Raphael Montes não se considera (somente) um escritor. Prefere ser chamado contador de histórias. E foi a partir de uma bem engendrada história, em que mistura sua experiência pessoal, que escreveu seu terceiro livro, O vilarejo (Suma das Letras, 96 páginas). É a primeira incursão no gênero terror de Montes, nome em ascensão na literatura policial.
Nesta terça-feira, o autor carioca, que completa 25 anos dia 22, chega a Belo Horizonte para participar do projeto Sempre um Papo, no Museu das Minas e do Metal. Para falar sobre O vilarejo, não há como Montes não citar seu interesse por livros antigos. Morador de Copacabana, é assíduo frequentador de sebos. Um de seus preferidos é o Baratos da Ribeiro.
Maurício Gouveia, um dos sócios do sebo, um dia ligou para o escritor falando de um acervo de três mil livros da Colecção Vampiro, surgida em Portugal em 1947. Montes não só comprou de Gouveia os volumes, como utilizou o nome do livreiro no prefácio de O vilarejo.
Na ficção, o dono da Baratos da Ribeiro oferece a ele cadernos ilustrados de uma senhora de nome Elfrida Pimminstoffer. A bisneta dela teria oferecido o material antigo, numa língua indecifrável. Depois de meses de pesquisa, Montes descobriu ser a língua o chamado cimério, uma referência ao professor de literatura Uzzi-Tuzii, personagem de Se um viajante numa noite de inverno, de Italo Calvino.
Bem, de resto, só lendo. Fato é que Montes se coloca como o tradutor dos textos de Elfrida, que teria escrito sete contos baseados nos sete pecados capitais. Tem muito leitor que está “comprando” a história proposta, acreditando ser Montes apenas um tradutor. Cada história é ilustrada por Marcelo Damm. “O vilarejo não é um livro de contos, mas um romance estranho”, admite Montes, que prevê para 2016 seu terceiro policial, Mesa para dez (título provisório).
Ele era um garoto de 12 anos quando ganhou de uma tia-avó Um estudo em vermelho, de Arthur Conan Doyle. Virou a noite descobrindo as aventuras de Sherlock Holmes e, uma vez terminado o livro, decidiu que queria dedicar sua vida àquilo. Até os 16, leu todos os clássicos do romance policial, depois se dedicou aos autores contemporâneos.
Sua estreia no gênero ocorreu com Suicidas (Benvirá), finalista dos prêmios São Paulo, em 2013, e Machado de Assis, em 2012. No ano passado, lançou Dias perfeitos (Cia. das Letras). O primeiro livro já atingiu os 15 mil exemplares vendidos; o segundo, 20 mil.
Na telinha O reconhecimento lhe abriu portas para continuar escrevendo, só que para outros meios. Em 15 de outubro estreia no GNT a série Espinosa, adaptação do romance policial Uma janela em Copacabana (2001), do escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza. O incorruptível delegado Espinosa será interpretado por Domingos Montaigner.
Dirigida por José Henrique Fonseca, a série teve quatro roteiristas. Montes é um deles. “Foi meu primeiro trabalho para TV, e, de início, tentei respeitar ao máximo (a história original). Mas é um livro de 150 páginas que teve que virar oito horas de dramaturgia. Então, chega uma hora que não tem como respeitar tudo”, relembra.
Ainda este ano, a Globo estreia o seriado de terror Supermax. Mais uma vez, Montes participou como roteirista – a direção é de José Alvarenga Jr. A história é original. Em 12 episódios, a trama mostra um reality show numa prisão de segurança máxima na selva amazônica.
Turbilhão Assim como na literatura, Montes é autodidata na função de roteirista. “Prefiro aprender na sala de criação, quando está bem na hora de entregar”, diz. O outro passo do contador é levar suas histórias para o cinema. Há alguns projetos em andamento, o mais adiantado é um roteiro que escreveu para a cineasta Lúcia Murat.
“Parece que tudo aconteceu muito rapidamente comigo, mas não”, explica Montes. “Mandei meus livros para as editoras, levei ‘não’ de todas. E só depois que meu livro foi finalista dos prêmios e os jornais passaram a cobrir minha carreira que consegui espaço. Então, se a gente não fizer nada, ninguém faz pela gente. Faço minha parte.”
Essa parte inclui a manutenção de três perfis no Facebook (com 15 mil amigos no total que ele não deixa de responder). “Tenho o maior prazer em conversar com as pessoas”, garante. A despeito da repercussão virtual, o bom e velho contato pessoal ainda tem muito peso. “A minha fila costuma ser demorada, mas vale a pena ficar nela”, continua. Montes autografa, com dedicatória, cada leitor que aparece numa sessão de autógrafos. Na semana passada, esteve por duas vezes na Bienal do Rio. Foram 200 autógrafos por vez.
SEMPRE UM PAPO
Com o escritor Raphael Montes, que lança O vilarejo. Terça-feira, às 19h30, no Museu das Minas e do Metal (Praça da Liberdade, s/nº, Funcionários). Informações: (31) 3261-1501. Entrada franca.