Em agosto, a empresa responsável por gerenciar a obra de Ariano Suassuna, Agência Riff, vai se reunir com a família do autor para definir detalhes a respeito da publicação de O jumento sedutor, livro inédito, a ser lançado postumamente pela editora José Olympio.
Ariano trabalhava na obra há mais de 30 anos e considerava o trabalho mais importante da carreira, cujas páginas reúne romance, teatro e poema, além de ilustrações feitas por ele mesmo. "Como queremos fazer um livro bonito, de arte, estamos conversando com editores para ver quais são as possibilidades", esclarece Dantas. Ainda não há previsão para o lançamento.
Para Carlos Newton Júnior, pesquisador especialista na obra de Ariano Suassuna, não se trata de um livro simples, e sim para poucos leitores, assim como Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. "Só mergulha nesse universo o leitor mais maduro. Este é um livro para leitores de Ariano".
Enxertados no livro mais recente, frisa Carlos Newton Júnior, estão vários poemas escritos pelo dramaturgo há muitos anos. Essa é uma das explicações para a ausência de obras de poesia na bibliografia do dramaturgo. "Ele postergou a publicação desses textos porque estava incluindo nessa última, que é toda em diálogos, com os personagens declamando". A orelha do livro foi escrita por Raimundo Carreiro, que se disse honrado com a tarefa.
Leia, abaixo, o texto enviado por Carrero à editora:
"Este livro é uma Revelação, assim mesmo com letra maiúscula e tudo, para ressaltar a questão reliogiosa-teológica, assim como histórico-literária; porque não é uma Odisséia nem uma Epopéia, no sentido de contar a história de um povo, com suas lutas e seus feitos heróicos; porque não é uma novela, com tudo de maravilhoso que se espera de um texto assim; como não é também um romance, por aquilo que supera em muitos pontos o que se diz numa obra de ficção, com os seres transtornados, felizes e as almas sacrificadas.
É mesmo uma Revelação ao trazer à luz o espírito vivo, mágico e grandioso do verdadeiro Brasil, a iluminar e esclarecer nossa formação inquieta e revolucionária, e ao desvendar, em estilo ou estilos que se consagram pela luminosa interpretação da cor, da raça e do sangue do brasileiro, seus amores, suas intrigas, e suas aventuras e, ainda mais, oferecendo-lhe um caminho e um destino como fizeram Dostoievski e Tólstói da Rússia, ou com Cervantes já fizera antes com a terra áspera e montanhosa da Espanha, transformada em Grande Teatro do Percy Lubock diz que Tólstoi escreveu Guerra e Paz com as duas mãos. Enquanto a esquerda escrevia a Epopéia russa, a direita redigia um romance. Ariano Suassuna, porém, escreve este livro com as duas mãos, o coração, a mente, os nervos e o sangue, dando-lhe a dimensão de notável obra-prima, dessas capazes de iluminar não apenas personagens e situações, mas de revelar os caminhos de um povo traça para formar a sua grandiosidade e sua força; por isso, está muito acima do que comumente se escreve neste e noutros países. Aqui, a literatura de ficção vai além daquilo que se convencionou chamar de textos literários, pelo menos no sentido que nós conhecemos. Personagens, por exemplo, não são apena metáforas e símbolos, assumem a dimensão de Mitos e se revelam e se transformam durante todo o livro.
O leitor que se prepare para ter visões deste Brasil que se levanta aqui e que, por razões óbvias, ainda não se dera totalmente a conhecer, mesmo em obras fundamentas como Os sertões, de Euclides da Cunha, ou Grande Sertão-Veredas, de Guimarães Rosa. Estruturado em canas teatrais, Repentes, Epístolas, cantares e cordel, o Livro se apresenta como um espetáculo de circo, ao mesmo tempo popular e erudito, com muitas variações e exibições que desafiam, grandemente o espectador. Porque aqui o leitor não é apenas um leitor, é muito mais do que isso, é leitor, participante e espectador, no que revoluciona toda a prosa brasileira, desde seus textos mais tradicionais e conservadores, passando pelas vanguardas, até o caminho pronto, a nos indicar o verdadeiro e definitivo destino da ficção nacional.
Então, o espectador, participante ou leitor, que se prepare para acompanhar as páginas que vão se agigantar revelando – para seguir a Revelação -, numa plena realização Estética, Social Religiosa e Profana, tudo isso que reunido forma a prosa literária e que é atributo dos escritores guiados pelo Espírito e pelo Sangue e não apenas pela caneta e pelo papel, como se dizia antigamente."
Raimundo Carrero, escritor