“O sentido da palavra arte talvez seja dar aos seres humanos consciência da grandeza que ignoram ter dentro de si.” Com uma citação ao pensador francês André Malraux (1901-1976), o artista plástico e doutor pela Universidade de Paris José Alberto Nemer abriu o ciclo de seminários Arte É Preciso, do qual foi mediador, na noite da última quinta-feira, no Espaço Cultural do jornal.
Promovido pelo Estado de Minas, o evento, que terá outras três edições, sempre às quintas-feiras, trouxe à mesa o tema “O papel da arte na educação – A educação em tempo de crise”. A iniciativa de discussão de temas relacionados à arte precede o leilão da Jornada solidária (marcado para 10 de novembro) e teve ingressos esgotados.
Nemer afirmou que “engana-se e fica mais pobre uma sociedade que mantém a arte como um oásis romântico em meio a questões mais sérias do conhecimento” e apontou que a arte é “um pensamento visual” que consiste num discurso complexo, “que não pode ser vítima nem de desânimo mental nem de um raciocínio simplista”.
Sobre o papel da educação na formação de artistas, citou a frase que ouviu em Paris, da diretora da Escola de Belas-Artes: “Só os medíocres e os gênios podem dispensar as escolas de arte”. Reitor da Uemg (Universidade do Estado de Minas Gerais), Dijon Moraes contou que, em recente visita à University of British Columbia, em Vancouver (Canadá), descobriu que os alunos de medicina devem completar o currículo com disciplinas de arte. “O médico hoje é um intérprete do computador”, observou, dizendo que a iniciativa da universidade canadense visa “resgatar a questão humana”.
Moraes fez um paralelo entre arte e design. Para ele, moda não é arte. “Arte é espontânea. Fruto da inquietação. O artista não tem compromisso com ninguém; apenas com ele mesmo. O designer precisa seguir condicionantes, como a escala do corpo humano, para criar e produzir em série”, afirmou.
Abordando aspectos da “conjunção e da disjunção entre arte e psicanálise”, o psicanalista Stélio Lage dividiu com a plateia, usando boa dose de ironia, uma questão que o intriga há muito tempo. “Um filho de padeiro pode assar um belo pão. Um filho de um político pode se lançar na corrupção. Um filho de artista é artista?”
Já a colecionadora de arte Priscila Freire tratou da distinção entre arte popular e arte erudita, que, na opinião dela, não se sustenta. Priscila criticou “a simples incorporação – que não é o mesmo que inclusão – dos artistas populares que têm suas obras transferidas para o circuito de arte”. Ela afirmou que “a arte do povo é marcada por obras surpreendentes, que têm grande complexidade em sua produção. Devemos incluí-las e não apenas incorporá-las à arte institucionalizada”.
Carlos Nagib, gerente-geral do Centro Cultural Banco do Brasil, afirmou que “o que move a arte são as emoções” e citou a reação dos frequentadores das instituições culturais que as deixam “com a alma em festa”. Ele anunciou que o CCBB abrigará no ano que vem exposição de obras de Mondrian (1872-1944).
Nagib contou que, instigado pelo título do ciclo de seminários (Arte É Preciso), enquanto preparava sua palestra, perguntou a diversas pessoas de seu convívio se arte de fato é preciso. “As respostas sempre se aproximavam. As pessoas diziam que arte é vida, ar, necessária, imprescindível, essencial e até mesmo natural.
Uma das questões levantadas no seminário inaugural do ciclo Arte É Preciso –“O que move a arte?”– será o fio condutor no próximo encontro, na quinta-feira (24/9), que reunirá a jovem grafiteira Criola e a escultora Lêda Gontijo. Também estarão presentes os artistas plásticos Mário Zavagli e Paulo Laender. O debate será mediado por Carlos Wolney, vice-diretor da Escola Guignard.
A OPINIÃO DOS
PARTICIPANTES
“É uma iniciativa maravilhosa. Começou bem. Os palestrantes foram bem escolhidos. Falaram da necessidade da arte de maneira clara e precisa. A gente precisa ouvir isso mais vezes. É uma questão provocadora, que não tem um ponto final.”
• CARLOS WOLNEY,
vice-diretor da Escola Guignard
“Achei surpreendente este primeiro grupo de palestrantes. Espero que as próximas edições tenham essa mesma qualidade. Fiquei bem interessado nessa questão de como se cria um artista.”
• MANOEL HAGEN,
produtor cultural
“Adorei. Superou minhas expectativas. As pessoas interagiram com as discussões. Pretendo ir em todos os outros. Gostei especialmente da fala do José Alberto Nemer de que só os medíocres e os gênios não precisam das escolas de arte. Dá para perceber o quanto a educação é importante até na arte.”
• LÉCIA AMBRÓSIO ALVES,
bancária
“Achei muito interessante o seminário. É importante a inclusão das obras populares no meio artístico. Muitos veem como uma arte menor do que a erudita e, na verdade, elas comungam. São expressões artísticas da mesma forma. Todos os palestrantes foram brilhantes.”
• MARIETA ASSUNÇÃO
professora aposentada