BH recebe a mostra 'Zeitgeist - A arte da nova Berlim'

A partir de amanhã, evento traça um panorama da produção artística na capital alemã um quarto de século após a queda do muro

por Walter Sebastião 20/10/2015 08:00

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Galeria Leme/Divulgação
(foto: Galeria Leme/Divulgação)
Uma cidade que carrega cicatrizes de muitos dramas – de conflitos bélicos em escala mundial às ameaças atômicas, passando pelo fato de ter sido dividida ao meio por quase meio século. Uma cidade que, devido ao seu gosto, antigo e cultivado, por boêmia e cultura, gerou um tipo de arte que é mistura singular de ativismo social, música e olhar desconfiado sobre o mundo industrial.

Assim a capital alemã aparece na exposição Zeitgeist – A arte da nova Berlim, que será aberta ao público amanhã, no Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte. “É um retrato da cena artística da cidade 25 anos após a queda do muro”, explica Alfons Hug, curador da exposição.

“A vida improvisada, que se caracterizava por insondáveis relações de propriedade nos anos 1990 foi se adensando até formar o Zeitgeist que hoje projeta sua influência de Berlim para muito além da Europa Central, atraindo artistas do mundo todo com seu magnetismo”, diz Hugs. Esse percurso é apresentado por seis diferentes caminhos.

Tempo que corre e tempo estagnado é o registro de tempo próprio, presente e futuro. A ruína como categoria estética tematiza a busca do sentido de beleza entre marcas de destruição, deterioração e devastação humana. Eterna construção e demolição remete à fúria construtiva que deseja apagar o passado e a melancolia associada ao abandono de muitas construções e espaços em ruínas.

Segundo pontua Hugs, O vazio e o provisório mostra a multiplicidade de formas criativas, espontâneas e muitas vezes ilegais de ocupação dos grandes espaços baldios ou semidestruídos, transformados em ateliês ou endereços underground de arte e convívio, que moveram outras possibilidades estéticas. Já Hedonismo cruel pontua a Berlim “terra de ninguém”, onde surgiu uma curiosa e original cena clubber. Novos mapas e os outros modernos investiga o redesenho da cartografia da cidade e da própria Alemanha e suas relações com o resto do mundo após a queda do muro

“Chama a atenção, no contexto artístico da cidade, a  ausência de uma ‘corte’ cultural que, em outras capitais da Europa, paralisa a criação artística com sua etiqueta e normas não escritas, além da falta de nacionalismo. A produção promove crossover entre disciplinas como filosofia, literatura, sociologia, música contemporânea, teatro e cinema”, analisa Hug.

Essa prática se soma a uma história já povoada de outras referências e ícones, desde a vanguarda dos anos 1920 até os protestos estudantis de 1968, passando, claro, pela ascensão e queda do nazismo. “A 2ª Guerra e a Reconstrução fizeram da cidade uma verdadeira colcha de retalhos, cheia de fragmentos divididos entre a maldição da memória e as experimentações rumo ao século 21”, afirma.

UTOPIAS
 
“Berlim abriga tanta história e tantas utopias fracassadas que pode ser considerada a mais pura cidade pós-moderna”, avalia o curador. “Está em vias de tornar-se o ponto de interseção entre Ocidente e Oriente e voltar a ocupar a posição central na Europa que já detinha no início do século 20.”

Segunde ele, os artistas berlinenses têm a particularidade de manter aceso o potencial crítico da arte. “A cultura de massa é examinada com olho crítico e todos os recursos possíveis. Com frequência, o processo de produção e a questão da agregação de valor na arte passam a ser o tema de seus trabalhos. Muitos gostam de procurar seus motivos fora do discurso e da história da arte e, para tanto, lançam mão de estratégias documentais.”

Alfons Hug tem 65 anos. Nasceu em Hochdorf, Sul da Alemanha. É formado em linguística, literatura comparada e estudos culturais em Freiburg, Berlim, Dublin e Moscou. Foi curador do 25ª e 26ª Bienal de São Paulo, em 2002 e 2004. Já dirigiu os Institutos Goethe em Lagos, Medellín, Brasília, Caracas, Moscou, Rio de Janeiro e, no momento, em Cingapura.

Em 2015, o alemão foi o curador do pavilhão da América Latina na Bienal de Veneza, pela segunda vez, já tendo sido responsável pelo pavilhão brasileiro na mesma mostra. “Não dá para comparar a arte da nossa época com a de outras épocas. Mas diria que a arte contemporânea demonstra boa saúde em muitas partes do mundo, entre elas o Brasil”, afirma.

Em seu trabalho como curador, ele procura dar privilégio à forma da obra e não só ao conteúdo, segundo diz. “Não devemos confundir jamais a arte com reportagem. Outro princípio do meu trabalho tem sido buscar a arte nos confins do mundo: nos Andes, na África Central ou no Sul da Ásia, ou seja, em regiões consideradas ‘periféricas’, onde a arte contemporânea surge relativamente tarde.”

Hug organiza uma exposição a ser apresentada no Rio de Janeiro, em 2016, durante os Jogos Olímpicos. Vai reunir obras criadas por diversos artistas que irão assistir, em outubro, aos Jogos Indígenas em Palmas (Tocantins).


DEBATE

Amanhã, no dia da abertura da mostra, será realizada no Teatro I do CCBB, às 18h30, uma mesa-redonda. Participam o artista Sven Marquardt e Heiko Hoffmann, curador da eixo da exposição chamado Sala Clube Berlim. A mediação é do curador Alfons Hug.

ARTISTAS

Confira os participantes da exposição

» Christian Jankowski
» Cyprien Gaillard
» Frank Thiel
» Franz Ackermann
» Friederike von Rauch
» Julian Rosefeldt
» Julius von Bismarck e Julian Charrière
» Kitty Kraus
» Marc Brandenburg
» Marcel Dettmann
» Marcellvs L
» Mark Formanek
» Martin Eberle
» Michael Wesely
» Norbert Bisky
» Reynold Reynolds
» Sergej JensenSven Marquardt
» Thomas Florschuetz
» Thomas Rentmeister
» Thomas Sc heibitz
» Tobias Zielony
Sala Clube Berlim:
» Rødhåd
» Head High
» Massimiliano Pagliara
» Answer Code Request
» Tale Of Us
» David August
» Modeselektor

Zeitgeist – A arte da nova Berlim
Coletiva com obras de 29 artistas da recente cena berlinense. A partir de amanhã, no CCBB BH, Praça da Liberdade, 450, Belo Horizonte, (31) 3431-9400. De quarta a segunda-feira das 9h às 21h. Até 11 de janeiro de 2016.

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