A mostra Sara Ávila – Norturnos, em cartaz na galeria de arte da Escola Guignard da Uemg, teve seu tempo de exposição prorrogado até 7 de agosto. Nove pinturas e um painel inédito compõem Noturnos, em que a artista se debruça sobre o tema da cidade de Belo Horizonte. O trabalho inédito é um painel composto por oito telas, que formam uma grande pintura com 3m x 15m. São obras realizadas nos anos 1990, da última fase da pintora. A primeira imagem, suspeita a curadora Cláudia Renault, foi a gravura realizada para o poema Noturno, de Mario de Andrade, que integra um álbum que reúne escritores e artistas plásticos mineiros.
Sara Ávila (1932-2013) foi aluna da primeira turma de Alberto da Veiga Guignard (1896-1962). Integra grupo de artistas (como Maria Helena Andrés e Amilcar de Castro) que, a partir dos ensinamentos do mestre, radicalizou linguagem muito pessoal, construindo obra que, sendo moderna, também cria passagens para a arte contemporânea. No caso de Sara Ávila, o trabalho apresenta uma visualidade orgânica, fruto de décadas de pesquisas, criando pinturas de enorme contundência poética. Como professora, marcou uma geração inteira de artistas. Realizou exposições não só no Brasil, mas no exterior, inclusive com Grupo Phases, movimento internacional de arte vinculado ao surrealismo.
O painel Noturno, conta Cláudia Renault, foi pintado no auditório da Escola Guignard e levou meses para ser realizado, tendo Sara Ávila muitas vezes ficado sozinha no local trabalhando. Parte da obra foi mostrada no hall do Cine Belas Artes, mas, inteira, até agora, nunca tinha sido exposta. “É obra de fôlego, de grande impacto, uma única gigantesca tela apesar de ter sido realizada em partes”, conta. A curadora acredita que a imagem carregue visão de Belo Horizonte a partir do Bairro Belvedere, onde a artista foi morar depois de se mudar da Savassi. “O que ela viu da janela da casa descortinou coisas novas na pintura dela”, acrescenta.
“É uma obra-prima”, afirma Sônia Gomes. “Pela força, beleza, dimensão. Acho incrível pintura deste tamanho sem perder a perspectiva, a qualidade, as cores e luz”, acrescenta. Ela foi aluna da pintora, a quem considera professora especial. “Ela nos fazia descobrir matérias, técnicas, o nosso potencial como artista”, recorda, contando que se lembra da mestra em tudo que faz. “Foi professora que respeitava o ritmo do aluno”, observa. Lembra-se que, após o relaxamento que abria as aulas, certa vez, um estudante dormiu. “E ela respeitou, sabia que era necessidade dele”, observa.
A professora afável, continua Sônia Gomes, era também exigente. Até porque era parte da didática dela comentar em aula cada um dos trabalhos realizados. “Então aprendíamos também vendo o que os colegas tinham feito, o que sempre achei excepcional”, explica.
DIDÁTICA
Sara Ávila dava aula de desenho e criatividade. Esta última, conta Cláudia Renault, outra aluna da pintora, era voltada para o desenvolvimento da percepção. A aula implicava em várias atividades (e ganhavam sempre inovações), como ir ao Parque Municipal e ficar observando o local. “Interiorizar, apreender o que se queria fazer, para Sara, ajuda a criar um trabalho que não é cópia de nada”, relata.
Outra atividade durante as aulas de criatividade, conta Renault, era tatear, de olhos vendados, objetos e materiais. Posteriormente, eles eram usados para criar um trabalho. “Valia tudo só não valia desenho de observação. Surgiam as coisas mais incríveis”, recorda. “Para Sara Ávila, não existe material nobre para fazer arte. Nobre, na opinião dela, é a criação, a vivência. Material podia ser qualquer um”, analisa.
Além de aluna, Claúdia Renault foi amiga de Sara Ávila e a obra da professora acabou se tornando tema do doutorado realizado em Lisboa. A iniciação das aulas pelo relaxamento, com os alunos deitados no chão, praticado por Sara Ávila, marcou a aluna que, hoje, também usa o método em suas próprias aulas. “É muito importante, especialmente para os alunos que estudam à noite, pois permite se desligar do mundo, dos problemas do dia a dia, para começar a criar. Sara Ávila foi diretora da Escola Guignard e presidente do Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais.
