'Antijogo'

Ex-BBB Adrilles Jorge lança livro de poesias

Jornalista vai apresentar seu primeiro volume na Bienal do livro no Rio de Janeiro

Ana Clara Brant
Adrilles Jorge conta que foi procurado pelo editor da Record, que o ouviu declamar seus poemas no programa de TV - Foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A. PRESS
Houve quem entrou no 'Big Brother Brasil' ('BBB') e virou político. Outros arrumaram casamento. Há quem tenha conseguido estampar capa de revista masculina e até ganhar seu próprio programa de TV. Existe o caso de quem se tornou atriz e virou estrela. O jornalista e escritor mineiro Adrilles Jorge, por sua vez, alcançou algo peculiar: soltar a voz no terreno da poesia brasileira.


“Nunca escondi que usei de um meio para chegar a esse fim. Quando soube que a produção do reality tinha mudado um pouco o perfil dos participantes, resolvi me inscrever. Eles não queriam apenas gente bonita e chocha, mas também pessoas que acrescentassem algo”, diz Adrilles, de 40 anos, que ficou entre os quatro finalistas da última edição do programa global.

Ele diz que, terminado o reality, foi procurado por um dos principais editores do país, Carlos Andreazza, que estava interessado em seu trabalho. Dentro do 'BBB', o jornalista costumava declamar versos de sua autoria e também de outros poetas, o que acabou chamando a atenção do nome forte da Editora Record.

“Ele comentou comigo que pela primeira vez havia assistido ao 'Big Brother' e que a probabilidade de ter um poeta num programa como aquele era rara, e ter um poeta bom era mais raro ainda”, afirma.

A partir daí, nasceu o primeiro livro de Adrilles Jorge, 'Antijogo', que será lançado no próximo dia 13, na 17ª Bienal Internacional do Livro, que começou ontem, no Rio de Janeiro. Belo Horizonte e São Paulo também devem ter lançamentos, mas ainda não há previsão de data. O jornalista e poeta diz que, quando ingressou no reality show, estava passando por uma crise pessoal, sentimental e profissional. Avalia que saiu melhor do que entrou, apesar de ainda ter muita coisa a melhorar.

“Acho que o melhor do 'BBB' foi a projeção de uma imagem pessoal que visa a projetar o seu trabalho. Não é simplesmente uma projeção de vaidade vazia. Você pode ter até a vaidade do seu trabalho, mas o seu trabalho visa, assim como todo trabalho humano, a ajudar o próximo. Quando você escreve um poema, por exemplo, você está tentando ajudar o outro de alguma forma. A função da literatura e da arte é expandir a visão das pessoas acerca de si mesmas e do outro”, opina.

BULA 'Antijogo' reúne 137 poemas que foram escritos por Adrilles desde a adolescência até os dias de hoje e percorre todos os tipos de assunto – perdas, sofrimentos, alegria, amor, morte, vida, reflexões e até mesmo o 'Big Brother Brasil'. O autor define a coletânea como “uma antologia irregular de ideias poéticas que se completam na sua contradição”.

“Tudo gera poesia. Até bula de remédio. O interessante da arte é isso. Dependendo da capacidade do autor e de sua visão subjetiva, tudo vira arte. Ela está incrustada em absolutamente todo elemento humano e inumano.
O poeta é, de certa forma, uma espécie de infante curioso. O que torna alguém um grande escritor é essa curiosidade latente e permanente sobre todas as coisas que o cercam”, diz.

Os versos de Adrilles ganharam elogios de Andreazza e do ensaísta e filósofo Olavo de Carvalho, que assina a orelha da obra. O mineiro diz que não é um crítico de seu trabalho, porém garante que o que escreve, sem falsa modéstia, é relevante e interessante. O ex-BBB não sabe se o fato de haver participado da atração vai ajudá-lo a vender mais livros, até porque está ciente de que o mercado de poesia no Brasil é incipiente. “E nem sei se tenho uma poesia tão popular assim. Já fui acusado, em certa medida, de ter uma poesia hermética. Mas, por enquanto, estou realizado, porque sei que estou sendo lido. Acho que o objetivo de qualquer autor é esse.”

Além de divulgar seu livro, Adrilles Jorge tem outros planos para o futuro, como um projeto, inscrito na Lei Rouanet, de sarau-palestra, no qual pretende unir artes cênicas, palestras e declamação de poemas. “O objetivo dessa iniciativa é interagir com o público e também explorar o lado social, político, físico e metafísico da poesia, para que ela não fique confinada em meios pernósticos, como se fosse algo só lírico e absolutamente distante das pessoas”, explica.

O jornalista, que nasceu em Campos Gerais, no Sul de Minas, diz que ainda tem muito escritos guardados. “Já fiz roteiro de um curta, ensaios, aforismos, crônicas.
Continuo a escrever muito. Meu livro fechou com 137 poemas, mas tenho muito mais. Brinco que, se eu morrer hoje, posso ser um autor póstumo, um Kafka, tranquilamente. É só revirar os meus arquivos, porque tenho muita coisa guardada.”


'Antijogo'
Socar o muro que me cerca
até que o sangue escorra
da carne lacerada
pela fome do toque de um outro

Vencer-se, por alguém, para alguém.
por todos em um só,
até que a mais sublime derrota
cubra de louros
uma vitória cega e complacente
a quem te esmaga

Reter a corrida, quedar-se ao chão,
ser o chão que acolhe os passos
de quem pisa sua possibilidade de céu

Erguer-se na queda, aninhar o soco
que acaricia a pele do perdão
e rompe o muro

Ser muro, muro que impede
a vitória sobre toda forma de doação.

'ANTIJOGO'
>> Autor: Adrilles Jorge
>> Editora Record
>> Páginas: 196
>> Preço: R$ 32

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