“É recorrente o fato de que o Brasil não consegue reconhecer nos povos indígenas a sua raiz profunda. Aprendemos que, no século 18, os negros, os índios e os brancos formaram o Brasil. Fecha a cortina. E os índios somem. Passei minha vida inteira gritando contra esta situação.” São palavras do mineiro Ailton Krenak, de 61 anos, uma das principais lideranças brasileiras na luta pelos direitos dos indígenas.
Um livro que reúne entrevistas de Ailton Krenak, concedidas no período 1984-2013, será lançado hoje, às 19h30, no Museu das Minas e do Metal. Parte da série Encontros (Azougue Editorial), o volume é organizado por Sérgio Cohn e traz também o discurso de Krenak no Congresso Nacional, em 1987, que influenciou a garantia de direitos indígenas pela Constituição de 1988. Nesse ano, Krenak participou da criação da União das Nações Indígenas (UNI), fórum intertribal interessado em estabelecer uma representação do movimento indígena em nível nacional, assim como do movimento Aliança dos Povos da Floresta, que reunia povos indígenas e seringueiros em torno da proposta da criação das reservas extrativistas. Ele vive e trabalha em Minas Gerais, atuando na ONG Núcleo de Cultura Indígena. A mais recente criação de Krenak é a mostra de cinema Aldeia, que ocorre em São Paulo.
“O problema da nossa causa é que ela não tem uma solução definitiva. Você tem que, o tempo todo, lutar pelos nossos direitos, porque eles são constantemente golpeados. Quando o ataque não vem do Estado, parte do agronegócio. Apanhamos da esquerda e da direita”, afirma Krenak. “Em uma década de governo Lula/Dilma foram assassinadas 253 lideranças indígenas”, cita. “Continuamos resistindo, mas também morrendo como abelhas. E duas centenas de pessoas mortas não é notícia”, lamenta. “Notícia é cantor que bate o carro e morre”, diz. “Queremos o que está na Constituição e deveria ter sido feito até 1993: a demarcação de nossas terras.”
O líder indígena até reconhece que houve avanços: “Alguma coisa na área de educação, criação de mais infraestrutura nos territórios indígenas, vagas na universidade, reconhecimento da diversidade cultural”, enumera. “Mas são coisas que apenas mitigam o nosso drama”, avalia. Por isso, as populações indígenas têm recorrido à Organização dos Estados Americanos (OEA), pedindo pressão internacional para que seus direitos sejam reconhecidos.
PERFIL Ailton Krenak nasceu no Vale do Rio Doce (MG). Aos 17 anos, migrou com seus parentes para o estado do Paraná. Alfabetizou-se aos 18 anos, tornando-se, a seguir, produtor gráfico e jornalista. Nos anos 1970, frequenta encontros e assembleias promovidos pela Pastoral Indígena. A admiração pela atividade da geração anterior à sua (Mário Juruna, Angelo Cretã, Marçal de Souza, Daniel Cabixi, Marcos Terena, entre outros), o leva a se tornar ativista a partir de 1980. Não só cria o primeiro jornal indígena, em 1983, como também, na rádio (que continua existindo atualmente na web) o 'Programa de índio', com reportagens, denúncia e música.
Um livro que reúne entrevistas de Ailton Krenak, concedidas no período 1984-2013, será lançado hoje, às 19h30, no Museu das Minas e do Metal. Parte da série Encontros (Azougue Editorial), o volume é organizado por Sérgio Cohn e traz também o discurso de Krenak no Congresso Nacional, em 1987, que influenciou a garantia de direitos indígenas pela Constituição de 1988. Nesse ano, Krenak participou da criação da União das Nações Indígenas (UNI), fórum intertribal interessado em estabelecer uma representação do movimento indígena em nível nacional, assim como do movimento Aliança dos Povos da Floresta, que reunia povos indígenas e seringueiros em torno da proposta da criação das reservas extrativistas. Ele vive e trabalha em Minas Gerais, atuando na ONG Núcleo de Cultura Indígena. A mais recente criação de Krenak é a mostra de cinema Aldeia, que ocorre em São Paulo.
“O problema da nossa causa é que ela não tem uma solução definitiva. Você tem que, o tempo todo, lutar pelos nossos direitos, porque eles são constantemente golpeados. Quando o ataque não vem do Estado, parte do agronegócio. Apanhamos da esquerda e da direita”, afirma Krenak. “Em uma década de governo Lula/Dilma foram assassinadas 253 lideranças indígenas”, cita. “Continuamos resistindo, mas também morrendo como abelhas. E duas centenas de pessoas mortas não é notícia”, lamenta. “Notícia é cantor que bate o carro e morre”, diz. “Queremos o que está na Constituição e deveria ter sido feito até 1993: a demarcação de nossas terras.”
O líder indígena até reconhece que houve avanços: “Alguma coisa na área de educação, criação de mais infraestrutura nos territórios indígenas, vagas na universidade, reconhecimento da diversidade cultural”, enumera. “Mas são coisas que apenas mitigam o nosso drama”, avalia. Por isso, as populações indígenas têm recorrido à Organização dos Estados Americanos (OEA), pedindo pressão internacional para que seus direitos sejam reconhecidos.
PERFIL Ailton Krenak nasceu no Vale do Rio Doce (MG). Aos 17 anos, migrou com seus parentes para o estado do Paraná. Alfabetizou-se aos 18 anos, tornando-se, a seguir, produtor gráfico e jornalista. Nos anos 1970, frequenta encontros e assembleias promovidos pela Pastoral Indígena. A admiração pela atividade da geração anterior à sua (Mário Juruna, Angelo Cretã, Marçal de Souza, Daniel Cabixi, Marcos Terena, entre outros), o leva a se tornar ativista a partir de 1980. Não só cria o primeiro jornal indígena, em 1983, como também, na rádio (que continua existindo atualmente na web) o 'Programa de índio', com reportagens, denúncia e música.
O momento mais dramático, recorda Krenak, foi ter “arma apontada para a cabeça da gente”, nos anos 1980 e 1990, durante ação de retomada das terras dos xavantes e dos guaranis no Mato Grosso do Sul. “O mais feliz foi receber, em 2005, o Prêmio Nacional dos Direitos Humanos, concedido pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos. É um reconhecimento pelo que fiz e continuo fazendo”, observa. O jeito tranquilo, bem-humorado, tem explicação: “Ninguém nunca viu Nelson Mandela xingando. Inspiro-me em gente um pouco melhor do que nós.”
Ailton Krenak, nos últimos anos, vem valorizando a arte. Criou um festival de dança e cultura na Serra do Cipó e idealizou a mostra de cinema dedicada às produções indígenas chamada Aldeia. “Arte é linguagem universal, dispensa os outros discursos. Por falar com o coração, facilita o entendimento de muitos aspectos da nossa vida”, justifica.
Encontros – Ailton Krenak
Lançamento do livro organizado por Sérgio Cohn – Nesta terça, às 19h30. Museu das Minas e do Metal (Praça da Liberdade). Entrada franca. Informações: (31) 3261.1501 e no site do Sempre um papo.