Quando o cineasta Rafael Conde tinha 15 anos, assistiu à peça As lágrimas amargas de Petra von Kant, com Fernanda Montenegro, Juliana Carneiro da Cunha e Renata Sorrah, atrizes dirigidas por Celso Nunes. Apresentada em 1982, a montagem se tornou antológica na história das artes cênicas do país. Foi algo tão grandioso, que o teatro, automaticamente, tornou-se um território inalcançável para ele.
“Respeito muito. A coisa mais difícil do mundo é fazer teatro”, diz Rafael. Depois de 30 anos de dedicação ao cinema, o diretor dos longas Samba-canção (2002) e Fronteira (2008), premiado pelo curta Françoise (2001), começa a criar coragem para se aventurar no palco. O primeiro passo já foi dado: a peça A brincadeira estreia no dia 17, no Centro Cultural Banco do Brasil, em BH.
A adaptação do conto homônimo de Anton Tchekhov (1860-1904) parte de um projeto de pesquisa que o cineasta coordena na Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Conde assina a direção em parceria com Júlio Vianna. Homem de cinema, ele faz questão de explicar: a parte teatral é muito mais de Júlio do que dele. Rafael confessa que está experimentando – e aprendendo – no palco. Com brilho nos olhos, encanta-se com a face cinematográfica que essa montagem teatral carrega.
“Cinema é cinema. Teatro é teatro. Não tem jeito. Estamos testando as intercessões entre as duas linguagens. O encontro ao vivo é no teatro. Encontro mediado pela câmera e a projeção é cinema”, sintetiza Rafael.
MISTURA
A brincadeira pretende questionar espaços em que as interpretações no cinema e no teatro se encontram, se afastam, e as possibilidades de as duas linguagens comungarem do mesmo universo. Assim, a obra que ocupará o palco do CCBB traz, no mínimo, a possibilidade de mesclar as duas expressões artísticas.
“O conflito é muito positivo. A gente entrou nisso juntos, em um lugar desconhecido”, diz Júlio Vianna. Há três anos, os dois começaram a conversar sobre a possibilidade de um “encontro de currículos”. A dupla vem de gerações diferentes e de áreas diferentes. Os dois têm pensamentos diferentes, mas se respeitam. E querem construir algo que surpreenda.
Grosso modo, há um curta-metragem dentro da peça e vice-versa. O projeto é protagonizado pelos atores Maria Bonome e Rafael Protzner. Namorados na vida real, eles interpretam o casal Nádia e Ivan, personagens do conto A brincadeira. Rafael Conde se responsabilizou pelo roteiro, enquanto Júlio Vianna ainda está concluindo a dramaturgia.
Embora tenha carreira como cineasta, Rafael Conde fez doutorado em artes cênicas. A relação com o ator sempre lhe interessou, seja no set de filmagens, seja no palco. Mesmo assim, ele não esconde a surpresa em relação à carpintaria teatral. “Até agora, Júlio está conversando com os atores. Acho interessante isso. O processo é supercinematográfico”, observa ele, ansioso para ver a peça pronta.
“Teatro é o momento em que os atores estão ali. Esse processo está me deixando de cabelo em pé: o erro do ator, o improviso. No cinema, você prepara tudo até o momento do set. Depois, acabou. Está tudo ali”, compara Conde.
A brincadeira não é a primeira tentativa do cineasta de se aproximar dos palcos. No fim da década de 1990, ele trabalhou na montagem de Ricardo III, dirigida por Yara de Novaes. A experiência foi traumática. “Nos bastidores, era aquela confusão, mas foi só abrir a cortina e tudo ficou pronto”, diverte-se. É chegado o momento, então, de mais uma tentativa.
Obra recebe cartas de amor
O eixo principal de A brincadeira é a dificuldade de dizer “eu te amo”. O espetáculo também flerta com o documentário cênico, pois, além da literatura de Tchekhov, conta com a experiência real dos atores protagonistas. “A poética está aí”, afirma o diretor Júlio Vianna. Segundo ele, a peça tem estrutura preestabelecida, mas com muito espaço para a improvisação. Eis uma área em que Maria Bonome e Rafael Protzner transitam com tranquilidade. Os jovens atores se formaram pelo Teatro Universitário da UFMG.
A poucos dias da estreia, alguns elementos ainda são guardados a sete chaves pelos diretores. Para se ter uma ideia, os atores só vão assistir ao curta-metragem de Rafael Conde na primeira sessão, com o público.
Outra surpresa da dramaturgia está nas cartas. Correspondências reais trocadas por casais são parte importante do texto. As mensagens serão lidas pela primeira vez em cena, desafiando o ator a procurar o frescor daquelas palavras.
Para alimentar A brincadeira com histórias reais, a produção lançou uma campanha na internet convidando casais a trocar palavras ou declarações de afeto. Elas poderão ser lidas em qualquer sessão, depois do sorteio no palco. A correspondência pode ser enviada até 16 de outubro. Os interessados devem escrever as mensagens separadamente, mas as duas cartas devem ser colocadas no mesmo envelope.
Destinadas ao projeto A brincadeira, as cartas devem ser remetidas para Rua Córrego da Mata, 66, sala 3, Bairro Sagrada Família, CEP 31030-085. Também haverá postos de coleta na Escola de Arquitetura da UFMG (Rua Paraíba, 697, Funcionários) e na Faculdade de Letras da UFMG (Avenida Presidente Antônio Carlos, 6.627, câmpus Pampulha).
