A pedido da editora Denyse Cantuária, Marcelo pôs no papel um depoimento sobre sua nova experiência de vida: o uso de um aparelho visto com reticências e preconceito. O resultado é o livro A estranha, que será lançado amanhã na Livraria Asa de Papel, em BH.
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Quando a cadeira de rodas chegou à sua casa, Marcelo a considerou uma estranha. “Hoje, é uma velha, querida e inseparável amiga. É minha cadeirinha maravilhosa”, diz. Aliás, são duas: a manual e a motorizada, esta última presente de amigos. “Dependendo da pista, ela dá a você autonomia total. Você se torna pedestre motorizado. Recriada por designers, vai ser o veículo do futuro”, prevê. E argumenta: “Silenciosa, não poluente e recarregável, ocupa pouco espaço. Vamos deixar de ser motoristas para ser ‘cadeiristas’. Ninguém vai precisar mais sair de casa de carro, carregando essa lata enorme, barulhenta e poluente”.
Tal previsão veio de uma estripulia: num domingo de poucos automóveis, Marcelo Xavier dirigiu sua cadeira no asfalto, o que rendeu uma observação crítica sobre a mobilidade urbana. “Como carro rende dinheiro – governos, empresas, fabricantes, publicidade, todos lucram com ele –, seu caminho é um tapete, uma maravilha. Basta aparecer um buraco e surgem, rapidamente, máquinas e funcionários para consertá-lo”, critica. “Calçadas têm buracos, degraus e inclinações difíceis de transpor que atrapalham tanto os cadeirantes quanto um monte de gente”, observa. Por isso, Marcelo convoca “uma cadeirada” para amanhã, dia do lançamento de seu livro. Quer reunir quem se identifica com a causa para protestar.
GULOSO Saber que a doença avança progressivamente foi um susto. “Sempre fui guloso de vida, não tinha limites. Com o tempo, as ladeiras começam a ficar mais inclinadas, o meio-fio absurdamente alto, a bandeja de self-service muito pesada. Sentia o mundo mudando, não eu”, revela Marcelo Xavier. Um cansaço estranho ao passear pelo Bairro da Liberdade (SP), há 20 anos, já era sintoma da ELA.
“A doença trouxe coisas positivas, como diminuir a minha vaidade. Esse sentimento toma espaço demais na vida da gente. Vaidade vira quase uma ditadora”, adverte. A evolução da pesquisa científica possibilitou à família de Marcelo Xavier identificar o mal que já havia atingido vários de seus integrantes. Dos seis irmãos do escritor, quatro tiveram ELA. Os Xavier são acompanhados por equipe de pesquisadores do Grupo de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP), dirigido pela doutora Mayana Zatz. “Somos, com prazer, ratos de laboratório”, diz.
>> De Marcelo Xavier
>> Sete Luas/Monkix
>> 32 páginas, R$ 54,90
>> Lançamento amanhã, às 10h30, na Livraria Asas de Papel. Rua Piauí, 631, Santa Efigênia, (31) 3567-8069
Multipremiado
Marcelo Xavier, de 66 anos, nasceu em Ipanema (MG) e foi criado em Vitória (ES). Artista plástico, cenógrafo, figurinista e escritor, o mineiro tem 20 obras publicadas. Entre elas, Truques coloridos, O dia a dia de Dadá, Tem de tudo nesta rua e Se criança governasse o mundo. Marcelo recebeu os prêmios Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (em 1994, 2001 e 2005); APCA, concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (em 1990 e 1993); e da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (em 1987, 1990, 1993, 1998 e 2001).
“ Silenciosa,não poluentee recarregável,ocupa poucoespaço. Vamos deixar de ser motoristas para ser cadeiristas”
MARCELO XAVIER, escritor