São cerca de 1,2 mil páginas e 783 textos que analisam e revisitam quase três décadas do teatro brasileiro. O livro Amor ao teatro (Edições Sesc) reúne críticas publicadas nos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, que revelam a história das artes cênicas no Brasil sob a ótica de um intelectual atento e militante, seja em sala de aula seja na redação de jornais: o mineiro Sábato Magaldi, de 88 anos.
A escritora destaca que constatar a erudição de Sábato e a seriedade com que ele sempre escreveu só aumentou sua admiração pelo companheiro. Ela diz que alguns amigos chegaram a criticá-la por parar de se dedicar à própria literatura para escrever 'Amor ao teatro'. Mas ela não se importou. “Pra mim, foi profundamente importante. No último ano em que ele assinou a coluna no Jornal da Tarde, vimos 156 espetáculos. Ele sempre achou um privilégio sair de casa todas as noites para ir ao teatro. Confesso que achei que a aposentadoria seria a melhor coisa. Ele poderia, então, se dedicar aos livros. Nenhum profissional de teatro publicou tantos títulos no Brasil”, afirma.
CRÍTICA Edla van Steen lamenta a redução do espaço que os jornais dão para as críticas. Sábato Magaldi chegava a redigir até 15 laudas antes da estreia dos espetáculos. “Hoje, os espaços estão divididos e os críticos têm que dizer muito em poucas palavras”, afirma. A escritora acrescenta que a função do crítico, para Sábato, é bem objetiva: apesar de assistir à peça como qualquer espectador, ele precisa de preparo técnico para explicar bem sua opinião.
“Um bom profissional precisa também ser sensível às mutações contínuas da realidade teatral e, acima de tudo, explicar escrevendo muito e bem. Isso, aliás, é essencial: um profissional precisa saber se expressar. Sábato diz preferir um crítico que entenda menos de teatro, mas que escreva bem, àquele que não sabe transmitir seu conhecimento”, afirma ela.
Segundo Edla, não é surpresa que o marido seja considerado o maior crítico do país. “Quando decidiu ser crítico de teatro, aos 21 anos, ele foi estudar estética na Sorbonne. Sua biblioteca teatral é invejável e mostra sua erudição, o pesquisador que ele foi, o historiador de teatro brasileiro, o professor de muitos atores, autores e diretores. Aliás, dar aulas sempre foi o que ele mais gostou de fazer na vida. Preparava-se metodicamente para as aulas, são inúmeras as páginas manuscritas em que anotava os temas a serem abordados, para que nada ficasse esquecido. Um verdadeiro intelectual”, ressalta.
Belo-horizontino, Sábato Magaldi mora há muitos anos em São Paulo. Edla conta que ele sempre se sentiu um "peixe fora d´água", porque estava longe da sua cidade e da família. “O poeta Antonio Carlos de Brito escreveu um verso que sempre me tocou: 'Minha infância é o meu país, por isso vivo no exílio'. Sábato nasceu e cresceu em Belo Horizonte, com os pais e sete irmãos. Nos últimos anos, fomos a BH, na maioria das vezes para assistir a enterros familiares. Vários amigos de adolescência já se foram também, mas outros estão vivos. Sábato é o mais mineiro dos mineiros que conheço”, conclui.
O AUTOR NA ACADEMIA
Com Edla Van Steen. Lançamento do livro 'Amor ao teatro – Sábato Magaldi'. Nesta quarta-feira (dia 14), às 19h. Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Centro). Capacidade: 100 lugares. Trinta exemplares estarão à venda pelo preço simbólico de R$ 20 (nas livrarias, custa R$ 154).