Segunda edição de ciclo de seminários coloca em debate o que move a arte

Em evento promovido pelo Estado de Minas, palestrantes refletiram sobre o fazer artístico

por Shirley Pacelli 25/09/2015 12:17

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Marcos Vieira/EM/D.A Press
Convidados Mário Zavagli, Carlos Wolney, Paulo Laender e Leda Gontijo (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

“Deus me deu um dom: jeito de fazer do nada alguma coisa”. Apresentando-se dessa maneira humilde e encantadora, a escultora Leda Gontijo, de 100 anos, abriu a segunda edição do ciclo de seminários Arte É Preciso, na noite de quinta-feira (24/9). Promovido pelo Estado de Minas, o evento trouxe à mesa o tema “O que move a arte?”. A discussão também contou com a presença dos artistas Mário Zavagli e Paulo Laender, sob a mediação do professor e vice-diretor da Escola Guignard, Carlos Wolney.

A busca constante do artista foi apontada como uma das propulsoras da arte. “Picasso produziu 22 mil obras e quando lhe perguntavam qual era o melhor quadro que havia pintado, respondia: o próximo”, lembrou Laender. Para ele, o que move o artista é o sentimento de melancolia, a busca pelo inalcançável: “Você trabalha para suprir a efemeridade humana”.

Trabalhando de seis a sete horas por dia, inclusive aos domingos, Mário Zavagli diz que se sente “em êxtase trabalhando”. “Sempre quero o próximo (trabalho)”, afirmou. Não existe a possibilidade de se estar pintor. “Se é ou não”, diz o aquarelista. Assim como ele, Leda se diz inquieta. “Trabalho cedo, paro, aí vejo uma coisa bonita e quero reproduzir”, contou.

E se essa inquietude move a criação, o que torna alguém um artista? Ainda criança, Leda inventava formas em lápis de cera e Laender esculpia carrancas em cabos de vassoura. “O artista nasce fruto de uma carência e tenta supri-la com objetos que cria”, afirma Laender. O escultor acredita que ser artista é fazer ver e transformar as coisas em mito.

Mas nem só de dom se faz um artista. É preciso 10% de inspiração e 90% de transpiração. “Eu pego a pedra, trabalho uma ideia, mas desvirtuo daquele caminho. A pedra, às vezes, obriga a fazer algo que não estava imaginando”, conta Leda.

A formação acadêmica também foi discutida. Para Zavagli, que se aposentou recentemente como professor da UFMG, após 39 anos lecionando, não existe um dogma a respeito. A técnica pode ser aprendida, aperfeiçoada ou criada. Mas ele não classifica o estudo da arte como indispensável à formação artística. “Onde colocaria Arthur Bispo do Rosário nessa perspectiva?”

Refletindo sobre a aversão que a arte contemporânea desperta em certos segmentos da opinião pública, o professor lembrou que “exitem trabalhos incríveis em todas as formas da expressão humana. Não podemos ter preconceito. Há coisas boas e coisas ruins, mas o preconceito veda a possibilidade de dialogar com a criação”, disse.


A OPINIÃO DOS PARTICIPANTES


“Foi ótimo. Superinspirador para quem é do campo da arte. Gostei da liberdade com que eles falaram de suas trajetórias.”
Natália Vieira, 26 anos, estudante de design da UEMG


“Gostei muito. Acho que esse tipo de evento tem que acontecer mais vezes para o debate sobre a arte se expandir, não só para estudantes, mas para toda a comunidade.”
Luciene Barbosa Santos, 53 anos, artista plástica


“Foi uma experiência enriquecedora. Não só como estudante de artes, mas para a vida. Gostei das falas do Zavagli sobre a questão filosófica da arte. E da lucidez da Leda.”
Dora Vidigal, 69 anos, adericista e contra-regra no Palácio das Artes


“ Gostei muito, porque eles falaram mais da carreira e alinhavaram as tendências, dificuldades e propriedades com que fazem as obras. Foi um seminário de nível elevado. A capacidade da Leda, de 100 anos, de ainda criar mostra que a idade não é empecilho para os artistas.”
Mauro Silper, 67 anos, artista plástico


Serviço:


TERCEIRA EDIÇÃO DO CICLO DE SEMINÁRIOS ARTE É PRECISO

Com os artistas plásticos Andréa Lanna, Cláudia Renault, Fernando Lucchesi e Thales Pereira. Mediação: Rodrigo Vivas (diretor do Centro Cultural UFMG). Na quinta (1º/10), às 19h30, no Espaço Cultural do Estado de Minas (Avenida Getúlio Vargas, 291, Funcionários). Entrada franca mediante apresentação de convites. O credenciamento pode ser feito pelo e-mail jornada@uai.com.br. Vagas limitadas. Informações: (31) 3263-5700, das 9h30 às 12h e das 14h30 às 18h.

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