Confortavelmente instalado no número 227 da Rua Itambé, no Bairro Floresta, o Arquivo contabiliza cerca de 20 mil fotografias, identificadas em uma década pelo Cestas da Memória. A coordenadora do projeto é Mônica Cecília Costa, técnica de patrimônio cultural da Fundação Municipal de Cultura (FMC). O APCBH se tornou uma espécie de via de mão dupla: ao mesmo tempo em que valoriza o saber dos voluntários, identifica mais detalhadamente seu acervo, informa Yuri Mello Mesquita, diretor da instituição.
Há alguns dias, participaram do Cestas da Memória os aposentados Maristela Teixeira de Oliveira, de 71, que trabalhou na Secretaria da Fazenda, no gabinete do prefeito e na Câmara Municipal, e Rafael Machado, de 60, que foi servidor do APCBH. Machado conta que implementou o projeto a partir da ideia de Marisa Guerra. A iniciativa tem o apoio da Câmara Municipal. “A administração sempre nos apoiou. Desde o início”, afirma ele.
RECORDAÇÕES Maristela Teixeira de Oliveira se diz maravilhada com o que encontrou. “Quando vi, ali passava a própria história da gente, os colegas de trabalho”, conta ela, que ingressou no serviço público em 1964. “Sem dinheiro naquela época, a prefeitura pagava o salário com até cinco meses de atraso”, relembra.
Na memória da servidora aposentada ficaram as recordações de amizades cativadas ao longo dos anos. “Hoje é tudo muito artificial”, critica, salientando que em sua época as pessoas trabalhavam por amor. “Elas sabiam o que estavam fazendo, informavam o público. Hoje, só pensam no vencimento.”
COMPUTADOR Acompanhado do estagiário Raione Pedrosa, Nilton Viana afirma que já está começando a se esquecer de pessoas e fatos. “Que nada, a memória dele ainda está afiada”, reage Raione, que o ajuda a identificar as pessoas por meio do computador. “Às vezes, costumo chegar em casa e me lembrar de alguém que não consegui identificar aqui”, conta o aposentado. Ele foi capaz de descobrir o ex-prefeito Américo Renné Giannetti – de costas – numa foto. “É ele: alto, sempre de terno claro”, garantiu.
Nilton Viana, aliás, não consegue se esquecer de Vicente Garrucha, apelido dado a Vicente Rodrigues, ex-secretário municipal da Fazenda, que sacou um revólver em pleno movimento grevista de servidores da PBH.
Os encontros quinzenais de ex-funcionários da PBH, que costumam durar de duas a três horas, não se limitam à identificação de fotos. Além da confraternização com direito a lanche no final, a ideia é construir um panorama da história da administração da capital mineira. Daí a ideia dos organizadores de publicar um livro em 2016, quando o Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte completa 25 anos.
Portas abertas
A cada quinzena, os encontros na sede do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH) reúnem de três a seis pessoas, entre convidadas e voluntárias. Cada sessão conta com três computadores. Entre as preciosidades do acervo de imagens estão registros das visitas a Belo Horizonte do ator norte-americano Kirk Douglas e do cosmonauta soviético Yuri Gagarin – ambas na década de 1960, a convite do prefeito Jorge Carone Filho.
Quem tem conhecimento sobre informações de gabinete das gestões municipais ou sobre transformações da paisagem urbana de Belo Horizonte, principalmente a partir da década 1960, pode se candidatar a uma vaga de voluntário do projeto Cestas da Memória. Não é necessário ser integrante dos quadros da prefeitura da capital.
Mônica Cecília Costa, coordenadora do projeto, explica que o fato de a maioria dos 15 voluntários ser formada por aposentados é apenas coincidência. Um colega indica o outro para a missão. “Temos uma exceção: o médico geriatra Marcos Horta, de 60 anos”, ressalta.
Os interessados em participar podem fazer contato com o Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte pelos telefones (31) 3277-4633 e 3277-4665 ou pelo e-mail cestasdamemoria@pbh.gov.br. “Estamos sempre em busca de gente”, diz Mônica Costa, lembrando que é comum o colaborador se afastar do projeto devido a problemas de saúde.