A obra ganhou o nome de uma das canções lendárias de Dylan. Fazendo jus a ela – ‘‘Os tempos estão mudando’’ –, a gigantesca intervenção urbana anuncia boa-nova para o Centro de Minneapolis. A convite de uma organização local, Kobra inaugurou o programa de revitalização que pretende potencializar a vocação artística daquela região. Foram gastas 500 latas de spray em 13 dias de trabalho exaustivo, das 8h às 20h. Kobra contou com a ajuda de Agnaldo Brito, Silvio Cesar e Marcos Rafael, artistas de seu estúdio, além de dois convidados locais.
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Livro retrata a cultura do grafite nas ruas de Belo Horizonte
A escolha de Dylan partiu do próprio Kobra. Ele aprecia a obra do compositor, mas ressalta que não se trata apenas de uma homenagem. “Meu trabalho sempre está relacionado a um fato histórico ou a uma personalidade importante para a cultura local. Bob Dylan nasceu em Minnesota e é uma figura respeitada”, afirma.
TRAJETÓRIA Com obras espalhadas por 15 países, Eduardo Kobra é um dos mais aclamados representantes brasileiros da arte urbana no exterior. O paulistano não tem receio em dizer que iniciou a carreira como pichador. “Comecei em 1987 e fui detido três vezes. É necessário observar essa questão com mais cuidado. Há muitos talentos importantes pintando nas ruas”, adverte.
Em Belo Horizonte, aumenta a repressão policial à pichação. Grupos de pichadores têm sido denunciados à Justiça por formação de quadrilha. A Câmara Municipal acaba de alterar a legislação, estabelecendo o uso de tinta especial em monumentos e viadutos para facilitar a remoção do spray.
Kobra afirma que a arte urbana transforma espaços públicos. Para ele, não se deve reprimir esse “trabalho voluntário”. “O grafite e o ‘pixo’ usam a cidade como suporte, os dois são feitos de forma ilegal”, ressalta. Apesar disso, o muralista não faz intervenções sem pedir autorização prévia ao poder público ou ao proprietário do imóvel.
SAVASSI Aliás, espaço e permissão ele já tem para deixar um trabalho permanente em BH, na lateral de um pequeno prédio na Savassi. A ideia é retratar o poeta Carlos Drummond de Andrade. No momento, Kobra procura patrocinador para o projeto. Ele já tem marcados trabalhos na Rússia, Haiti e nas cidades norte-americanas de Sarasota e Palm Beach, ambas na Flórida.
Recentemente, Eduardo Kobra chamou a atenção do país com o projeto São Paulo: uma realidade aumentada, apresentando 10 intervenções – uma por dia – em diferentes regiões da capital, como Paraisópolis e Capão Redondo. A atividade contou com pinturas em 3D em moradias, mural sobre o desemprego com espaço para afixação de currículos e painel colaborativo com viciados, na Cracolândia.
“A ideia é falar sobre a questão social: ocupar o muro não só por questão estética, mas aproveitar esse espaço de outra forma. É algo sério. As pessoas que queriam ver a minha arte foram convidadas a conferir a dura realidade de São Paulo”, explica.
Para Kobra, o grafite conquista novos espaços, como as galerias de arte, mas não deve perder sua essência: ocupar as ruas.
SAIBA MAIS
Da pichação à neovanguarda
Eduardo Kobra tem 39 anos. Desenha desde os 7, começou a pichar aos 12. Nos anos 1990, trocou a pichação por desenhos mais elaborados, todos feitos em muros. Autodidata, morava no Campo Limpo, na periferia paulistana, e enfrentou dificuldades até se firmar como respeitado grafiteiro e muralista. Aos 27, entrou pela primeira vez numa galeria de arte, embora tenha se inspirado em Diego Rivera, Jean-Michel Basquiat e Keith Haring, cujas obras conheceu por meio de filmes e livros. Nos anos 1990, o paulistano criou o Estúdio Kobra, especializado em painéis artísticos. Em meados da década de 2000, tornou-se conhecido ao realizar o projeto Muro das memórias, resgatando cenas antigas de São Paulo em pinturas 3D. Considerado expoente da neovanguarda paulista, Kobra tem trabalhos em Nova York, Londres, Los Angeles, São Paulo e Atenas, entre outras metrópoles.