Um pedaço da história do Brasil que foi sequestrado. É assim que o jornalista e escritor Lucas Figueiredo se refere aos documentos sigilosos do período da ditadura ainda mantidos ocultos. Ele lança hoje, no Memorial Minas Gerais Vale, o livro Lugar nenhum – Militares e civis na ocultação dos documentos da ditadura. Trata-se de uma reportagem investigativa para a qual Lucas Figueiredo teve acesso a um conjunto de documentos mantidos sob sigilo pelo Cenimar, o antigo serviço secreto da Marinha.
As informações que ele reproduz indicam que entre 1972, e 1973 a força naval microfilmou mais de 1,2 milhão de páginas de documentos da ditadura. Esse material tem, por exemplo, mais de 40 mil páginas de prontuários sobre o que as Forças Armadas denominavam como “pessoas mortas”. “Eram, na sua maioria, vítimas da ditadura, muitas delas desaparecidas há cerca de 40 anos. Desse acervo de mais de 1,2 milhão de microfilmes, tive acesso a 2.775. Se apenas os documentos que vi revelam muito sobre a ditadura, podemos imaginar que o acervo completo encerra uma boa parte da história do Brasil”, diz.
De acordo com Figueiredo, não apenas a Marinha, mas a Aeronáutica e o Exército fizeram o mesmo. “Precisamos exigir que esse material venha a público”, cobra. Para o autor, a descoberta mais surpreendente na análise dos documentos é a constatação de que a ocultação dos arquivos da ditadura não é apenas uma obra de militares, mas também de civis. “Presidentes da República do pós-ditadura, ministros da Defesa, autoridades, foram muitos os civis que ajudaram (e ainda ajudam) a manter as gavetas trancadas”, denuncia.
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Em 2012, o governo Dilma Rousseff decretou a abertura e investigação dos arquivos referentes ao período militar. De acordo com Figueiredo, a presidente agiu de modo burocrático. “Isso está provado no livro. Aliás, ela e todos os demais presidentes civis do pós-ditadura: Sarney, Collor, Itamar, FHC, e Lula –, Dilma, fizeram, no mínimo, corpo mole. De Sarney a Dilma, todos os presidentes civis do pós-ditadura poderiam dizer aos comandantes militares que a desculpa da destruição total (e corriqueira) dos arquivos é inaceitável”, critica.
Assim, como Figueiredo ressalta, até hoje não subiu a rampa do Palácio do Planalto alguém disposto a implantar essa agenda complexa e sujeita a turbulências. Embora reconheça que não seja simples exigir dos militares explicações convincentes, o autor não acredita que haveria risco de golpe. “Mas certamente haveria tensão política e tensão nos quartéis.”
LANÇAMENTO E DEBATE
Lugar nenhum – militares e civis a ocultação dos documentos da ditadura
Hoje, às 18h30. Memorial Minas Gerais Vale.
Praça da Liberdade, s/nº. Entrada franca