Os remetentes das cartas selecionadas receberão um par de convites para assistir ao espetáculo. A temporada no Centro Cultural Banco do Brasil vai até dia 26.
A BRINCADEIRA
Em cartaz de 17 a 26 de outubro. Sessões de quinta a segunda-feira, às 19h, no Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
“Respeito muito. A coisa mais difícil do mundo é fazer teatro”, diz Rafael. Depois de 30 anos de dedicação ao cinema, o diretor dos longas Samba-canção (2002) e Fronteira (2008), premiado pelo curta Françoise (2001), começa a criar coragem para se aventurar no palco. O primeiro passo já foi dado: a peça A brincadeira estreia no dia 17, no Centro Cultural Banco do Brasil, em BH.
A adaptação do conto homônimo de Anton Tchekhov (1860-1904) parte de um projeto de pesquisa que o cineasta coordena na Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Conde assina a direção em parceria com Júlio Vianna. Homem de cinema, ele faz questão de explicar: a parte teatral é muito mais de Júlio do que dele. Rafael confessa que está experimentando – e aprendendo – no palco. Com brilho nos olhos, encanta-se com a face cinematográfica que essa montagem teatral carrega.
“Cinema é cinema. Teatro é teatro. Não tem jeito. Estamos testando as intercessões entre as duas linguagens. O encontro ao vivo é no teatro. Encontro mediado pela câmera e a projeção é cinema”, sintetiza Rafael.
MISTURA
A brincadeira pretende questionar espaços em que as interpretações no cinema e no teatro se encontram, se afastam, e as possibilidades de as duas linguagens comungarem do mesmo universo. Assim, a obra que ocupará o palco do CCBB traz, no mínimo, a possibilidade de mesclar as duas expressões artísticas.
“O conflito é muito positivo. A gente entrou nisso juntos, em um lugar desconhecido”, diz Júlio Vianna. Há três anos, os dois começaram a conversar sobre a possibilidade de um “encontro de currículos”. A dupla vem de gerações diferentes e de áreas diferentes. Os dois têm pensamentos diferentes, mas se respeitam. E querem construir algo que surpreenda.
Grosso modo, há um curta-metragem dentro da peça e vice-versa. O projeto é protagonizado pelos atores Maria Bonome e Rafael Protzner. Namorados na vida real, eles interpretam o casal Nádia e Ivan, personagens do conto A brincadeira. Rafael Conde se responsabilizou pelo roteiro, enquanto Júlio Vianna ainda está concluindo a dramaturgia.
Embora tenha carreira como cineasta, Rafael Conde fez doutorado em artes cênicas. A relação com o ator sempre lhe interessou, seja no set de filmagens, seja no palco. Mesmo assim, ele não esconde a surpresa em relação à carpintaria teatral. “Até agora, Júlio está conversando com os atores. Acho interessante isso. O processo é supercinematográfico”, observa ele, ansioso para ver a peça pronta.
“Teatro é o momento em que os atores estão ali. Esse processo está me deixando de cabelo em pé: o erro do ator, o improviso. No cinema, você prepara tudo até o momento do set. Depois, acabou. Está tudo ali”, compara Conde.
A brincadeira não é a primeira tentativa do cineasta de se aproximar dos palcos. No fim da década de 1990, ele trabalhou na montagem de Ricardo III, dirigida por Yara de Novaes. A experiência foi traumática. “Nos bastidores, era aquela confusão, mas foi só abrir a cortina e tudo ficou pronto”, diverte-se. É chegado o momento, então, de mais uma tentativa.
Obra recebe cartas de amor
O eixo principal de A brincadeira é a dificuldade de dizer “eu te amo”. O espetáculo também flerta com o documentário cênico, pois, além da literatura de Tchekhov, conta com a experiência real dos atores protagonistas. “A poética está aí”, afirma o diretor Júlio Vianna. Segundo ele, a peça tem estrutura preestabelecida, mas com muito espaço para a improvisação. Eis uma área em que Maria Bonome e Rafael Protzner transitam com tranquilidade. Os jovens atores se formaram pelo Teatro Universitário da UFMG.
A poucos dias da estreia, alguns elementos ainda são guardados a sete chaves pelos diretores. Para se ter uma ideia, os atores só vão assistir ao curta-metragem de Rafael Conde na primeira sessão, com o público.
Outra surpresa da dramaturgia está nas cartas. Correspondências reais trocadas por casais são parte importante do texto. As mensagens serão lidas pela primeira vez em cena, desafiando o ator a procurar o frescor daquelas palavras.
Para alimentar A brincadeira com histórias reais, a produção lançou uma campanha na internet convidando casais a trocar palavras ou declarações de afeto. Elas poderão ser lidas em qualquer sessão, depois do sorteio no palco. A correspondência pode ser enviada até 16 de outubro. Os interessados devem escrever as mensagens separadamente, mas as duas cartas devem ser colocadas no mesmo envelope.
Destinadas ao projeto A brincadeira, as cartas devem ser remetidas para Rua Córrego da Mata, 66, sala 3, Bairro Sagrada Família, CEP 31030-085. Também haverá postos de coleta na Escola de Arquitetura da UFMG (Rua Paraíba, 697, Funcionários) e na Faculdade de Letras da UFMG (Avenida Presidente Antônio Carlos, 6.627, câmpus Pampulha).
Os remetentes das cartas selecionadas receberão um par de convites para assistir ao espetáculo. A temporada no Centro Cultural Banco do Brasil vai até dia 26.
A BRINCADEIRA
Em cartaz de 17 a 26 de outubro. Sessões de quinta a segunda-feira, às 19h, no Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).