Antes vistas apenas como transformistas, elas agora são reconhecidas como rainhas. As drag queens viraram estrelas em eventos, festas e shows e boates em points de Belo Horizonte, como a Savassi. Este ano, a capital recebeu várias artistas estrangeiras, que ajudaram a fomentar a cena mineira.
“Sempre tivemos em BH uma cena gay bastante expressiva, com transformistas e atores. O termo drag só ganhou força na década de 1990”, conta Dolly Piercing, um dos nomes mais fortes da capital.
Quinta-feira passada, o Mercado das Borboletas, no Centro, foi tomado pela energia e animação de Yekaterina Petrovna Zamolodchikova – ou Katya, como é mais conhecida. Participante da sétima temporada do reality show RuPaul’s drag race, exibido no Brasil pelo canal Multishow, a artista “bombou”: 1 mil ingressos foram vendidos. Um dos fãs era Matheus Vilela, de 19 anos, que administra uma das páginas brasileiras no Facebook sobre o programa. Ele chegou a perder o sono por causa da festa.
O sucesso de eventos drags e a curiosidade do público têm surpreendido quem atua nos bastidores. O produtor cultural Ed Luiz, do grupo @bsurda, explica que festas em BH que normalmente atrairiam gays têm chamado a atenção de outros públicos.
“Aumentou a curiosidade. Ficamos surpresos com a quantidade de meninas e héteros que gostam do programa de RuPaul”, afirma. A plateia varia de acordo com a estrela. “Tem muito essa coisa de fã. Às vezes, quem gosta da Sharon não gosta da Latrice e assim vai”, revela.
STREAMING
O reality show RuPaul’s drag race faz sucesso no Brasil. Além de as primeiras temporadas estarem disponíveis no serviço de streaming Netflix, o canal Multishow começou a exibir o programa em agosto. Projetadas pela internet, várias ex-participantes da atração vieram ao país. Só este ano, cinco se apresentaram em BH, além de Katya. Nos últimos meses, Jujubee, Coco Montrese, Trixie Mattel, Sharon Needles e Latrice Royale vieram à capital.
Além disso, mineiros viajaram a outros estados para conferir performances das “meninas” de RuPaul. Jairo Lucas, de 20, foi ao Ceará só para conhecer Alaska, uma das participantes mais famosas do programa. “É difícil descrever a sensação de conhecer alguém que, mesmo indiretamente, influenciou e ajudou tanto a me tornar quem sou”, comenta o estudante de engenharia química, que capricha na produção, com direito a peruca, maquiagem e brilhos, para participar de festas. “Conversei com ela por uns três minutos”, conta Jairo.
Conhecer alguém admirado apenas pela TV e vídeos amadores na internet é especial para o fã-clube das estrelas do universo drag. Em agosto, Gustavo Assis, estudante de publicidade e propaganda, conversou, abraçou e tirou fotos com Sharon Needles, vencedora da quarta temporada do reality americano. “Sharon é um amor de pessoa. Interage com o pessoal a toda hora, faz brincadeiras. Além do mais, sabe o que faz”, comenta.
Apesar de as estrelas virem dos Estados Unidos, nomes locais roubam a cena. Drags de BH e de outras cidades do país têm empolgado o público em eventos protagonizados por nomes famosos. Organizador da festa Crazy Bitch, no Mercado das Borboletas, Gustavo Drummond diz que é importante valorizar a prata da casa. “Até queens internacionais têm elogiado as drags locais. O público vem tomando amor por elas”, conta o produtor, estudante de relações internacionais.
Ed Luiz admite que ainda há resistência às drags locais, muitas vezes devido à rivalidade entre elas. “Várias não querem se apresentar se a outra estiver no palco. Eu mesmo ouvi críticas por chamar determinada drag, mas temos afinidade com algumas delas, que vão se tornando parceiras”, conta.
Dolly, a estrela de Belo Horizonte
Dolly Piercing é um dos nomes mais conhecidos de BH. De animadora de festas à performance em baladas, ela acumulou várias histórias ao longo de seus 20 anos de carreira. Tudo nasceu da paixão pelo teatro e do fascínio pelo mundo feminino. “É uma coisa mais de identidade. Desde criança desenhava figuras femininas. Seriados que passavam na época da minha infância, com mulheres muito em evidência, eram fonte de inspiração”, relembra. Silvio Santos – quem diria – foi fundamental para Dolly. “No programa Show de calouros, apresentado por ele, havia um bloco especial para transformistas”, conta, revelando que brincava com as roupas e maquiagens da mãe.
Para ela, a popularização de programas como o de RuPaul ajudou o público a conhecer sua arte. “A nova geração não conhecia de perto a drag queen. Nas festas, as pessoas estranhavam e não sabiam nos diferenciar dos travestis. O programa ajuda quem já está no mercado há vários anos, além de abrir portas para novas pessoas”, completa.
Drag queens são artistas cujas performances se baseiam em uma versão caricatural do universo feminino. Roupas, maquiagem e perucas imitam de maneira exagerada o visual de mulheres e as referências costumam vir de alguma celebridade. Em cena, os números de drags geralmente tendem para o humor, com piadas que têm como alvo tanto a cultura pop quanto o público e o próprio artista. Outro elemento clássico do gênero é a dublagem de canções consagradas, o chamado lip sync. Travestis são pessoas transexuais que se identificam com o gênero oposto àquele de nascimento.
Drags afirmam que entre seus objetivos está lutar pelo reconhecimento de uma arte, expandir horizontes e eliminar preconceitos. Em cada apresentação está um pedaço da história do artista. “São questões emotivas e psicológicas. Tudo isso vem junto de minha personagem. Drag queen não pode ser apenas uma questão estética”, diz Dolly.
KARDASHIAN
Estudante de letras, Lucas Rodrigues, há poucos meses, assumiu a identidade drag de Aimée Dezon. Apesar da pouca experiência, o rapaz, que trocou João Monlevade por BH, inspirou-se nas socialites americanas Kylie Jenner e Kim Kardashian, estrelas de um reality show.
Ser drag, afirma ele, é muito mais do que se vestir de mulher. “É uma manifestação mesmo. Agora, quando estou como Lucas, desmontado (sem fantasia e figurino), não sou a Aimée. É diferente. Sou muito mais expansivo quando montado. Brigo mais pelas causas, não sinto tanto medo. A Aimée é frágil pelo fato de me expor, embora mesmo assim me sinta muito mais forte”, relata.
O ÍCONE
Importante figura da comunidade gay nos EUA, RuPaul (foto) começou a carreira como drag queen em boates de Atlanta e Nova York, destacando-se também no cinema e na música. Em 2009, começou a buscar a “próxima estrela drag americana” com o reality show RuPaul’s drag race. Com sete temporadas exibidas até agora, a atração reuniu cerca de 100 artistas com diferentes estilos e personalidades.
VEM AÍ
Em dezembro, Laganja Estranja e Gia Gunn, competidoras da sexta temporada de RuPaul’s drag race, vão se apresentar em BH ao lado de BibleGirl, que não participou do programa, mas está cogitada para a oitava temporada. Em janeiro, outra “garota” de RuPaul, Courtney Act, promete trazer a turnê de seu último disco, Kaleidoscope, à capital mineira. Os locais dos shows ainda não foram definidos.
CACHÊS
Os valores pagos em BH a participantes do RuPaul’s drag race variam. Por shows restritos a dublagens, elas recebem de US$ 1 mil a US$ 2 mil. Artistas com performances mais elaboradas, sobretudo as cantoras, podem ganhar até US$ 6 mil por noite. Bianca del Rio, vencedora de uma das temporadas da atração e estrela nos EUA, cobra US$ 12 mil por performance. As drags de BH ganham de R$ 200 (caso das iniciantes) a R$ 1 mil por apresentação.
