A peça, que estreou em março, no Rio de Janeiro, e já recebeu 23 indicações a prêmios – entre eles Shell e APCA –, faz três apresentações em Belo Horizonte, hoje e amanhã, no Grande Teatro do Sesc Palladium. Para preservar as características da montagem, que prevê proximidade entre o público e a cena, a plateia de 1,3 mil lugares será reduzida para 702.
“A Cia. Brasileira tem produzido trabalhos muito relevantes no teatro contemporâneo brasileiro e, por inúmeros motivos, é uma pesquisa de linguagem consistente. É um grupo preocupado em elaborar discursos que inevitavelmente fazem refletir o nosso tempo”, afirma a atriz mineira Grace Passô, que foi convidada pela Cia para essa montagem.
Assim como Grace, os atores Renata Sorrah, Inês Viana, Cris Larin e Danilo Grangheia se juntaram a Edson Rocha, Rodrigo Bolano, Rodrigo Ferrari e Ranieri Gonzales, integrantes da trupe. Tem sido um encontro especial. “É um trabalho tão sério, uma busca por novas formas de escrita na criação contemporânea. É o que sempre procurei a minha vida inteira no teatro”, diz Renata Sorrah.
É a primeira vez que o israelense Hanoch Levin (1943-1999), autor de 56 obras teatrais, é montado no Brasil. Nesse texto, Levin conta a história de Krum (Danilo Grangheia), que retorna à casa da mãe depois de uma temporada no exterior. Contrariando as invariáveis expectativas de sucesso, o rapaz não se deu tão bem assim em sua empreitada no estrangeiro.
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RETRATOS “É como se fosse uma sequência de retratos de seres humanos comuns, sem nada de especial. Mas, nessa dinâmica ordinária, a gente encontra uma potência que fala por ela mesma de muitas coisas”, afirma Abreu. “O texto retrata como os desejos mais comuns das pessoas, caso do casamento, e também os acontecimentos mais inevitáveis, como a morte, são marcos essenciais. É sempre uma chave daquilo que é inerente a qualquer um”, observa Grace Passô.
Sem se distanciar de um humor agridoce, 'Krum' aborda relações de família e as sensações de inadequação social; de frustração e busca; de guerras íntimas; de acomodação; de desejos não alcançados. Aprisionado no próprio “fracasso”, Krum se pergunta até que ponto é possível sonhar com a mudança?
“Krum retorna muito despedaçado, porque não volta com nada. Não viu nada. Não conheceu ninguém. Foi com uma vontade de sair de uma inércia”, conta Renata Sorrah. Ele é fruto de um entorno social de periferia, de um povo acomodado. “Nenhum personagem é herói. O que faz deles enormes é sua pequenez. São condenados à solidão, à insônia, à pobreza”, completa a atriz.
Foram cerca de três meses de ensaios. Durante esse período, o diretor não distribuiu os papéis. “Os atores só foram saber o que fariam quando o espetáculo estava muito próximo da estreia”, diz Abreu. Idade, tipo físico não foram aspectos que pesaram na hora de escolher quem seria quem. “Todo mundo poderia fazer qualquer personagem. Foi muito inteligente da parte do Márcio”, elogia Renata Sorrah.
Esse método de trabalho faz com que todo o elenco tenha domínio do espetáculo. Como Grace Passô destaca, foi, primeiro, um processo de imersão no que diz o texto, para depois levar o essencial dele para a cena. “Tem também o papel do espectador, que é fundamental. A peça tem uma dimensão propositiva de acontecer com o público, e não para o público”, afirma Márcio.
"Sou convidada de honra", diz Renata Sorrah
Quando Renata Sorrah fala sobre seu encontro com a Cia. Brasileira, a alegria transparece no tom de voz da atriz. Ela não é nada comedida: “Considero a Cia. Brasileira um dos grupos mais importantes que a gente tem no Brasil. Eles têm uma pesquisa séria”.
A aproximação entre a atriz e a Cia. Brasileira começou há cerca de cinco anos. O primeiro encontro foi durante a temporada de 'Vida' (2010), montagem na qual os paranaenses homenageiam Paulo Leminski. “Alguém tinha me dito que o diretor gostaria que eu lesse um texto. Foi um oxigênio para mim. Começou um encantamento”, lembra Renata.
Ela e integrantes da Cia. Brasileira viajaram para Paris, onde compraram os direitos para encenar no Brasil Esta criança, do dramaturgo e diretor francês Joël Pommerat. O espetáculo estreou em 2012. Desde então, trabalham juntos. “Sou uma convidada de honra”, resume.
A admiração da atriz pelo teatro de grupo vem de longa data. Sua primeira experiência profissional foi no Tuca, o Teatro Universitário Carioca, na década de 1960. “Na época da repressão, era um grupo supermilitante. Depois, nunca mais tive grupo”, conta. Nunca esteve afastada dos palcos, mas sempre trabalhava em produções com o elenco montado especialmente para determinada peça. “Sempre procurando o melhor que eu achava que era importante falar e dizer.”
O encontro com a Cia. Brasileira fez reacender na atriz o espírito de grupo. “Um dos pontos altos de 'Krum' é o elenco”, diz. À mineira Grace Passô, ela rasga elogios. “As duas últimas cenas são com ela. É um prazer sentar e assistir. Vocês têm que ter muito orgulho. Eu me sinto uma atriz privilegiada de estar junto dela.”
Krum
Nesta sexta, às 21h, e sábado, às 18h e às 21h. Grande Teatro Sesc Palladium. Rua Rio de Janeiro, 1.046, (31) 3214-5350. Plateia 1 e Plateia 2 central, R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia), plateia 2 lateral, R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia).