Para a vlogueira, como também são chamados os youtubers, o número de publicações do gênero deve aumentar nos próximos meses, em segmentos como culinária e maquiagem, além das histórias de vida. “Tudo está muito concentrado na internet, então é bacana ver as pessoas retomarem o hábito de sentar longe das telas e pegar algo material, como um livro”, reflete Kéfera - embora sua fama esteja diretamente atrelada ao ambiente virtual.
Bruno Porto, publisher dos selos comerciais da Cia.
>> TRÊS PERGUNTAS: Bruno Porto, publisher da Cia. das Letras
Há quem critique livros de youtubers por suposta falta de conteúdo, e os rotulam de “livros para os fãs”. Como selecionam os assuntos?
Claro que tem uma base de fãs que vai impulsionar a venda dos livros. Mas podem ser lidos também por quem não os conhece. O livro da Kéfera, por exemplo, fala sobre relacionamentos, namoro, moda, bullying. Uma adolescente terá interesse nisso.
As editoras “pegam carona” na fama?
Não é uma ciência exata. Muitos têm números expressivos na internet e as somas não migram para a literatura. Não garantido. Mas é um dado que não podemos deixar de considerar. Temos exemplos positivos, mas há também casos negativos no país e no exterior.
Kéfera vendeu mais de 53 mil exemplares somente neste mês. A que atribuem o sucesso editorial? Traçaram estratégias na editora?
Há uma grande comoção em torno dela. As fãs têm grande identificação com a história da Kéfera.
CONHEÇA:
Uma menina sensível que sofreu bullying na adolescência e agora usa o bom humor para falar a meninos e meninas de forma desbocada sobre as próprias experiências. Essa é a imagem que a curitibana de 22 anos “vende” no Youtube - plataforma na qual mantém o canal 5incominutos com 6,2 milhões de inscritos. Lançou este mês Muito mais que 5inco minutos (Cia. das Letras, R$ 24,90), dedicado a explorar a Kéfera pré-fama. Na publicação, a popstar da web fala sobre o primeiro beijo, as dificuldades com a matemática, o bullying e, assim como no Youtube, sobre moda e relacionamentos. As redes sociais de Kéfera reúnem, somadas, mais de 13 milhões de fãs. Muitos deles se aglomeraram na Bienal do Rio para conseguir um autógrafo do livro, o mais vendido na feira literária. Segundo dados da Publish News, plataforma que analisa o mercado editorial, Kéfera ocupa a segunda posição na lista de mais vendidos deste mês, com 53.851 exemplares, atrás somente de Grey (Intrínseca, R$ 24,90), que vendeu 63.040 exemplares.
Expressões e costumes da atualidade pautam os vídeos do paulistano Leonardo Bacci: as chamadas “falsianes”, o Snapchat, as mães atrapalhadas com a tecnologia e os grupos familiares no WhatsApp estão entre os temas mais populares. O canal Bom dia, Leo tem 470 mil inscritos e tem como público-alvo os jovens da geração Y. Em Bom dia, Leo - o livro (Bamboo Editorial, R$ 36), lançado neste semestre, o youtuber transforma os monólogos virtuais em crônicas do cotidiano. A publicação vem acompanhada de aplicativo para realidade aumentada: no app, o leitor tem acesso a depoimentos do autor, a um trailer e a um videoclipe.
Fanático por games, o youtuber mantém o canal Rezende Evil (4,1 milhões de inscritos) e publica vídeos sobre jogos, especialmente o Minicraft, no qual “construiu” um vilarejo virtual onde passa boa parte do tempo, todos os dias. Em Dois mundos, um herói - uma aventura não oficial de Minicraft (Cia. das Letras, R$ 19,90), narra uma aventura fantástica na qual ele mesmo vai parar do outro lado das telas. Rezende Evil encontra, na realidade paralela, versões de todos os personagens que criou no Minicraft, inclusive de si mesmo. O lançamento ocorre em novembro, mas o livro já está disponível em algumas livrarias.
Autor de Eu fico loko - as desaventuras de um adolescente nada convencional (Novas Páginas, R$ 16,10), lançado no início do ano, o youtuber lança, agora, Eu fico loko 2 (Novas páginas, R$ 17,80). No ranking da Publish News, o livro está entre os cinco mais vendidos (21.264 exemplares) deste mês. No canal Eu fiko loko - que soma pouco mais de 2 milhões de seguidores no Youtube - ele aborda experiências pessoais, como relacionamentos e viagens, e temas sugeridos pelos fãs, sempre relacionados ao cotidiano da juventude atual.
Criador do canal VegetariRango (28 mil inscritos), Flavio Giusti lança em novembro O manual de sobrevivência do vegetariano na cozinha - em pré-venda no site Likestore por R$ 39,90. A obra transforma em textos 50 das videoreceitas criadas e postadas por Giusti - coxinha de jaca e feijoada sem carne estão na lista. No livro, o youtuber acrescentou depoimentos de ativistas, nutricionistas e uma porta-voz da Sociedade Vegetariana Brasileira.
Conhecido por defender a virgindade até o casamento (movimento “escolhi esperar”), Rafael mantém o Canal MeApaixonei no Youtube, com 492,6 mil inscritos. Nos vídeos, fala sobre relacionamentos de forma romântica, além de narrar experiências pessoais com garotas e com a família. Reúne 24 crônicas reflexivas em Diário de um adolescente apaixonado (Novas Páginas, R$ 24,90). Rafael já foi um dos “colírios” da revista Capricho, tema que também vem à tona na publicação.