Sara Ávila – Noturnos
Galeria da Escola Guignard da Uemg, Rua Ascânio Burlamarque, 540, Mangabeiras, (31) 3194-9300. De segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 21h. Até 7 de agosto. Entrada franca.
Sara Ávila (1932-2013) foi aluna da primeira turma de Alberto da Veiga Guignard (1896-1962). Integra grupo de artistas (como Maria Helena Andrés e Amilcar de Castro) que, a partir dos ensinamentos do mestre, radicalizou linguagem muito pessoal, construindo obra que, sendo moderna, também cria passagens para a arte contemporânea. No caso de Sara Ávila, o trabalho apresenta uma visualidade orgânica, fruto de décadas de pesquisas, criando pinturas de enorme contundência poética. Como professora, marcou uma geração inteira de artistas. Realizou exposições não só no Brasil, mas no exterior, inclusive com Grupo Phases, movimento internacional de arte vinculado ao surrealismo.
O painel Noturno, conta Cláudia Renault, foi pintado no auditório da Escola Guignard e levou meses para ser realizado, tendo Sara Ávila muitas vezes ficado sozinha no local trabalhando. Parte da obra foi mostrada no hall do Cine Belas Artes, mas, inteira, até agora, nunca tinha sido exposta. “É obra de fôlego, de grande impacto, uma única gigantesca tela apesar de ter sido realizada em partes”, conta. A curadora acredita que a imagem carregue visão de Belo Horizonte a partir do Bairro Belvedere, onde a artista foi morar depois de se mudar da Savassi. “O que ela viu da janela da casa descortinou coisas novas na pintura dela”, acrescenta.
“É uma obra-prima”, afirma Sônia Gomes. “Pela força, beleza, dimensão. Acho incrível pintura deste tamanho sem perder a perspectiva, a qualidade, as cores e luz”, acrescenta. Ela foi aluna da pintora, a quem considera professora especial. “Ela nos fazia descobrir matérias, técnicas, o nosso potencial como artista”, recorda, contando que se lembra da mestra em tudo que faz. “Foi professora que respeitava o ritmo do aluno”, observa. Lembra-se que, após o relaxamento que abria as aulas, certa vez, um estudante dormiu. “E ela respeitou, sabia que era necessidade dele”, observa.
A professora afável, continua Sônia Gomes, era também exigente. Até porque era parte da didática dela comentar em aula cada um dos trabalhos realizados. “Então aprendíamos também vendo o que os colegas tinham feito, o que sempre achei excepcional”, explica.
DIDÁTICA
Sara Ávila dava aula de desenho e criatividade. Esta última, conta Cláudia Renault, outra aluna da pintora, era voltada para o desenvolvimento da percepção. A aula implicava em várias atividades (e ganhavam sempre inovações), como ir ao Parque Municipal e ficar observando o local. “Interiorizar, apreender o que se queria fazer, para Sara, ajuda a criar um trabalho que não é cópia de nada”, relata.
Outra atividade durante as aulas de criatividade, conta Renault, era tatear, de olhos vendados, objetos e materiais. Posteriormente, eles eram usados para criar um trabalho. “Valia tudo só não valia desenho de observação. Surgiam as coisas mais incríveis”, recorda. “Para Sara Ávila, não existe material nobre para fazer arte. Nobre, na opinião dela, é a criação, a vivência. Material podia ser qualquer um”, analisa.
Além de aluna, Claúdia Renault foi amiga de Sara Ávila e a obra da professora acabou se tornando tema do doutorado realizado em Lisboa. A iniciação das aulas pelo relaxamento, com os alunos deitados no chão, praticado por Sara Ávila, marcou a aluna que, hoje, também usa o método em suas próprias aulas. “É muito importante, especialmente para os alunos que estudam à noite, pois permite se desligar do mundo, dos problemas do dia a dia, para começar a criar. Sara Ávila foi diretora da Escola Guignard e presidente do Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais.
Sara Ávila – Noturnos
Galeria da Escola Guignard da Uemg, Rua Ascânio Burlamarque, 540, Mangabeiras, (31) 3194-9300. De segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 21h. Até 7 de agosto. Entrada franca.