O mote desta edição é o mundo que se torna imagem e se faz mundo continuamente recriado. É recorrente a frontalidade: personagens e coisas, de frente para o espectador, a buscar diálogo sobre o “deslimite” entre o ficcional e o real. Atitude de fundação de um lugar aberto à criação – mais do que à crítica, como em outros tempos – a conceituar o real amparado exclusivamente na fé ingênua e no que se vê, como já observou um filósofo. Ou seja, sem meditação sobre o complexo tema “o que é ver”.
Esse contexto evidencia cenografia e coreografias, fazendo da imagem um pequeno teatro de infinitas possibilidades (e cinema, referência para a fotografia). Esse palco traz visões aprofundadas do mundo contemporâneo, além de comédias e dramas ligeiros.
Todos os trabalhos expostos no Festival Internacional de Fotografia são muito bem realizados. Ganham significado especial os artistas em busca de construções que ainda lutam por algo imprevisto e singular, capaz de somar o estético, o social, o político e o histórico.
Houve um tempo em que o “contemporâneo” teve vigor inaugural. Em especial, quando ostentou sua dúvida em relação à burocratização da modernidade. Ou, como escreveu o crítico Mário Pedrosa, quando artistas trocaram a autoexpressão pela comunicação. Perspectiva que, tornada linguagem dominante e praticamente absoluta na sociedade, hoje se confunde com fórmulas estandartizadas, formal e existencialmente pobres. Atualmente, a sensação é de que, dadas as formas ou práticas, está posto o desafio: produzir conteúdo.
As exposições do Festival Internacional de Fotografia, em doses mais leves se comparadas a outras mostras, trazem também muitos trabalhos “conceituais”, diálogo com proposições “antiestéticas” e manipulação de imagens. Mas o que fica na lembrança – e faz pensar – são as singelas imagens do sul-coreano Daesung Lee. O artista não é o único que chama a atenção, mas, talvez, seja o mais arguto dos autores selecionados pelo FIF.
MUNDO, IMAGEM, MUNDO
Fotografia. Vários autores
Palácio das Artes
Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. De terça-feira a sábado, das 9h30 às 21h; domingo, das 16h às 21h. Até 2 de novembro.
Casa de Fotografia de Minas Gerais
Avenida Afonso Pena, 737, Centro. De terça-feira a sábado, das 9h30 às 21h. Até 29 de novembro.
Espaço Cento e Quatro
Praça da Estação, 104, Centro. Segunda-feira, das 12h às 17h; de terça a sexta-feira, das 12h às 22h; sábado e domingo, das 16h às 22h. Até 8 de novembro.