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Em 2003, Laura vestiu com grandes saias de tule e cetim vermelho as colunas do Museu de Arte da Pampulha – a série investigava o passado da instituição como cassino. Em 2005, criou Enamorados: dois barcos, um de frente para o outro na lagoa, com luzes piscando alternadamente, como se flertassem. A versão dessa obra com gôndolas chegou à 51ª Bienal de Arte de Veneza.
A instalação deve ser envolvente a ponto de o visitante se relacionar diretamente com ela, jogando com suas próprias experiências e sensações. “Sem seguir a pauta do artista”, resume Laura. “Não é um trabalho sobre a Pampulha”, afirma, observando que as peças têm motivos bem mais amplos. Intervir ali não foi projeto deliberado, apesar de Laura considerar o conjunto arquitetônico singular e de ele ser diretamente ligado à sua biografia – foi lá que ela iniciou a carreira, como bolsista do programa Bolsa Pampulha.
SENTIMENTOS “Os trabalhos misturam contextos, nasceram da observação do local e têm consideração sobre a história dele, mas carregam meus sentimentos e outras questões”, esclarece Laura. Ela não quer que sua obra seja vista como laudatória à candidatura da Pampulha a patrimônio cultural da humanidade.
Tempo, memória, lugar, relações sociais e história são parte de Ilha restaurante. “Trouxe tudo isso para a contemporaneidade”, frisa a autora, disposta a evitar que o trabalho seja tomado como construção saudosista ou simplesmente celebração estética.
Ilha restaurante expressa o fracasso das utopias do modernismo, diz a autora. De um lado estão sonhos e a construção de espaços ideais para o bem viver. De outro a impossibilidade de concretizar esse objetivo. A Casa do Baile, explica ela, foi projetada para ser restaurante popular dançante, mas jamais cumpriu essa função. O espaço se elitizou, a falta de transporte público impediu o povo de chegar até lá. Registrado pela imprensa nos anos 1940, esse problema não foi resolvido até hoje. “Isso também é história da Pampulha, não é só um percurso de glamour”, adverte.
“A Pampulha tem beleza e singularidade, inclusive está entre as coisas mais interessantes que Oscar Niemeyer fez, mas é preciso deselitizá-la. O patrimônio cultural não pertence a uma só classe social”, defende Laura. Para ela, vários temas importantes deveriam nortear o processo para tornar a Pampulha patrimônio da humanidade. Qual é o papel e a função de um lugar assim? Como agregar a sociedade àquele espaço? O que são e o que realmente significam aqueles prédios?
“Trago essas questões porque enriquecem o meu trabalho, fazem com que ele se torne mais complexo”, explica. Com elementos sutis, ela convida à leitura mais complexa, à abordagem de temas esquecidos. “Arte contemporânea também pode ser possibilidade de reflexão e reinvenção de um local”, conclui Laura Belém.
Site especifico
Há uma década e meia, Laura Belém trabalha com site especific. Criado especialmente para local ou situação específicos, esse tipo de instalação dialoga com arquitetura, história, fantasias e usos daquele lugar. “É um exercício chegar a um local e ser capaz de percebê-lo, ouvir o que ele tem a dizer”, explica a artista. A ideia é buscar outras percepções do espaço, “fazendo reverberar a cultura, a sociedade, a cidade e muito mais”, observa. Obras assim envolvem trabalho com arquitetos e lidar com croquis, plantas e negociações, pois muitas vezes o uso do espaço é regulado.
ILHA RESTAURANTE
Instalação de Laura Belém. Abertura hoje, às 17h. Até 22 de novembro. Casa do Baile, Avenida Otacílio Negrão de Lima, 751, Pampulha. Funciona de terça-feira a domingo, das 9h às 18h. Entrada franca.