Guerra e Paz retoma o mesmo posto de honra à entrada do grande anfiteatro da Assembleia Geral da ONU. Os painéis - medindo 14 metros de altura e 10 de comprimento cada um - saíram dali em 2010, quando o prédio da ONU começou a passar por uma longa reforma.
A maior e última grande obra criada por Portinari antes de morrer foi levada ao Brasil para restauro e só então gente como a que ele sempre retratou em seus quadros pôde conhecê-la. Numa turnê pelo Rio, São Paulo, Belo Horizonte e estendida também a Paris, mais de 400 mil pessoas fizeram filas para vê-la de perto
saiba mais
-
Marcelo Rubens Paiva comenta novo livro, 'Ainda estou aqui'
-
Escultura que lembra vagina é alvo de vandalismo pela segunda vez em Versalhes
-
ONU presta homenagem a Fernando Brant nesta terça-feira
-
Virada Cultural de BH terá ainda a revirada: prepare-se para o próximo fim de semana
-
Cosplay ganha cada vez mais adeptos e festivais competitivos
-
Adriana Banana é atração de hoje na Funarte MG
-
Seminários promovidos pelo EM discutem a condição atual da produção e da difusão artística
-
Artes Vertentes inicia a sua quarta edição em Tiradentes
-
Teatro mineiro é destaque em festivais internacionais
-
Ilustrações emocionantes humanizam a tragédia de refugiados sírios
-
Pesquisadores encontram resquícios de cannabis no cachimbo de Shakespeare
-
Museu das Minas e do Metal recebe encontro de colecionadores de minerais
-
Ex-BBB Adrilles Jorge lança livro de poesias
-
Ucranianos do Kiev Ballet se apresentam em Belo Horizonte
-
Tiradentes recebe mostra Artes Vertentes, com nomes brasileiros e estrangeiros
-
Livro reúne fotos raras dos Beatles, tiradas por Ringo Starr
Responsável pelo que chama de "um videodiscurso" a ser apresentado na reinauguração do mural, a atriz e diretora Bia Lessa tomou o tema representado ali por Portinari para chamar atenção "à obrigação do homem criar um projeto de paz". Para compor a narrativa do vídeo e reforçar a mensagem expressa por Portinari, Bia escolheu poemas e outros textos de autores de diferentes épocas e países. Entre eles estão T. S. Eliot, Samuel Beckett, Walt Whitman, Hannah Arendt, Eduardo Galeano, Darcy Ribeiro e Paulo Mendes da Rocha.
João Cândido conta que, ao ver as imagens de desamparo dos refugiados que formam atualmente a maior onda migratória na Europa desde a 2ª Guerra Mundial, lembrou do que disse seu pai ao participar de uma conferência sobre o sentido social da arte, realizada em Buenos Aires, em 1947: "As coisas comovedoras ferem de morte o artista e sua única salvação é retransmitir a mensagem que recebe".
Para Portinari, não haveria na natureza "algo que grite mais alto ao coração do que as guerras, as tragédias provocadas pelas injustiças, pela desigualdade e pela fome" - motivos recorrentes na própria obra dele. Em 1952, o pintor foi incumbido de criar o mural que seria presenteado à ONU pelo governo brasileiro. E escolheu como tema o que lhe gritava ao coração.
Embora com o corpo já envenenado pelo chumbo das tintas que usava e, por ordem médica, estivesse proibido de pintar, durante quatro anos Portinari trabalhou na elaboração de 180 estudos, esboços e duas maquetes para os painéis (uma delas está no Itamaraty, em Brasília, e a outra pertence a um colecionador paulista). O mural foi produzido por partes num estúdio da hoje extinta TV Tupi, no Rio. A impossibilidade de avaliar a composição por completo desesperava Enrico Bianco, aluno e principal assistente de Portinari que, conforme ele contou num depoimento, apenas ouvia do pintor: "É só seguir a maquete".
Porão
Em 5 de janeiro de 1956, os painéis foram entregues a Macedo Soares, então ministro das Relações Exteriores, para serem doados à ONU. Um grupo de artistas e intelectuais pediu ao Itamaraty para que eles fossem expostos antes de serem despachados para Nova York. Montado no palco do Teatro Municipal do Rio, o díptico que nem Portinari ainda tinha visto por inteiro foi conhecido por milhares de pessoas.
Logo depois, os painéis foram enviados à ONU. Mas só foram inaugurados um ano e meio mais tarde. O jornal The New York Times de 23 de junho de 1957 noticiou o descontentamento brasileiro com o destino do presente que o País deu à ONU, com custo calculado em US$ 45 mil. Logo abaixo da notícia saiu nota da ONU informando que o atraso na exibição da obra de um dos mais respeitados modernistas brasileiros era uma questão de dinheiro.
"Os gigantescos murais precisam ser adequadamente montados e as estimativas indicam que o custo será de no mínimo US$ 20 mil", explicava a organização. Os painéis estavam encerrados em dois imensos caixotes no porão do prédio da ONU. Em 6 de setembro de 1957 o mural Guerra e Paz foi finalmente entregue numa cerimônia oficial.
Por causa do seu envolvimento com o Partido Comunista, Portinari não foi convidado para a inauguração, sendo representado pelo chefe da delegação brasileira nas Nações Unidas, o embaixador Cyro de Freitas-Valle.
Como os painéis ficam numa área de acesso restrito no prédio da ONU, o Projeto Portinari planejou eventos que ocorreriam em áreas abertas da cidade, como a estação de trens Grand Central, a Times Square e a parte externa do Metropolitan Museum para que a reinstalação deles pudesse provocar a mesma reação de quando foram exibidos abertamente ao público no Brasil e na França. O custo seria em torno de R$ 6,5 milhões, valor igual ao que foi investido para a apresentação deles em São Paulo, segundo o diretor do Projeto Portinari.
Os painéis foram reinstalados na ONU em dezembro passado e a reinauguração foi adiada duas vezes à espera de patrocinadores para os eventos em torno dela. Mas nada pôde ser feito porque o governo federal e as empresas brasileiras que foram fontes de recursos para tirar as obras dos EUA quatro anos atrás "não tinham como colaborar por estarem às voltas com a crise econômica e política", segundo João Cândido.