*Por Gabriel Lomasso
“Sempre tivemos em BH uma cena gay bastante expressiva, com transformistas e atores. O termo drag só ganhou força na década de 1990”, conta Dolly Piercing, um dos nomes mais fortes da capital.
Quinta-feira passada, o Mercado das Borboletas, no Centro, foi tomado pela energia e animação de Yekaterina Petrovna Zamolodchikova – ou Katya, como é mais conhecida. Participante da sétima temporada do reality show RuPaul’s drag race, exibido no Brasil pelo canal Multishow, a artista “bombou”: 1 mil ingressos foram vendidos. Um dos fãs era Matheus Vilela, de 19 anos, que administra uma das páginas brasileiras no Facebook sobre o programa. Ele chegou a perder o sono por causa da festa.
O sucesso de eventos drags e a curiosidade do público têm surpreendido quem atua nos bastidores. O produtor cultural Ed Luiz, do grupo @bsurda, explica que festas em BH que normalmente atrairiam gays têm chamado a atenção de outros públicos.
“Aumentou a curiosidade. Ficamos surpresos com a quantidade de meninas e héteros que gostam do programa de RuPaul”, afirma. A plateia varia de acordo com a estrela. “Tem muito essa coisa de fã. Às vezes, quem gosta da Sharon não gosta da Latrice e assim vai”, revela.
STREAMING
O reality show RuPaul’s drag race faz sucesso no Brasil. Além de as primeiras temporadas estarem disponíveis no serviço de streaming Netflix, o canal Multishow começou a exibir o programa em agosto. Projetadas pela internet, várias ex-participantes da atração vieram ao país. Só este ano, cinco se apresentaram em BH, além de Katya. Nos últimos meses, Jujubee, Coco Montrese, Trixie Mattel, Sharon Needles e Latrice Royale vieram à capital.
Além disso, mineiros viajaram a outros estados para conferir performances das “meninas” de RuPaul. Jairo Lucas, de 20, foi ao Ceará só para conhecer Alaska, uma das participantes mais famosas do programa. “É difícil descrever a sensação de conhecer alguém que, mesmo indiretamente, influenciou e ajudou tanto a me tornar quem sou”, comenta o estudante de engenharia química, que capricha na produção, com direito a peruca, maquiagem e brilhos, para participar de festas. “Conversei com ela por uns três minutos”, conta Jairo.
Conhecer alguém admirado apenas pela TV e vídeos amadores na internet é especial para o fã-clube das estrelas do universo drag. Em agosto, Gustavo Assis, estudante de publicidade e propaganda, conversou, abraçou e tirou fotos com Sharon Needles, vencedora da quarta temporada do reality americano. “Sharon é um amor de pessoa. Interage com o pessoal a toda hora, faz brincadeiras. Além do mais, sabe o que faz”, comenta.
Apesar de as estrelas virem dos Estados Unidos, nomes locais roubam a cena. Drags de BH e de outras cidades do país têm empolgado o público em eventos protagonizados por nomes famosos. Organizador da festa Crazy Bitch, no Mercado das Borboletas, Gustavo Drummond diz que é importante valorizar a prata da casa. “Até queens internacionais têm elogiado as drags locais. O público vem tomando amor por elas”, conta o produtor, estudante de relações internacionais.
Ed Luiz admite que ainda há resistência às drags locais, muitas vezes devido à rivalidade entre elas. “Várias não querem se apresentar se a outra estiver no palco. Eu mesmo ouvi críticas por chamar determinada drag, mas temos afinidade com algumas delas, que vão se tornando parceiras”, conta.
