Incontáveis gritos de "bravo!", emitidos a plenos pulmões, e a disposição de uma plateia que lotava o Grande Teatro do Palácio das Artes e, de pé, não dava mostras de querer parar de aplaudi-los fizeram os bailarinos ir e vir diversas vezes até a boca do palco, curvando-se em agradecimento.
Foi com estrondosa aprovação que o público de Belo Horizonte recebeu a temporada de estreia (5/8 a 9/8) dos espetáculos comemorativos dos 40 anos do Grupo Corpo - 'Suíte branca' e 'Dança sinfônica'.
Com música de Samuel Rosa e coreografia de Cassi Abranches, 'Suíte branca' trava seu embate com a gravidade (a lei natural e a que costuma cercar as aspirações humanas). Mais uma vez, a cenografia (Paulo Pederneiras), a luz (Paulo e Gabriel Pederneiras) e o figurino (Freusa Zechmeister) desfrutam da segurança de autores que se permitem a justa medida para fazer brilhar o espetáculo, sem ceder à tentação de chamar demasiada atenção sobre si mesmos.
Na coreografia de Cassi Abranches, há espaço para deleite e brincadeira, mas há também atrito e aspereza. E, sobretudo, há a introdução no vocabulário do Corpo de movimentos fronteiriços com outras linguagens, até então estranhas ao repertório da companhia.
A plateia acolheu com sinais de afeto e apreço o desprendimento com que um grupo com personalidade mais do que reconhecível abraçou a ideia de recomeçar. Mas “a mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir”, como nos lembram Guimarães Rosa e o domínio maduro de talentos que 'Dança sinfônica' exibe.
A trilha de Marco Antônio Guimarães executada pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais extrapola sua (vasta) beleza intrínseca. O resultado desse encontro eleva o som do Corpo a novo patamar.
Na coreografia de Rodrigo Pederneiras, tudo é “porosidade e comunicação”, desde a primeira cena - uma afirmação da ideia de que, quando alguém tem seus pés plantados nas mãos de outro alguém, pode enxergar melhor e mais longe.
A partir daí, sempre ancorada na defesa do encontro como essencial ao crescimento individual, mas sem ignorar a inevitável porção de conflito que há nesse exercício, 'Dança sinfônica' passeia pelos terrenos essenciais da vida, sexo incluído, já que a vida não é vivida apenas no âmbito etéreo das ideias e sentimentos, mas também na materialidade pulsante do corpo.
Em mais de uma entrevista prévia à estreia, Pederneiras deu a entender que teria encontrado em Cassi Abranches a artista ideal para sucedê-lo e deixou subentendida a ideia de sua retirada de cena num futuro próximo. Como seus 60 anos tornam precoce a sugestão de aposentadoria por idade, não parece descabido supor que Pederneiras esteja lidando com a sensação de haver realizado uma síntese definitiva de sua obra.
Foi uma convicção dessa natureza que levou o cineasta João Moreira Salles a anunciar que deixaria de fazer filmes, aos 45 anos, após concluir 'Santiago' (2007), que ele define como longa-síntese de suas reflexões sobre o cinema. Assim como 'Dança sinfônica', 'Santiago' é uma obra de maturidade de um artista invulgar. Mas “natureza da gente não cabe em nenhuma certeza” e alegra ouvir, vindos do Rio de Janeiro, rumores de que João Moreira Salles teria voltado a filmar.
Seja como for, é de se esperar que, junto com os estrepitosos aplausos e os gritos de “bravo!”, Pederneiras tenha ouvido a mensagem daqueles que, ao longo dos últimos 40 anos, aprenderam a amar o Corpo: “Fica, Rodrigo!”.
Foi com estrondosa aprovação que o público de Belo Horizonte recebeu a temporada de estreia (5/8 a 9/8) dos espetáculos comemorativos dos 40 anos do Grupo Corpo - 'Suíte branca' e 'Dança sinfônica'.
Com música de Samuel Rosa e coreografia de Cassi Abranches, 'Suíte branca' trava seu embate com a gravidade (a lei natural e a que costuma cercar as aspirações humanas). Mais uma vez, a cenografia (Paulo Pederneiras), a luz (Paulo e Gabriel Pederneiras) e o figurino (Freusa Zechmeister) desfrutam da segurança de autores que se permitem a justa medida para fazer brilhar o espetáculo, sem ceder à tentação de chamar demasiada atenção sobre si mesmos.
Na coreografia de Cassi Abranches, há espaço para deleite e brincadeira, mas há também atrito e aspereza. E, sobretudo, há a introdução no vocabulário do Corpo de movimentos fronteiriços com outras linguagens, até então estranhas ao repertório da companhia.
A plateia acolheu com sinais de afeto e apreço o desprendimento com que um grupo com personalidade mais do que reconhecível abraçou a ideia de recomeçar. Mas “a mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir”, como nos lembram Guimarães Rosa e o domínio maduro de talentos que 'Dança sinfônica' exibe.
A trilha de Marco Antônio Guimarães executada pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais extrapola sua (vasta) beleza intrínseca. O resultado desse encontro eleva o som do Corpo a novo patamar.
Na coreografia de Rodrigo Pederneiras, tudo é “porosidade e comunicação”, desde a primeira cena - uma afirmação da ideia de que, quando alguém tem seus pés plantados nas mãos de outro alguém, pode enxergar melhor e mais longe.
A partir daí, sempre ancorada na defesa do encontro como essencial ao crescimento individual, mas sem ignorar a inevitável porção de conflito que há nesse exercício, 'Dança sinfônica' passeia pelos terrenos essenciais da vida, sexo incluído, já que a vida não é vivida apenas no âmbito etéreo das ideias e sentimentos, mas também na materialidade pulsante do corpo.
Em mais de uma entrevista prévia à estreia, Pederneiras deu a entender que teria encontrado em Cassi Abranches a artista ideal para sucedê-lo e deixou subentendida a ideia de sua retirada de cena num futuro próximo. Como seus 60 anos tornam precoce a sugestão de aposentadoria por idade, não parece descabido supor que Pederneiras esteja lidando com a sensação de haver realizado uma síntese definitiva de sua obra.
Foi uma convicção dessa natureza que levou o cineasta João Moreira Salles a anunciar que deixaria de fazer filmes, aos 45 anos, após concluir 'Santiago' (2007), que ele define como longa-síntese de suas reflexões sobre o cinema. Assim como 'Dança sinfônica', 'Santiago' é uma obra de maturidade de um artista invulgar. Mas “natureza da gente não cabe em nenhuma certeza” e alegra ouvir, vindos do Rio de Janeiro, rumores de que João Moreira Salles teria voltado a filmar.
Seja como for, é de se esperar que, junto com os estrepitosos aplausos e os gritos de “bravo!”, Pederneiras tenha ouvido a mensagem daqueles que, ao longo dos últimos 40 anos, aprenderam a amar o Corpo: “Fica, Rodrigo!”.