O #FIGmatik, ação idealizada pelo fotógrafo e educador do Oi Kabum! Iezu Kaeru, é um exemplo de como o compartilhamento de imagens pode ser uma estratégia para tornar as pessoas mais próximas de linguagens artísticas ligadas ao visual. Durante o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), em Pernambuco, deste ano, Kaeru convocou quem estava na cidade para tirar fotos e postar retratos e autorretratos com a hashtag no Instagram e no Facebook. “Curto muito trabalhos coletivos, nos quais o ego se dissolve. As pessoas se reconhecem nas fotos e isso mexe com a autoestima. Todo mundo se sente produtivo.
O designer, artista visual e músico h.d.Mabuse esteve entre os pioneiros no uso da arte e tecnologia no Recife. Foi um dos pioneiros do coletivo re.combo que, na virada dos anos 90 para os anos 2000, usou especialmente a música e o visual para explorar um formato colaborativo de criação, onde a autoria ficava em segundo plano com relação à obra.
Hoje ligado ao Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R), Mabuse realizou, no início de 2015, a exposição Marginais Herois, em parceria com o designer carioca Rico Lins. A mostra ocupou a galeria de arte Amparo 60 e, assim como o #FIGmatik, tinha entre suas características a habilidade em misturar referências digitais e analógicas. A exposição tinha a criação de cartazes como um dos motes e contava com o trabalho de Rico Lins e do xilogravurista pernambucano J. Borges. Para essa iniciativa, Mabuse ajudou a desenvolver um aplicativo com o mesmo nome da mostra. O público poderia enviar fotografias pelo Instagram e usar a hashtag #marginaisherois. O material enviado fez parte de uma instalação com projeções.
O artista também levanta outra questão relacionada ao uso massivo das redes: o engajamento do público e a relevância para ele. “O engajamento tem tanta relação com a poética e dinâmica da obra quanto com as características do meio (que é a mensagem). Sendo assim, ele tem tanto a chance de ser potencializado pelo acesso massivo, quanto se perder na cacofonia das redes mediadas por algorítimos comerciais”.
REDES SOCIAIS EM OUTRAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS
AUDIOVISUAL
Recentemente, há filmes que se apropriaram das redes sociais para mover a história, como o curta carioca O lugar mais frio do Rio, de Madiano Marcheti, o curta-metragem canadense Noah, de Walter Woodman e Patrick Cederberg, um drama de 17 minutos que se passa inteiramente dentro de um computador e o longa de terror norte-americano Unfriended, de Levan Gabriadze, que estreia no Recife na próxima quinta-feira.
LITERATURA
Vários escritores exploraram as possibilidades de escreverem microcontos no Twitter e já há livros feitos para serem vistos pelo Instagram, e o interesse do público por uma literatura compartilhada e interativa entre escritor e leitor se estenderam até a criação da rede social Wattpad. A professora e escritora pernambucana Mila Wander é um dos perfis mais bem sucedidos na rede, na qual os escritores podem publicar textos e os leitores podem comentar e até sugerir mudanças na trama. As histórias são publicadas em capítulos e entram no ar à medida que são escritas.
ARTES CÊNICAS
O Grupo Magiluth, do Recife, usou redes sociais para potencializar uma série de intervenções urbanas realizadas no Recife entre os meses de novembro e dezembro de 2013. Elas eram anunciadas pelo Facebook, registradas pelo Instagram e algumas delas pediram a mobilização de várias pessoas para procurar informações em mídias sociais.
MÚSICA
Os pesquisadores pernambucanos Jeraman e Filipe Calegario idealizaram um software baseado no Twitter, ainda em 2009, chamado Marvin Gainsbug. Ele foi programado para compor e executar canções em tempo real com letra e música. Os tuítes se transformaram em versos e a melodia, ritmo e harmonia são afetados pelas palavras que os compõem. O projeto circulou por vários festivais de arte e tecnologia do país e foi visto no Continuum - festival de arte e tecnologia de 2010.
CONCEITOS ÚTEIS PARA ENTENDER A ARTE NAS REDES SOCIAIS
ESTÉTICA RELACIONAL
Campo teórico desbravado nos anos 90 pelo crítico de arte e curador francês Nicolas Bourriaud, a estética relacional fala sobre obras de arte e artistas que tomam as relações humanas como ponto fundamental de partida. A arte contemporânea seria, então deslocada da mera contemplação para incluir o encontro e a participação em suas obras. As ideias individuais dos artistas são apenas o estopim para a construção de significados coletivos. Embora tenha surgido em um período no qual ainda não havia redes sociais, os pilares da estética relacional antecipam as discussões que acontecem hoje.
CROWDSOURCING
O termo, cunhado a partir da junção das palavras em inglês crowd (multidão) e outsourcing (terceirização) passou a fazer parte de várias áreas de atuação, inclusive nas artes, onde é chamado de crowdart. A colaboração de uma grande quantidade de pessoas para realizar determinada tarefa - algo que foi ainda mais popularizado com o uso da internet - é o coração do significado da palavra. Neste caso, o artista se torna uma pessoa que media a conexão entre as diferentes pessoas que compõem o trabalho. .