Dolly, a estrela de Belo Horizonte
Dolly Piercing é um dos nomes mais conhecidos de BH. De animadora de festas à performance em baladas, ela acumulou várias histórias ao longo de seus 20 anos de carreira. Tudo nasceu da paixão pelo teatro e do fascínio pelo mundo feminino. “É uma coisa mais de identidade. Desde criança desenhava figuras femininas. Seriados que passavam na época da minha infância, com mulheres muito em evidência, eram fonte de inspiração”, relembra. Silvio Santos – quem diria – foi fundamental para Dolly. “No programa Show de calouros, apresentado por ele, havia um bloco especial para transformistas”, conta, revelando que brincava com as roupas e maquiagens da mãe.
Para ela, a popularização de programas como o de RuPaul ajudou o público a conhecer sua arte. “A nova geração não conhecia de perto a drag queen. Nas festas, as pessoas estranhavam e não sabiam nos diferenciar dos travestis. O programa ajuda quem já está no mercado há vários anos, além de abrir portas para novas pessoas”, completa.
Drag queens são artistas cujas performances se baseiam em uma versão caricatural do universo feminino. Roupas, maquiagem e perucas imitam de maneira exagerada o visual de mulheres e as referências costumam vir de alguma celebridade. Em cena, os números de drags geralmente tendem para o humor, com piadas que têm como alvo tanto a cultura pop quanto o público e o próprio artista. Outro elemento clássico do gênero é a dublagem de canções consagradas, o chamado lip sync. Travestis são pessoas transexuais que se identificam com o gênero oposto àquele de nascimento.
Drags afirmam que entre seus objetivos está lutar pelo reconhecimento de uma arte, expandir horizontes e eliminar preconceitos. Em cada apresentação está um pedaço da história do artista. “São questões emotivas e psicológicas. Tudo isso vem junto de minha personagem. Drag queen não pode ser apenas uma questão estética”, diz Dolly.
KARDASHIAN
Estudante de letras, Lucas Rodrigues, há poucos meses, assumiu a identidade drag de Aimée Dezon. Apesar da pouca experiência, o rapaz, que trocou João Monlevade por BH, inspirou-se nas socialites americanas Kylie Jenner e Kim Kardashian, estrelas de um reality show.
Ser drag, afirma ele, é muito mais do que se vestir de mulher. “É uma manifestação mesmo. Agora, quando estou como Lucas, desmontado (sem fantasia e figurino), não sou a Aimée. É diferente. Sou muito mais expansivo quando montado. Brigo mais pelas causas, não sinto tanto medo. A Aimée é frágil pelo fato de me expor, embora mesmo assim me sinta muito mais forte”, relata.
O ÍCONE
Importante figura da comunidade gay nos EUA, RuPaul (foto) começou a carreira como drag queen em boates de Atlanta e Nova York, destacando-se também no cinema e na música. Em 2009, começou a buscar a “próxima estrela drag americana” com o reality show RuPaul’s drag race. Com sete temporadas exibidas até agora, a atração reuniu cerca de 100 artistas com diferentes estilos e personalidades.
VEM AÍ
Em dezembro, Laganja Estranja e Gia Gunn, competidoras da sexta temporada de RuPaul’s drag race, vão se apresentar em BH ao lado de BibleGirl, que não participou do programa, mas está cogitada para a oitava temporada. Em janeiro, outra “garota” de RuPaul, Courtney Act, promete trazer a turnê de seu último disco, Kaleidoscope, à capital mineira. Os locais dos shows ainda não foram definidos.
CACHÊS
Os valores pagos em BH a participantes do RuPaul’s drag race variam. Por shows restritos a dublagens, elas recebem de US$ 1 mil a US$ 2 mil. Artistas com performances mais elaboradas, sobretudo as cantoras, podem ganhar até US$ 6 mil por noite. Bianca del Rio, vencedora de uma das temporadas da atração e estrela nos EUA, cobra US$ 12 mil por performance. As drags de BH ganham de R$ 200 (caso das iniciantes) a R$ 1 mil por apresentação.
*Por Gabriel Lomasso