.
L’Avar estreou em 2003. “Na arte, muitas vezes a ideia vem de uma intuição ou de uma imagem. Certo dia, o Jordi Bertran, que participou da criação com a gente, estava em um estádio de futebol e viu uma torneira gotejar na grama. Naquele momento, ele lia O avarento e pensou que poderia ser interessante juntar as coisas”, conta o diretor.
Esse foi o primeiro espetáculo da Cia. Tàbola Rassa. Em 2006, o grupo estreou Fábulas, de La Fontaine, usando outra metáfora contemporânea: o reaproveitamento do lixo. “Criar uma peça é tão difícil que é preciso ter obstinação e convicção muito grande para tal. Esses temas são primordiais. Tanto a escassez de água quanto o problema do lixo me dão medo sobre o futuro dos meus filhos. É o que posso fazer enquanto artista”, diz Benoit.
O criador da Cia. Tàbola Rassa é pragmático em relação a seu ofício.“Se você esperar a superideia, não vai conseguir.
PARCERIA
O francês tem uma relação de amizade e afeto com o Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte. Foi na cidade, em 2006, que ele conheceu a mulher, a bonequeira Maria Cristina Paiva, integrante da carioca Cia PeQuod. “Até procuramos umas terrinhas por aí”, revela Benoit, que mora na cidade francesa de Montpellier.
Assim como no Brasil, viver de arte na França não é fácil. Há mecanismos oficiais de incentivo, mas eles são direcionados para a manutenção dos equipamentos culturais, conta Benoit. “Em tempos de crise, grande parte dos recursos é absorvida pela infraestrutura. Não sobra para o artístico”, lamenta.
Como estratégia para formação de público, a Tàbola Rassa investe em temporadas em Paris. “O contexto do teatro mudou em todo o mundo. Há cada vez menos dinheiro, as turnês são menores, está cada vez mais difícil. Tentamos sobreviver”, conclui.
CLARICE E A SOLIDÃO
Atualmente, Olivier Benoit se volta para a técnica de sombras.
L’AVAR
Com Cia. Tàbola Rassa. Hoje e amanhã, às 20h. Teatro 1 do Centro Cultural Banco do Brasil. Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400. R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).