A maior parte de 'Infância, tiros e plumas', espetáculo da Cia. OmondÉ em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, se passa dentro de um avião a caminho da Disney, nos Estados Unidos. A reduzida espacialidade é o primeiro desafio imposto pelo texto de Jô Bilac à direção de Inez Viana e ao elenco. Investindo em uma cena limpa, sustentada pela interpretação e temperada por ironias, a montagem prende a atenção e diverte.
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'Infância, tiros e plumas' flerta, à sua maneira contemporânea, com o teatro do absurdo. Se no início há certo estranhamento, o ritmo cresce a partir do avanço da trama. Não só nos acostumamos com arquétipos da sociedade capitalista – a emergente interesseira, a aeromoça apaixonada, os filhos mimados, o segurança machão com medo de avião –, como rimos das situações absurdas em que eles se encontram.
Sarcasmo é característica marcante do texto de Bilac. Sem meias palavras, ele traz para o palco temas fortes que estão na ordem do dia, como racismo e preconceito. Provoca risadas – riso nervoso. É como se fosse politicamente incorreto achar graça naquela situação, às vezes humilhante. Dessa forma, Jô Bilac chama a atenção para a hipocrisia da sociedade. Sem panos quentes.
No numeroso elenco – são nove atores –, destacam-se Bianca Byington, especialmente convidada para a montagem, Junior Dantas e Carolina Pismel, respectivamente, a socialite, o comissário de bordo e a garota que viaja sem a família. Caricatos sob medida, todos contribuem para potencializar o que está no coração da dramaturgia de Jô: a decadência do ser humano.
'INFÂNCIA, TIROS E PLUMAS'
Centro Cultural Banco do Brasil, Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400. Até 7 de setembro. Sexta-feira, sábado e segunda-feira, às 20h; domingo, às 19h. R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada).