Fotógrafos que exploram imagens em série ganham mostra em BH

Exposição coletiva 'Gestos, relatos, escritas e autoficções' reúne conjuntos (e não imagens únicas) sobre determinados temas; para curador, narrativa fica entre a ficção e o documentário

por Walter Sebastião 29/07/2015 00:13

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Octavio Cardoso/Divulgação
Imagens do paraense Octavio Cardoso: uso de várias fotos pode apresentar ideia ou situação (foto: Octavio Cardoso/Divulgação)
“A fotografia é também um gesto. A decisão de documentar, de fazer relato com imagens de uma experiência, de representar o real de forma subjetiva, de contar uma história são gestos”, afirma Mariano Klautal. Isso, afirma o curador, faz parte da história da fotografia desde que ela surgiu. Klautal, que é também pesquisador,  assina a curadoria da mostra Gestos, relatos, escritas e autoficções, que será aberta nesta quarta-feira, 29, na CâmeraSete – Casa de Fotografia de Minas Gerais. Trata-se de uma coletiva com trabalhos de artistas de várias gerações – todos eles  trabalham com conjuntos de imagens.

O uso de várias imagens para apresentar uma ideia ou situação, para Klautal, remete ao desejo de apresentar um motivo de forma complexa. “Não se trata de eleger uma única bela imagem, mas considerações sobre um sentido mais amplo, que vai surgindo a partir do momento em que você relaciona uma imagem com as outras”, analisa. “O artista que usa a fotografia começou a perceber na imagem fotográfica uma vocação para expandir significados, está dando mais atenção a algo que sempre foi da fotografia: o contar uma história. Não é narrativa com começo, meio e fim, mas algo diferente, menos linear”, pondera.

Nas imagens reunidas na exposição, aponta o curador, estão o relato de situações que misturam os mais diversos tons narrativos. André Penteado, por exemplo, mostra um conjunto de fotos de objetos que pertenceram a pessoas já mortas, num trabalho emocional, mas com imagens que remetem ao documental. Ionaldo Rodrigues, por sua vez, faz relato de restos de construções ou de reformas, mas que, pelo modo como são vistos, dão a dimensão do afeto do fotógrafo por uma cidade que está se apagando. “Podem-se ver as obras como uma visão da realidade, mas também como uma maneira de contar uma história de forma intimista”, diz Klautal.
Luiz Braga/Divulgação
'Ferro de passar' e 'Máquina', do paraense Luiz Braga (foto: Luiz Braga/Divulgação)
DIÁLOGO  
“A fotografia não é documentação nem é predominantemente ficção, ela se alimenta desses campos o tempo todo”, acrescenta Klautal. O título da exposição, diz ele, elenca palavras de modo que uma amplie o sentido da outra. Segundo o curador, há em todas as obras o balanço entre tons, referências, pontos de vistas etc. Como diálogo (“um encontro”) com várias ciências (antropologia, arqueologia, sociologia etc.), aspecto, observa, que também sempre esteve historicamente relacionado à fotografia. “O artista que atua hoje começa a perceber que a arte é um processo de conhecimento e não se isola da pesquisa objetiva sobre o mundo”, argumenta.

Mariano Klautal é coordenador do Projeto Diário Contemporâneo de Fotografia, de Belém, edital aberto a artistas de todo o Brasil, que resulta em várias atividades, entre elas duas exposições por ano.

 

Ele diz que tem sido prazeroso nessa atividade observar nos trabalhos a relação entre arte e ciência, o documental se tornando mais subjetivo, “o artista mais jovem com a mesma vontade de experimentar de quem já tem carreira estabelecida”, a expansão de suportes (o uso da foto e de vídeos juntos). “São artistas que estão fazendo trabalhos que podem ser olhados de várias maneiras a partir dos mais diversos campos do conhecimento.”

Na opinião do curador, o que dá força à fotografia brasileira (e impulsiona seu crescimento nas últimas décadas) é a existência de núcleos, com perfis diferentes, atuando nas diversas regiões do Brasil. O que, avalia, torna a diversidade natural do Brasil ainda mais rica. Outro elemento que faz a arte (“e não só a fotografia”) atravessar nas últimas décadas um bom momento é a existência de vários circuitos de exibição (dos comerciais aos acadêmicos, passando por ações independentes).

A mostra Gestos, relatos, escritas e autoficções reserva uma mesa para trabalhos que usam o livro como suporte. Serão mostrados volumes de todos os tipos: produção industrial, tiragens limitadas, protótipos etc.

Gestos, relatos, escritas e autoficções
Exposição de fotos, vídeos e livros, com curadoria de Mariano Klautal. Obras de Amanda Amaral (SP), Cyro Almeida (MG), Ionaldo Rodrigues (PA), José Diniz (RJ), Luiz Braga (PA), Mateus Sá (PE), Milla Jung (PR), Octavio Cardoso (PA), Raquel Diniz (SP), Yukie Hori (SP), André Penteado (SP), Edu Monteiro (RJ), Letícia Lampert (RS), Walda Marques (PA), Fernanda Grigolin (SP), Ivan Padovani (SP), Gouveia Santos (SP). Abertura hoje, na  CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais, Av. Afonso Pena, 737, Centro, (31) 3236-7400. De terça a sábado, das 9h30 às 21h. Até 12 de setembro.

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