Não que o músico admita muitos erros além da tradicional ida ao inferno por conta do álcool, tão comum no meio artístico. Mas as boas histórias de uma das mais importantes bandas do século 20, contadas por quem as protagonizou ou foi testemunha, valem a leitura do catatau – são 438 páginas e nenhuma foto, a não ser na capa e contracapa.
Se a história da banda nova-iorquina criadora do estilo cru e contestador já é conhecida de outras publicações, bem como a do próprio movimento punk, desta vez há algumas novidades. Estão lá os bastidores das gravações de alguns dos discos dos Ramones, como Road to ruin e End of the century, e o dia a dia das turnês pelos EUA, Europa e América do Sul, muitas vezes dentro de uma van apertada, com regras rígidas e lugares marcados, imposições do “ditador” Johnny Ramone. Os demais companheiros de banda também merecem críticas, seja por não tomar banho e ser portador de TOC (caso de Joey Ramone), seja pelo consumo excessivo de drogas ou pelas atitudes intempestivas (caso de Dee Dee Ramone) – o baixista, aliás, é responsável por algumas das melhores passagens do livro.
O grande pecado da publicação é justamente tentar mostrar Marky como um cara equilibrado tentando dar alguma ordem ao caos ao seu redor. O menino nascido e (mal) criado no Brooklin era um delinquente em potencial. Mas, ao crescer, enquanto os demais são babacas uns com os outros, ele se dá bem com todo mundo, procura entender e relevar os defeitos de cada um, fica longe de confusões e é capaz de jogar dinheiro pela janela só para ver um bando de engravatados de Wall Street se rebaixando para pegá-lo. Se os amigos não respeitam as namoradas, ele está com a mesma mulher desde a adolescência. Se a maioria foi fundo nas drogas, ele só gostava de beber e fumar um baseado de vez em quando. Coisas como comer ração de cachorro e trabalhar de bike boy só reforçam a imagem de bom moço punk, que não nega ser capitalista, mas faz questão de se mostrar “de esquerda”.
Infelizmente, na tradução alguns trocadilhos envolvendo nomes de álbuns e músicas se perdem. Mas mesmo assim é possível ver que estão bem colocados e ajudam a tornar a leitura muito divertida. Sugiro ao leitor: ouça algumas canções dos Ramones enquanto lê. Impossível não ficar com hey, ho, let’s go e gabba,
gabba, hey na cabeça.
z MINHA VIDA COMO UM RAMONE
De Marky Ramone
Editora Planeta
448 páginas, R$ 54,90
PARA OUVIR
l Richard Hell & The Voidoids
Blank generation
l Ramones – Road to ruin, End of the
century, Loco live, Brain drain
e Mondo bizarro
l Marky Ramone & The Intruders
Don’t blame me